Este tesouro foi descoberto numa moita de bambu -
lavei a tigela numa nascente e depois consertei-a.
Depois do zazen da manhã, tomo nela os meus purés;
à noite, serve-me a sopa guenmai.
Partida, gasta, roída pelo tempo e deformada,
mesmo assim ainda é um bem prezado!
A partir de agora
nem sequer serás molestada
por um pontinho de terra.
Noite e dia ao meu cuidado,
já nunca estarás só!
(Ryôkan)
Ao longo da sebe alguns ramos de crisântemos doirados.
Corvos de inverno pairam por cima do bosque espesso.
Mil picos fulguram brilhantes ao pôr do sol,
e este monge volta a casa com a tigela cheia.
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Hoje não houve sorte nas minhas saídas mendicantes.
De vila em vila, só consegui arrastar-me.
Ao pôr do sol, milhares de montanhas entre mim e a minha cabana.
O vento frio rasga o meu corpo débil,
e a minha minúscula tigela parece tão abandonada!
Mas este é o caminho que escolhi e que me guia
pela desilusão e a dor, o frio e a fome.
(Ryôkan)
Para o nosso bem,
os moluscos e os peixes
oferecem-se
desinteressadamente
como comida.
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Na minha pequena tigela das esmolas,
amores-perfeitos e dentes-de-leão
à mistura
como uma oferenda
aos Budas dos Três Mundos.
A colher amores-perfeitos
à beira da estrada,
com a mente absorta,
deixo atrás a minha tigela.
Coitada!
Outra vez esqueci
a minha pequena tigela. ?
Ninguém vai apanhar-te,
certeza que ninguém vai apanhar-te,
triste tigela minha!
(Ryôkan)