Mortos

Se abríssemos os olhos lá estariam
feitos maré.

Ondas do mar do tempo que nos leva,
sal da vida à mistura: nós os peixes
feitos de mar.

Mas pesam-nos moedas sobre os olhos
para pagar barqueiros.

Morremos nos vivos que nos seguram,
e nascemos dos mortos que nos levam.

Temos medo do mar que nos envolve
e somos nós;
movimento ondular que perpetua a vida.

No fundo,
as moedas enterram-se na areia
porque nada há a pagar.

Não há barqueiro.

Apenas mar.

Isso enterramos.