Ao anoitecer
muitas vezes subo
ao pico de Kugami.
Os veados lá em baixo,
oiço as suas vozes
submersas
em montes de folhas de bordo
que descansam imperturbáveis
ao pé da montanha.
(Ryôkan)
A existência humana neste mundo:
folhas de lentilhas de água boiando sem destino à superfície.
Quem pode sentir-se seguro?
Esta é a razão porque peguei
nas minhas coisas de monge, deixei os meus pais,
e ofereci um adeus aos meus amigos.
Um simples kesa remendado
e uma cunca mantiveram-me todos estes anos.
Gosto muito desta cabana pequena
e amiúde passo tempo aqui -
ela e eu somos espíritos parentes
e nunca nos importamos por quem é hóspede ou anfitrião.
O vento sopra entre os pinos altos,
a geada congela os crisântemos que restam.
De braço dado, estamos por cima das nuvens:
unidos como um, perambulando pelo além do além.
(Ryôkan)
A noite avança para o amanhecer.
O orvalho pinga do bambu à minha porta de palha.
O meu vizinho do oeste deixou de bater na argamassa.
O jardim da minha ermida cresce humidamente
enquanto as rãs coaxam perto e longe
e os vaga-lumes rodopiam acima e abaixo.
Totalmente acordado, não é possível dormir esta noite.
Aliso a minha almofada e deixo que os meus pensamentos corram.
(Ryôkan)