À meia-noite, quando ouves de repente
uma procissão invisível a passar
com magnífica música, e vozes,
não lamentes a sorte que hoje te falta,
o trabalho que não deu certo, os teus planos
a se tornarem decepção - não te lamentes disso em vão:
como alguém corajoso, há tempo pronto para isto,
diz adeus a ela, à Alexandria que se vai.
Por cima de tudo, não te enganes a ti próprio,
não digas que foi um sonho, que os teus ouvidos te enganam:
não te degrades com esperanças vãs como essas.
Como alguém pronto há tempo, e cheio de coragem,
como corresponde a ti, a quem esta cidade foi entregue,
vai decidido à janela
e ouve com grande emoção,
mas não com as queixas, as desculpas dum covarde:
diz adeus a ela, à Alexandria que estás a perder.
(Konstantin Kavafis)
Como poderia dormir
nesta noite de lua?
Venham amigos,
cantemos, dancemos
durante toda a noite.
Estiro o meu corpo
por baixo do céu imenso
levemente bêbado:
sonhos esplêndidos
por baixo da cerejeira em flor.
Colho rosas selvagens
em campos cheios
de rãs que coaxam.
Deixo-as a flutuar no saké
e desfruto de cada minuto.
(Ryôkan)
uma teia de aranha recém feita
chamando
como uma vela
em meio da janela aberta
e cá está ele
o pequeno mestre
a navegar
num fio de leite
deseja-me sorte
almirante
há muito tempo que não
acabo nada
(Leonard Cohen)