Haikai
Haikai

Hei de ir lá ter hoje.
É amanhã que as ameixeiras
espalham as flores.

**********

Canta um rouxinol
que me traz de volta ao dia.
A manhã fulgura.

**********

Tenho um só desejo:
sob a flor da cerejeira
dormir uma noite.

**********

A aldeia no monte.
E totalmente a engolem
as rãs que coaxam.

**********

Primeira garoa
do outono. Que deliciosa
montanha sem nome!

**********

Passou o ladrão
e esqueceu roubar essa
lua da janela

**********

Agulhas de pino
atrás da porta fechada.
Sinto-me tão só...

**********

Estão a chamar-me,
voltando de noite a casa,
os gansos selvagens

**********

É o meu corpo velho
como este bambu enterrado
na neve fria.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA.

(Ryôkan)

Três poemas de amor e nostalgia
Três poemas de amor e nostalgia

Nem de dia nem de noite consigo esquecer-te
e afundo-me na nostalgia desta cama vazia e escura.
Sonho que nos damos as mãos e trocamos palavras de amor,
mas o sino da aurora arranca-me o coração, fazendo em cacos o meu sonho.

* * *

Mulheres, flores que floram e logo se esvaecem;
caras de flores, cheias de rubor, adoráveis como sonhos.
Quando as flores desabrocham, rebentam com força e paixão,
mas depois de caídas, já ninguém volta a falar nelas.

* * *

Mesmo se eu fosse um Deus ou Buda, ter-te-ia na mente.
Sento-me sob a lâmpada: um monge raquítico a entoar canções de amor.
A força do vento de outono quase me faz voar
e o meu coração engasgou-se com as nuvens grossas.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Wild Ways, White Pine Press, 2003, USA.

(Ikkyu Sojun)