"desde este humilde cuarto
de obreiro
prométoche o fin da tiranía
porque nas mans levo o traballo
e na fronte a memoria colectiva
e se algún día dis que eu mentín
direi que nom, que fun vencido"
Rafa Villar
Recupero este poema de Rafa Villar, do seu livro "O devalo do mar", editado em Junho de 1994 (já choveu...), porque me parece muito apropriado como banda sonora poética para falarmos de derrotas e conversos, da chamada "industria dos direitos de autor" e da redistribuiçom da cultura.
Devo começar reconhecendo que som membro de CEDRO, a entidade de gestom dos direitos de autor no ámbito editorial. Figem-me membro desta entidade practicamente ao mesmo tempo que me fazia membro da AELG, a associaçom que reune aos e às escritoras em língua galega. De facto, entregarom-me juntos os formulários para associar-me, ainda que ser membro dumha entidade nom obriga, nem obrigava, a ser membro da outra. Como membro de CEDRO, puidem aproveitar algumhas das suas ajudas para, entre outras cousas, comprar as gafas que agora levo postas todo o dia, todos os dias, também mentres escrevo isto.
Mas o certo é que cada vez tenho mais diferências com a sua actividade e com os seus posicionamentos. Pode ser porque CEDRO tem radicalizado as suas posturas no que se refire ao tema dos direitos de autor (principalmente, e quase exclusivamente) económicos; ou pode ser porque eu tenho avançado nas minhas posiçons de defesa da ideia da cultura para todas/todos, o combate ao copyright e a promoçom da redistribuiçom da cultura. Em qualquer caso, cada vez que algumha das suas revistas chega à minha casa, os seus artigos parecem-me cada vez mais polémicos, mais escandalosos, mais ofensivos (quer-se dizer, que me ofendem).
O publicado na contracapa do número 65 seu "Boletín Informativo", correspondente a maio-agosto de 2008, o último que chegou à minha casa, bate para mim todos os records. Aparecem aí quatro pequenos artigos sob o epígrafe "El valor de los derechos de autor". Dous deles, raiam ao meu entender a pornografía. José Maria Merino e Laura Freixas publicam um perfeito exemplo de confissom e arrepentimento polos pecados da juventude. Um perfeito exemplo de conversos derrotados.
O texto de José Maria Merino leva por título "Mundo gratis", e começa dizindo, textualmente, e traduzido, "Quando era novo e socialista utópico, pensava que o dinheiro deveria desaparecer do mundo", para explicarmos que agora, que já reflexionou e aceitou activamente o capitalismo realmente existente, pensa que todo, Todo, "todo trabalho, todo objecto, todo" tem um preço. E que a criaçom cultural, especialmente a literária, também deve tê-lo, cargando as tintas contra as cópias e as fotocópias e contra a distribuiçom livre e sem control em internet da cultura. E que se nom é assim, deveriamos voltar a "aquela velha utopia na que cria quando era novo: que todo seja gratis. As invençons da imaginaçom, mas também os livros, os alimentos, os combustíveis, o transporte, o telefone, os computadores, a roupa, a medicina, a vivenda... Mundo gratis!". Será possível tam pouca vergonha!!! E, como mínimo, nom é um direito de todo ser humano, de toda pessoa, viva onde viva, seja de onde for, o aceso à comida, à roupa, à umha vivenda digna, à medicina necessária!? Quando ele era novo, sim que se podia reivindicar isso, mas agora... agora nom? Nom se decatará de que foi ele o que cambiou, foi ele o derrotado, é ele o converso, o que mudou de opiniom? É que é um delito seguir pensando que o aceso à cultura, a umha vida digna, à comida necessária, som um direito inegável do ser humano!?
O artigo de Laura Freixas, intitulado "Chorizar", vai polo mesmo caminho. "Ainda lembro o que me impresionou (refere-se a um relato de Borges)... ao lê-lo nos 70, umha época na que nom só eu era adolescente: também o era o país", di. "Campava entom (...) um alegre anarquismo, que se manifestava, entre outras cousas, na despreocupaçom com a que nos dedicavamosa chorizar (dizer roubar teria sido de mal gosto". Para rematar a sua confissom de anarquista (?) arrrependida e convertida ao alegre capitalismo reinante, termina o seu texto: " Quero crer que a mentalidade protestante, quer-se dizer, democrata, progressou o suficiente entre nós como para que hoje nos dé vergonha entrar numha tenda e sair com um livro baixo o abrigo. Mas na tenda virtual é outra cousa. Aí muitos siguem dando renda solta ao seu anarquismo, o anarquismo de rapaz malcriado, convencido de que o mundo lhe deve todo e a própriedade é um roubo... se é alheia. E siguem a chorizar".
Pois sim, Laura Freixas, sim. A propriedade privada, e a propriedade intetelectual especialmente, hoje como onte, é um roubo. Sigue a ser um roubo. Repartir a riqueza, redistribuir a riqueza, e também a cultura, sigue a ser necessário. E quem mudou fuche tu, que serias umha cria, umha adolescente, umha jovem anarquista malcriada. O teu arrepentimento, a tua conversom, nom é motivo para que outras muitas pessoas siguem mantendo as bandeiras da rebeldia, da pirataria e da liberdade bem altas.
Nom, nom mentiades. É só que fuchedes vencidos. Que estades derrotados.