Este tesouro foi descoberto numa moita de bambu -
lavei a tigela numa nascente e depois consertei-a.
Depois do zazen da manhã, tomo nela os meus purés;
à noite, serve-me a sopa guenmai.
Partida, gasta, roída pelo tempo e deformada,
mesmo assim ainda é um bem prezado!
A partir de agora
nem sequer serás molestada
por um pontinho de terra.
Noite e dia ao meu cuidado,
já nunca estarás só!
(Ryôkan)
Dividi-las,
apartá-las,
parti-las:
comer, comer comer -
não deixar que saiam da minha boca!
O tempo está bom
e tenho muitas visitas
mas pouca comida.
Tens algum umeboshi
que não queiras?
Cresceu o frio
e o pirilampo
já não brilha.
Será que uma alma cândida
me trará água doirada?
(Ryôkan)
Depois de procurar lenha nas montanhas
voltei à minha cabana
e encontrei umeboshis e batatas
que alguém deixou por baixo da janela.
As umeboshis embrulhadas em papel,
as batatas em folhas verdes
e um pedaço de papel com o nome de quem mo ofereceu.
No fundo das montanhas a comida não sabe a nada -
é sobretudo nabos e legumes -
assim que logo cozinhei o presente com molho de soja e sal:
enchi o meu estômago normalmente vazio
com três tigelas grandes.
Se o meu amigo poeta tivesse deixado algo de vinho de arroz
tinha sido um verdadeiro banquete.
Saboreei mais ou menos um quinto do presente, reservei o resto,
e, a dar palmadas à barriga cheia, voltei aos meus afazeres.
O Dia da Iluminação do Buda é daqui a seis dias
e ainda não sabia o que oferecer.
Mas agora tornei-me rico
e Buda vai deleitar-se com umeboshis e delicioso puré de batata.
(Ryôkan)