Está fora da vila, a alguns kilómetros de distância.
Caminhei até lá, na companhia de um lenhador,
um percurso sinuoso através de pinhais esverdeantes.
À nossa volta, no vale, rebentos selvagens de ameixeiras de perfume doce.
Cada vez que o visito ganho alguma coisa nova
e lá estou realmente à vontade.
Os peixes do estanque são grandes como dragões
e a floresta que o circunda é calma durante todo o dia.
O interior desta casa está cheio de tesouros:
volumes de livros espalhados por toda a parte!
Inspirado, abandonei o meu kesa, naveguei entre os livros
e compus os meus próprios versos.
Ao pôr do sol, caminho através do corredor do oeste
e sou deleitado de novo por um bando de pássaros primaveris.
(Ryôkan)
O que é esta minha vida?
A vaguear, confio-me ao destino.
Às vezes risos, às vezes lágrimas.
Nem um laico nem um monge.
Uma chuva precoce de primavera garoa uma e outra vez,
mas os rebentos de ameixeira ainda não alegraram o ambiente.
Toda a manhã fico sentado junto à lareira,
sem ter com quem falar.
Procuro o meu caderno
e pincelo alguns poemas.
(Ryôkan)
O meu pagamento diário: brincar com as crianças do vilarejo.
Sempre tenho umas bolas de tela enfiadas nas mangas:
não sou bom para muito mais.
Antes sei desfrutar a tranquilidade da primavera!
Esta bola de tela na minha manga vale mais de mil moedas de ouro.
Sou bastante bom a jogar a bola, estás a ver.
Se alguém quiser conhecer o meu segredo, cá está:
«Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete».
(Ryôkan)