Ao meu professor
Ao meu professor

Uma velha sepultura esquecida aos pés de uma colina deserta
coberta de erva daninha que foi crescendo ano após ano, sem ninguém cuidar dela;
não há mais ninguém para atender a tumba
e só ocasionalmente um lenhador passa por perto.
Em tempos fui o seu aluno, um jovem de cabelos desgrenhados,
e aprendi profundamente dele ao pé do Rio Estreito.
Uma manhã parti na minha viagem solitária,
e em silêncio passaram os anos entre nós.
Agora voltei para encontrá-lo aqui no seu descanso.
Como poderia eu honrar o seu espírito ido?
Verto um merlo de água pura sobre a sua lápide
e ofereço uma oração silenciosa.
O sol desaparece súbito por trás da colina
e sou envolvido pelo rugido do vento entre os pinos.
Tento tirar-me dali mas não consigo:
um fluxo de lágrimas ensopa as minhas mangas.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA.

(Ryôkan)

Esqueletos
Esqueletos

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Honorável da Floresta
Honorável da Floresta

Criei um pequeno pardal que amava profundamente. Um dia morreu subitamente e, atingido pela tristeza, decidi fazer um funeral ao meu pequeno companheiro, mesmo como se fosse um ser humano. Ao princípio chamei-o de Discípulo Pardal mas, mais ou menos quando morreu, decidi mudar-lhe o nome para Buda Pardal. Finalmente, dei-lhe o título budista póstumo de 'Honorável da Floresta'. Compus este poema em sua memória.

Um corpo de dezasseis pés de púrpura e dourado
jaz entre as árvores gémeas do Nirvana.
Agora libertado da falsidade, além da vida e da morte,
porém presente em mil montanhas, dez mil árvores, centos de primaveras.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Wild Ways, White Pine Press, 2003, USA. Ilustração: Keisai Kuwagata (1764-1824)

(Ikkyu Sojun)

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