Hei de ir lá ter hoje.
É amanhã que as ameixeiras
espalham as flores.
**********
Canta um rouxinol
que me traz de volta ao dia.
A manhã fulgura.
**********
Tenho um só desejo:
sob a flor da cerejeira
dormir uma noite.
**********
A aldeia no monte.
E totalmente a engolem
as rãs que coaxam.
**********
Primeira garoa
do outono. Que deliciosa
montanha sem nome!
**********
Passou o ladrão
e esqueceu roubar essa
lua da janela
**********
Agulhas de pino
atrás da porta fechada.
Sinto-me tão só...
**********
Estão a chamar-me,
voltando de noite a casa,
os gansos selvagens
**********
É o meu corpo velho
como este bambu enterrado
na neve fria.
(Ryôkan)
A misturar-se com o vento
a neve cai;
a misturar-se com a neve
o vento sopra.
Junto à lareira
estico as pernas
deixando passar o tempo
confinado nesta cabana.
A contar os dias
reparo que também fevereiro
chegou e foi-se
como um sonho.
(Ryôkan)
Em silêncio, pelas cimeiras solitárias,
contemplo lá fora, com tristeza, o granizo que cai.
O grito dum macaco ecoa pelas colinas escuras,
um riacho frio murmura lá em baixo,
e a luz na janela parece solidamente gelada.
A minha pedra para a tinta também está fria como o gelo.
Hoje não vou dormir, escreverei poemas
aquecendo o pincel com o meu alento.
-------
Uma noite de novembro amargamente fria,
a neve caiu densa e rápida -
primeiro como grãos gordos de sal,
depois como suaves flores de salgueiro.
Os flocos assentaram-se silenciosos sobre o bambu
e empilharam-se agradavelmente nos galhos dos pinos.
Em lugar de me voltar para os velhos textos, a escuridão
faz com que prefira compor os meus próprios versos.
(Ryôkan)