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Caracol ao Pôr-do-Sol foi o poemário póstumo de Ernesto Guerra da Cal, que ele preparara por volta do ano 1992, e que foi publicado com um prólogo do Professor Carlos Reis no ano 2001.
Editorial Agal.
ESPUMA
?We were the first that ever burst
into that silent sea?
SAMUEL TAYLOR COLERIDGE
Que dura é esta Vida
que tão pouco dura!
De cujos instantes
fugazes
avaros
contados
brilhantes
e inertes
logo surge a Morte
em qualquer altura
pontual e solerte
a talho de foice
cobrar a factura
LISBOA
19 de Dezembro
1988
(Poema de Caracol ao Pôr-do-Sol, p. 104).
Em 2001 a AGAL incluiu na sua coleção literária Caracol ao Pôr-do-Sol. Este livro de Ernesto da Cal (1911-1994) publicou-se póstumo, dez após a sua finalização pelo autor. Está formado por mais de 60 composições, distribuídas em 11 epígrafes, a última das quais intitulada ?Sumo Parnaso Nosso?, com dois poemas dedicados a Luís de Camões e a Rosalia de Castro.
O volume inicia-se com o texto de apresentação ?Ernesto Guerra da Cal e a poesia no crepúsculo da vida? (pp. 7-9) do Professor Doutor Carlos Reis. Nesse trabalho, este prestigioso especialista português salienta que Ernesto da Cal ?nunca renunciou? à identidade cultural galega. E entre outras valorizações valiosas deste livro de poesia, acrescenta Carlos Reis (pp. 8-9):
Como espírito superior que sempre foi, Guerra da Cal soube tirar da vida as lições que ela quis ensinar-lhe e deduzir delas a sageza que bem lhe conheceram os que tiveram o privilégio de com ele conviver. Caracol ao Pôr-do-Sol é conseqüência directa dessa sageza; e assim o caracol, bicho directamente saído da memória viva da Galiza materna, vem ensinar-nos, no crepúsculo da vida em que lentamente destila a baba (?baba lírica?) de um tempo final, uma lição que é a dessa sageza.
Na poesia crepuscular de Guerra da Cal, ressoa lucidamente a certeza da irreversível crueldade de um tempo que se não detém e que, na sua marcha imparável, traz consigo a morte. Mas nem por isso a poesia de Guerra da Cal é menos serena, sem deixar de ser, muitas vezes, um exuberante tributo ao poder criativo e catártico da linguagem: se o tempo é implacável e se está para chegar a noite da vida, sem apelo nem retorno, então a poesia deve ser uma celebração do que essa vida soube dar. No debate surdo entre Eros e Thanatos, subsiste o vigor com que o poeta afirma o amor, a vitalidade que o fascínio pela mulher implica, a evocação de instantes redentores, a atracção pelo mistério do conhecimento, a revelação de momentos em que se sente um ?calafrio mortal de beleza? e também uma progressiva identificação com Deus, sem outro intermediário que não seja o próprio discurso do poeta. Tudo isso e, ao mesmo tempo, o desassombro com que Guerra da Cal reconhece o carácter transitório da existência humana, a pequenez do homem perante Deus, o ?escuro silêncio? em que o tempo pode mergulhar, o mistério da identidade traduzido na ?agonia de não saber quem sou eu...?.
Em estudo dedicado a este livro de poesia, Joel R. Gômez, pesquisador do Grupo de Investigação Galabra da USC, conclui que representa ?a culminaçom de um projecto de décadas em que Guerra da Cal trabalhou pola internacionalidade da língua e a literatura da Galiza? (citação do estudo ?Um projecto de internacionalidade para a língua e a literatura da Galiza: Estratégias para a didáctica de Caracol ao Pôr-do-Sol, de Ernesto Guerra da Cal?, publicado in Marco, Aurora, et alii (2004), Actas del VII Congreso Internacional de la Sociedad Española de Didáctica de la Lengua y la Literatura, A Corunha, Deputación da Coruña, Tomo I, pp. 325-333. A citação corresponde à página 326).
É este, pois, com certeza, um dos grandes títulos da Poesia Galega editados no século XXI, que a AGAL se honra em disponibilizar na sua coleção literária.