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Afinal, será que Deus é brasileiro? Comentário do João Facal aos Quinze Brasis de Fernando Bonassi

Posted by Pega no Livro on 15-04-2012  ~  Posted in: Leituras

Comentário do João Lopes Facal aos Quinze Brasis de Fernando Bonassi (Antologia do Conto Brasileiro Contemporâneo)

Bom, eu concordo em que contos, propriamente, não são. De facto, os 15 textos pertencem ao género, tão estimulante, do pranto pelos males da pátria e a desgraça de ter nascido no lugar errado.

Atribui-se a Cánovas del Castillo ? pessoa esperta na matéria ? a afirmação de que: " Son españoles... los que no pueden ser otra cosa ". Concordo. Contudo, não podia faltar o génio saudoso português para melhorar a marca, neste caso a voz do meu amado poeta António Nobre: ?... Amigos, que desgraça nascer em Portugal!?

Bom, o caso é que nos países novos, onde o futuro é mais longo que o passado e os livros de história não importunam as criancinhas com proclamas heróicas, costumam levar melhor a afortunada desgraça de ter nascido. Lembramos agora que o mais grande poeta norteamericano, talvez, Walt Whitman, cantava-se a si mesmo e ao seu país com a maior alegria: ?Tenho trinta e seis anos. A minha saúde é perfeita e com o meu alento puro começo a cantar hoje??
Brasil? bom Brasil não é ainda Norteamérica mas a verdade é que a tristeza da favela foi sempre menos triste que a do barraco do tio Tom. O samba afinal é para bailar enquanto o blues apenas para cantar a saudade.
O caso é que o Bonassi arrenega no seu Brasil em 15 capítulos do ritmo tropical, de qualquer celebração do futuro e parece mesmo que o que pretende é contradizer a afirmação do presidente Lula: ?Eu digo sempre que depois da descoberta da Petrobras está ficando provado que Deus é brasileiro?. Tem-no merecido, Pelé ou Machado de Assis estão muito acima de Petrobras sem que a estátua do Pão de Açúcar se tenha comovido.

Bom, Bonassi opina contra. Quinze são os argumentos do Bonassi, todos eles convincentes se acreditamos na sua experiência de primeira mão. Para começar, adota Bonassi a voz de um poeta brasileiro para lembrar-nos que nascer é muito comprido e custa habituar-se. Ele demonstra-o, não foi capaz ainda.
Naturalmente renuncio a resumir os aforismos, ou sentenças, ou chicotaços do tal Bonassi ? romancista, contista, cineasta e roterista: São Paulo, 1962 ? porque não é possível reduzir o que é já mínimo. É questão de lógica.

Não renuncio, contudo, a chegar a compreender plenamente alguma das histórias que de tão concentradas parecem reclamar mesmo um golinho de água como os uísques de alta graduação. Talvez alguém poda chegar a explicarmos, talvez o Bonassi mesmo se for certo que afinal Deus é brasileiro e gosta de se dar a conhecer.

João Lopes Facal, Compostela, 2012