Ao longo da sebe alguns ramos de crisântemos doirados.
Corvos de inverno pairam por cima do bosque espesso.
Mil picos fulguram brilhantes ao pôr do sol,
e este monge volta a casa com a tigela cheia.
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Hoje não houve sorte nas minhas saídas mendicantes.
De vila em vila, só consegui arrastar-me.
Ao pôr do sol, milhares de montanhas entre mim e a minha cabana.
O vento frio rasga o meu corpo débil,
e a minha minúscula tigela parece tão abandonada!
Mas este é o caminho que escolhi e que me guia
pela desilusão e a dor, o frio e a fome.
(Ryôkan)
Chuva na primavera,
dilúvios no verão,
e um outono seco:
será que a natureza nos sorri
e todos poderemos compartir o seu prémio?
Por favor não me confundas
com um passarinho
quando me atiro ao teu jardim
para comer as maçãs.
Fui lá para mendigar
um pouco de arroz,
mas o agasalho florido dos arbustos
por cima das rochas
fez-me esquecer a razão.
(Ryôkan)
Cedo, o primeiro dia de agosto,
pego na minha cunca e dirijo-me à vila.
Nuvens de prata acompanham os meus passos,
uma brisa de ouro acaricia o sino do meu bastão.
Dez mil portas, mil cidades abertas para mim.
Deleito os meus olhos em bosques de bambu e bananeiras.
Mendigo cá e lá, ao leste e ao oeste,
parando também em lojas de saké e peixarias.
Uma olhada honesta pode desarmar uma montanha de espadas;
um passo calmo pode deslizar por cima do lume do inferno.
Esta foi a mensagem do Rei dos Mendigos
ensinada aos seus principais discípulos há por volta de vinte e sete séculos.
E eu ainda me comporto como um descendente de Buda!
Um tipo sábio disse uma vez há tempo:
'Quanto à comida, tudo é igual perante a Lei de Buda'.
Mantém essas palavras na cabeça
passem as eras que passarem.
(Ryôkan)