A minha ermida é a casa de um gato e um rato.
Os dois são animais peludos.
O gato é gordo e dorme a plena luz do dia.
O rato é magro e corre cá e lá durante toda a noite.
O gato tem a bênção do talento,
é capaz de agarrar com destreza seres vivos que comer.
O rato está maldito,
e só furta bocados pequenos de comida.
O rato pode danificar recipientes, é verdade,
mas os recipientes podem ser substituídos,
contrariamente aos seres vivos.
Se me perguntares qual das criaturas tem mais pecado
eu diria que o gato.
(Ryôkan)
As plantas e flores
que cultivei à volta da minha cabana
agora rendo
à vontade
do vento
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A flor convida a borboleta sem pensamento;
a borboleta visita a flor sem pensamento.
A flor abre-se, a borboleta vem;
a borboleta vem, a flor abre-se.
Não conheço os outros;
o outros não me conhecem.
Por meio do não saber seguimos o curso da natureza.
(Ryôkan)
No meu jardim
fiz crescer arbustos de trevos,
erva suzuki,
lilases, dentes-de-leão,
floridos árvores da seda,
bananeiros, glórias-da-manhã,
epatóriuns, asteres,
tradescantias, hemerocallis.
Noites e manhãs
a amá-las todas,
a regá-las, nutri-las,
a protegê-las do sol.
Toda a gente dizia que as minhas plantas
estavam no seu melhor.
Mas em vinte e cinco de maio,
ao pôr-do-sol,
um vento violento
soprou como louco,
batendo e arrancando as minhas plantas.
A chuva verteu-se,
machucando ramos e flores
contra a terra.
Foi doloroso,
mas como o trabalho do vento,
tenho que deixá-lo estar...
(Ryôkan)