Vai ser certo o discurso dos fachas, da ultradireita espanhola, do PP, da Igreja católica e outros sectores, quando afirmam que se manifestam (este será o terceiro sábado consecutivo), em defesa da unidade da Espanha, da unidade da Família e da unidade, enfim, de todo o que o seu deus e o seu caudilho unírom e nom deve ser separado polo homem (nem pola mulher).
Na manifestaçom que a ultradireita realizou em Salamanca, em defesa, como eles diziam, da unidade do arquivo da Guerra Civil espanhola, pudemos ver que as cores, os símbolos e as bandeiras que mais destacavam eram as espanholas. E isso é porque sabem bem que a devoluçom à Catalunya dos documentos incautados, roubados, saqueados, polas tropas franquistas pom em perigo a unidade da Espanha. Porquê?
Porque Espanha, e a sua famosa unidade de destino no universal, está construída precisamente sobre esse, e outros muitos saques, roubos, espólios. Está construída sobre mentiras como a que os fachas repetem sem cessar, de que o que há em Salamanca é um arquivo da Guerra Civil, e nom o resultado dum ingente trabalho de repressom e perseguiçom fascista contra as esquerdas que defendêrom a legalidade republicana frente ao alçamento nacional. O arquivo de Salamanca é o resultado dum roubo, e devolver as pertenças aos seus legítimos donos nom é só um acto de justiça histórica: significa reconhecer que Espanha, igual que esse arquivo, está construída sobre roubos e mentiras, sobre opressons e repressons, sobre saques e silêncios impostos. Certo que a devoluçom dos documentos pom em perigo a unidade de Espanha: porque Espanha só pode existir na medida em que forem mantidas essa e outras mentiras, essa e outras injustiças.
Manifestarám-se também, neste Sábado, contra o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo, por considerarem que permitir esses casamentos é atentar contra a unidade da família. Da família patriarcal-católica, evidentemente. As pessoas que nom somos partidárias da instituiçom do matrimónio só aguardamos que seja certo que este seja um degrau na destruiçom dessa instituiçom retrógrada e reaccionária, alicerce fundamental da sociedade capitalista. E será-o: o casamento entre pessoas do mesmo sexo, com as mesmas obrigaçons e os mesmos direitos que o casamento heterossexual, porá em causa muitas das normas, dos preconceitos e comportamentos sociais ainda hoje imperantes, fruto da imposiçom dumha moral e umhas pautas de comportamento construídas sobre a ideologia católica, apostólica e romana. É certo, mais umha vez tenhem razom os fachas, que um casamento entre duas mulheres, ou entre dous homens, é um perigo para a perpetuaçom da ordem social patriarcal actual. Sabem que é um perigo para os seus interesses. Por isso, com toda a certeza, na manifestaçom contra os direitos das pessoas homossexuais que os fachas celebrarám neste Sábado em Madrid, também serám abundantes as bandeiras espanholas, junto aos símbolos religiosos católicos.