Hei de ir lá ter hoje.
É amanhã que as ameixeiras
espalham as flores.
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Canta um rouxinol
que me traz de volta ao dia.
A manhã fulgura.
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Tenho um só desejo:
sob a flor da cerejeira
dormir uma noite.
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A aldeia no monte.
E totalmente a engolem
as rãs que coaxam.
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Primeira garoa
do outono. Que deliciosa
montanha sem nome!
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Passou o ladrão
e esqueceu roubar essa
lua da janela
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Agulhas de pino
atrás da porta fechada.
Sinto-me tão só...
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Estão a chamar-me,
voltando de noite a casa,
os gansos selvagens
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É o meu corpo velho
como este bambu enterrado
na neve fria.
(Ryôkan)
Nem de dia nem de noite consigo esquecer-te
e afundo-me na nostalgia desta cama vazia e escura.
Sonho que nos damos as mãos e trocamos palavras de amor,
mas o sino da aurora arranca-me o coração, fazendo em cacos o meu sonho.
Mulheres, flores que floram e logo se esvaecem;
caras de flores, cheias de rubor, adoráveis como sonhos.
Quando as flores desabrocham, rebentam com força e paixão,
mas depois de caídas, já ninguém volta a falar nelas.
Mesmo se eu fosse um Deus ou Buda, ter-te-ia na mente.
Sento-me sob a lâmpada: um monge raquítico a entoar canções de amor.
A força do vento de outono quase me faz voar
e o meu coração engasgou-se com as nuvens grossas.
(Ikkyu Sojun)