Associa-te

    Palestina livre

    LNB 23/24

    Outro Garañón...

    Apoia-nos

    Audios

    Revista A Malha Nº 2

    Revista A Malha Nº 1

        Busca

      A RESISTÊNCIA DO POVO MAPUCHE CONTRA O IMPÉRIO ESPANHOL

      A RESISTÊNCIA DO POVO MAPUCHE CONTRA O IMPÉRIO ESPANHOL

      12-12-13

      A RESISTÊNCIA DO POVO MAPUCHE CONTRA O IMPÉRIO ESPANHOL 1
      1º Texto do grupo de estudos dedicado a luita mapuche 29-11-13.
      Organizado polo Mádia Leva! e o Ateneu Libertário "A Engranaxe"
      .

      De todas as naçons originárias de América, foi o povo mapuche o que por mais tempo resistiu à conquista espanhola.
      Era um dos povos mais independentes politicamente; com umha economia de subsistência equilibrada que lhe dava autonomia, sem descartar a possibilidade de manter intercâmbios com outros povos.
      Enquanto brilhantes civilizaçons, como a Azteca ou a Inca, caiam em pouco tempo sob o domínio de Castela, ficando submetidas as suas cabeças e classes dominantes, o povo mapuche combateu durante mais de três séculos ao invasor, primeiro espanhol, e depois chileno.

      Estrutura social e resistência

      Esta longa resistência foi possível em virtude da sólida unidade da ?Gente da Terra?, cuja estrutura social, embora singela, era mui homogénea: nom havia, nem hai, classes dominantes e dominadas, mas um regime de produçom no que predominava o coletivismo. A base social som as famílias, unidas no lof (a comunidade). Nom houvo classes poderosas, como muito linhagens e pessoas com mais terras e recursos do que outras, sem constituírem grupos e relacionamentos opressivos.
      A sociedade mapuche chegou a resistir mais de 300 anos, também porque souberom constituir-se num povo com experiência guerreira, sem ter sido belicosos por natureza, produto da resistência frente o domínio dos incas primeiro, e dos novos invasores (Winka) depois. A guerra contra os espanhóis adquiriu o caráter dumha guerra popular, onde participava todo o povo, dumha ou doutra forma, e que apesar do divisionismo introduzido polos espanhóis, conseguiu comprometer na defesa da naçom a grade parte das comunidades e dos territórios.
      A pessoa principal das comunidades mapuche (lonko=cabeça) era o patriarca de cada linhagem e comunidade. A direçom militar era ostentada polo toki, escolhidos de forma democrática em virtude do seu prestígio militar; os seus poderes tinham efeito apenas para a guerra, e nom podiam exercer o poder contra as pessoas e bens da naçom.

      Territorio, Povo e Língua Mapuche

      Os mapuche habitarom desde a conca do rio Copiapó até Chiloé continental e grande parte da Ilha Grande de Chiloé; e desde o Atlántico até o pacífico. O território mapuche (Wallmapu) abrangeu grande parte dos atuais estados nacionais de Chile e a Argentina.
      Entre Copiapó e o Choapa, os mapuche conviverom com os chamados Diaguitas, com os Changos e com colonos enviados polos Incas. Desde Choapa até o Cachapoal, havia presença quase exclusiva mapuche com plena soberania: os mapuche vivam entre o Maipo e o Maule, resistirom fortemente aos Incas, que os denominarom Purumauka (rebeldes alçados). Polo lado oriental da Cordilheira dos Andes, os mapuche conseguirom homogeneizar a outros povos que denominamos Puelche, que acabarom por se integrarem na cultura mapuche; também influírom sobre os Teuelche e Poyas. Aos mapuche habitantes do norte (entre Copiapó e o rio Itata) se lhes denomina pikunche (gente do norte).
      Entre os rios Itata e Toltén habitou a parte da naçom mapuche que melhor resistiu contra os conquistadores. Recibirom a denominaçom errada de ?Araucanos?, termo inventado polos espanhóis e aceite pola historiografia europeísta. Do Toltén para o sul, os mapuche conhecem-se como Huilliche (Gente do Sul).
      Mais importante do que as três divisons que erradamente fai a história clássica, de norte para o sul (picunche, mapuche e huilliche) som as divisons que o próprio povo mapuche fai, referidas á sua identificaçom com certo território, de oriente a occidente: puelche (gente oriental, na atual Argentina); pewenche (gente do peuén ou araucária, nos Andes); wenteche (gente das terras altas, en Chile); nagche (gente das terras baixas) e lafkenche (gente da costa).
      Em todo o Wallmapu falava-se o Mapudungum, com pequenas diferenças regionais. Junto com a unidade da língua, estava a homogeneidade da estrutura social e a comunidade de cosmovisom, pensamento e religiom.
      Antigamente, a sociedade mapuche trabalhava a terra em comunidade, ainda que cada família tinha os seus espaços. Os lonko dirigiam o trabalho e a vida social. Aos homes mais ricos se lhes chamava ulmen. Os espanhóis aplicarom aos lonko e ulmen a palavra ?cacique?, que nom e própria da língua mapuche. Várias famílias constituíam a comunidade (lof), e vários lof formavam um kawin. Seis ou oito kawin, formavam um levo, de 1500 até 4000 pessoas. O levo reunia-se periodicamente num rewe (re=puro, we=lugar), polo que ao levo também se lhe chama rewe. Segundo o número, vários rewe formavam unidades maiores: quechurewe, cinco rewe; ou aillarewek, nove rewe.

      A chamada ?Guerra de Arauco? contra Espanha

      Começada a Guerra, constituirom-se federaçons de aillarewek, segundo a identidade territorial, que se chamarom Futranmapu (terra grande) ou também Wichanmapu (terras aliadas). Os Futranmapu forom três ao começo (cordilheira, centro e costa), mas posteriormente chegarom a ser cinco.
      As armas ofensivas mapuche eram: a lança, com a que impediam o passo da cavalaria formando esquadrons fechados; a frecha; a maça ou makana, e as ?boleadoras? (lekai). As ramas defensivas eram couraças e capacetes de coiro de lobo marinho ou de guanaco.
      Os espanhóis empregarom lanças, espadas, machados, arcabuzes e canhons de diferentes calibres. Os conquistadores tinham experiência em luitas semelhantes. O domínio das armas de fogo permitiu-lhes compensar a desvantagem numérica e o pouco conhecimento do terreno. Contudo, sem os chamados ?índios amigos? (o conhecidos como yanakona) nom poderiam ter vencido os incontáveis mapuche.
      Durante os seus 350 anos aproximados de duraçom, a guerra do Arauco passou por várias fases, na medida na que o povo mapuche foi reconquistando os seus territórios ancestrais, e estabelecendo relaçons de fronteira com os invasores. Esta guerra foi geralmente irregular, apenas excepcionalmente de caráter frontal e contínuo. Primeiro foi umha guerra de movimentos (deslocamentos de massas mapuche) combinados com açons de grupos reduzidos, propriamente guerrilheiros, que castigavam os winka com emboscadas, ataques, roubos, recuperaçons e raptos. Os deslocamentos eram rápidos e os espanhóis nom encontravam os responsáveis que se dispersavam com perfeito conhecimento do terreno, até chegarem às suas comunidades de origem. Estas açons (chamadas malom) moitas vezes eram resposta a outras semelhantes levadas a cabo polos espanhóis, destruindo rukas e colheitas (para aniquilar o povo pola fame), matavam os guerreiros e escravizavam homes, mulheres, e crianças.
      Os espanhóis chegarom a estabelecer alianças com algumhas comunidades e regiom, o qual lhes permitira competir com as grandes massas de mapuche rebeldes. Mais isso também era um obstáculo para os espanhóis, posto que nom poucsas vezes revelavam-se esses aliados e outras vezes eram rebeldes que fingiam fazer a paz, e quando os winka iam guerrear, confiados nos seus supostos aliados, eram atacados por eles.

      Primeira fase da guerra: Da invasom até a fronteira do Biobio.

      Podemos dizer que a guerra começa a meados do s. XVI protagonizada por Pedro Valdívia, Gobernador do Reino de Chile, e polo que fora o seu servente, o mapuche Lautaro. Na batalha de Tucapel, Lautaro capturou e matou a Valdívia. Depois de anos de luita, os espanhóis tiverom de estabelecer a fronteira ao longo do rio Bio-Bio e avançar devagar para o sul. A regiom de Arauco, e em especial a cordilheira do Nahuelbuta e a área de Purém, forom inexpugnáveis para os winka. Cando, os espanhóis, criam ter pacificado o ?Reino de Chile?, os mapuche se levantavam destruindo quintas, minas e cidades, e tudo o que simbolizasse o seu submetimento. Entre 1598 e 1603, forom destruídas todas as cidades espanholas entre o Biobio e Valdivia.

      A batalha de Curalaba

      A batalha de Curalaba (do mapudungun curalaba, pedra fendida), conhecida também como a Vitória de Curalaba, segundos as fontes mapuche, foi umha importante derrota militar das forças espanholas frente aos mapuche ocorrida em 1598.
      Considera-se umha das principais açons bélicas da Guerra do Arauco. Consistiu na quase total aniquilaçom da coluna comandada polo governador de Chile Martín Oñez de Loyola, a maos das hostes dirigidas polo toqui Pelantaro.
      A derrota espanhola, e a morte do governador, desencadearom o abandono maciço de várias cidades e fortes espanhóis do sul de Chile, e o rei Filipe III (Filipe II de Portugal), decidiu em 1599, enviar ao Arauco a um oficial veterano das guerras europeias: Alonso de Ribera. No contexto geral da guerra, esta batalha abriu a Rebeliom Mapuche de 1598, acabou com a estratégia espanhola de conquistar totalmente o território mapuche, abrindo o passo aos períodos de Guerra Defensiva espanhola e, posteriormente, à política diplomática dos parlamentos mapuche.

      Segunda fase: Os parlamentos e as violaçons da paz.

      Desde 1612 até 1624 os espanhóis mudarom a sua tática, pasando à «guerra defensiva». Neste período nom realizarom campanhas no Arauco; conformarom-se com defender a fronteira do Biobio por meio de fortes. Depois de 1624, a guerra defensiva fracasou porque os espanhois nom se contiverom e invadirom inúmeras vezes o território mapuche, fazendo estes o mesmo como resposta; entom, os espanhóis recuperarom a guerra ofensiva. Nesta, os invasores incursionavam no território mapuche tomando reféns e escravos, mantando guerreiros e destruindo casas e recursos agrícolas.
      Em 1641 assinou-se a paz, chamada de Quillín, na que os espanhóis reconhecerom a autonomia mapuche do Biobio para o sul; a luita, porém, continuou como antes. Em 1655 sublevarom-se os mapuche do Biobio para o sul, pola crueldade e a ambiçom do governador espanhol Antonio Acuña y Cabrera e os seus parentes, que se enriqueciam com a captura de escravos. Também se revelarom os mapuche que moravam, submetidos aos espanhóis, ao norte do Biobio; chegando a banir os winka desde este rio ate o Maule. Por sua vez, os espanhóis também se volverom contra o seu governador, Acuña, por ser o causante da insurreiçom dos mapuche.

      Terceria fase: Levantamentos contra a usurpaçom e a escravatura

      Em 1712, o 10 de Fevereiro começou um levantamento na Ilha de Chiloé contra a encomenda, um régime de trabalho semelhante a escravatura pola que os latifundiários obrigavam aos mapuche a trabalhar as terras que anteriormente lhes foram usurpadas.
      A faísca que prendeu o conflito foi o inumano castigo dado a um wiliche que depois de ser açoutado polo seu encomendeiro foi queimado envolvido em palha seca. As comunidades da ilha decidirom levantar-se tanto na ilha grande, como nas outras de Quinchao, Alao Apiao, e Lemui. Arderom as fazendas usurpadoras por toda a Ilha de Chiloé, mais ao final os mapuche fororm derrotadas por umha força muito superior.
      Hoje, cada 10 de Fevereiro lembra-se aquela insurreiçom na que morrerom mil mapuche. Nestes atos lembrasse que o atual presidente de Chile, Sebastián Pinera, é ilegítimo proprietário de muitos hectares de território mapuche na ilha de Chiloé.
      Em 1723 houvo outra grande insurreiçom, provocada polas más artes dos comerciantes espanhóis que negociavam com os mapuche. Os espanhóis tiverom que retirar os fortes que conseguiram levantar ao sul do Biobio. Depois de vários parlamentos, ficou a terra em certa paz, até que foi violada polo projecto espanhol de fundar várias povoaçons em território mapuche; poduziu-se umha nova insurreiçom em 1769. Os ?parlamentos? posteriores nom impedirom que a história das luitas continuasse; os winka recuperarom Osorno em 1793 e desde entom reinciarom a invasom do território huilliche.

      A falsa ?Pacificaçom da Araucania?

      Durante a guerra de independência (1810-1825), muitos mapuche apoiarom os espanhóis, porque nos parlamentos prometeram ser os seus aliados, e nom acreditavam nas promessas de igualdade feitas polos patriotas, cuya política era integrar os mapuche na sociedade, para por sua vez ocupar as suas terras. Consumada a independência, as promessas de igualdade nom se cumprirom: as autoridades do estado chileno seguirom o caminho dos conquistadores e quando os políticos e empresários chilenos decidirom ocupar as terras mapuche para reparti-las entre colonos e latifundiários e integra-las na economia mundial agroexportadora, recomeçarom a invasom, chegando a se aliar com o governo da Argentina para rodear os mapuche por ambos os lados. Esta foi a falsamente chamada Pacificaçom da Araucania (1859-1882), e o que os argentinos chamam ?Campanha do Deserto?, conceito também falso, pois as terras que os seus militares ocuparom, nom estavam desertas, mas possuídas durante séculos polo povo mapuche. A luita durou até 1882. Desde entom , os mapuche nom forom respeitados nem satisfeitos.

      Branco e preto: equilíbrio do dia e a noite
      Azul: a pureza do universo
      Verde: o mapu, sobre o qual o cultrum simboliza os pontos cardinais, as estaçons...
      Vermelho: Sangue derramado.

      1 Este texto baseia-se fundamentalmente no artigo, de Carlos Ruiz Rodríguez, titulado ?Síntese histórica Mapuche? (2008). Tamén incorpora informaçom procedente da web mapuche paísmapuche.org (?Curalaba y Tucapel: Victorias de la resistencia mapuche?; ?Chiloé, 10 de febrero de 1712: la revelión mapuche silenciada?) e do livro Pueblo Mapuche. Derechos colectivos y território: Desafíos para la sustentabilidade democrática (2006)

      Escrito ?s 13:27:06 nas castegorias: opinióm
      por SCMadiaLeva   , 2051 palavras, 54820 views     Chuza!

      Endereço de trackback para este post

      Trackback URL (clique direito e copie atalho/localização do link)

      Ainda sem comentários

        madialeva.gz@gmail.com
        Rua Serra de Ancares 18
        Horário
        De segundas-feiras (luns) a sextas-feiras (venres) de 19h30 a 22h30
        CIF:G-27360825
          blog engine