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Ortografia

Porque dizedes que ortografia ILG-RAG é espanhola?

Essencialmente porque usa letras que só existem em castelhano e em línguas de sociedades que fôrom dominadas e governadas por Castela/Espanha. O caso mais emblemático é o Ñ. Seja como for, os seus valedores também o reconhecem assim.

Na Península ibérica existem três grandes tradições ortográficas nascidas na Idade Média e que foram três formas diferentes de adatar a ortografia latina às novas línguas que estavam a surgir derivadas do latim. Estas novas línguas continham fonemas que nom existiam na língua original e os escrivaos das cortes de Lisboa, Toledo e Aragom resolverem de forma ora diferente, ora similar. Quase todas as ortografias peninsulares som versões destes primeiros modelos.

O galego elaborado polo Instituto da Língua Galega e avalizado pola Real Academia Galega e que aquele que usa a administraçom pública galega está baseado na ortografia castelhana com algumas leves modificações: eliminaçom da letra Y (Tui) e eliminaçom do G perante E,I e do J sendo usado em seu lugar a letra X (Xanela, Xente, Xineta, Xogar, Xuntar).

O seu antecedente é o galego utilizado durante o s. XIX por pessoas que foram alfabetizadas em castelhano e era a única ortografia que dominavam. Tecnicamente, como demonstra esta wiki-faq, o uso da ortografia espanhola é apenas umha opçom.

Para aprofundar sobre a ortografia na Idade Média: http://www.romaniaminor.net/ianua/sup/sup02.pdf

A ortografia oficial é a que melhor se adapta à nossa forma de falar

Todas as ortografias recolhem doses de etimologismo e de foneticismo. Se o critério fosse a facilidade o resultado era manifestamente melhorável. Podia-se aplicar a cada fonema umha letra: kasa, zertamê, êskóla, gêRa (guerra), aber, kêixô, uískê.

Ora, o certo é que o que estava sobre a mesa era adoptar a ortografia do castelhano com leves adatações. Por outras palavras, usar a mesma ortografia da língua que está a substituir a nossa e obviar a possibilidade de aproximar-se a ortografia que usam outras variedades da nossa língua que tivérom êxito social (Portugal e Brasil).

A ortografia galego-portuguesa é objetivamente mais difícil e no entanto tem várias vantagens estratégicas:

  1. Marca a soberania a respeito do castelhano tornando a nossa língua num ente tam diferente do castelhano como o poda ser do francês ou do italiano.
  2. Tem umha comunicabilidade maior, permitindo a fluência comunicativa com 230 milhões de pessoas e as suas culturas e produtos.
  3. Permitiria exportar em maior medida as nossas produçons e importar produtos na nossa língua que permitiriam tornar o castelhano mais prescindível.

Enfim, o mais fácil nem sempre é o melhor.

Porque havemos de escrever assim, se aqui nunca se usou nh, lh ou ç?

Na Galiza usárom-se todas essas letras. Basta ver qualquer texto medieval para verificar que a ortografia usada é substancialmente a mesma que hoje usam em Portugal ou no Brasil, com as lógicas diferenças de cinco séculos de distáncia temporal.

Os hábitos ortográficos que temos na atualidade som lógicos, porque quando começamos a escrever galego de novo, só conhecíamos a ortografia da língua em que fôramos alfabetizados. Os primeiros autores e autoras do século XIX nem sequer conheciam a existência de um legado literário comum à Galiza e Portugal.

Mas nom se trata de olhar para trás. O que devemos perguntar-nos é se seria benéfico mudarmos esses hábitos (com o esforço inegável que implica) para comunicar mais eficazmente com o mundo, e também para que mais mundo comunique connosco.

A ortografia nom é assim tam importante

Se assim fosse, o galego só teria umha ortografia (seja esta a castelhana ou a portuguesa).

Tecnicamente costuma dizer-se que a ortografia é umha convençom, um acordo, e que o facto de usar um ou outro sistema ortográfico é circunstancial. Os factos reafirmam esta perceçom na medida em que som numerosos os casos de:

  1. a) Reformas ortográficas.
  2. b) Mudanças identitárias de ortografia.

O certo é que tanto num caso como no outro está longe de ser umha questom pacífica. No que diz respeito das reformas ortográficas, os casos português, alemão ou castelhano dam fé disto. Eliminar umhas letras ou acrescentar outras pode tornar-se num conflito de dimensom importante.

O caso galego entraria num outro grupo de reformas onde a mudança de ortografia atinge a natureza da língua, isto é:

  • quem a fala?
  • com que outras línguas ou variedades se relaciona?

O caso do azeri, do moldávio ou do valenciano evidenciam que a ortografia é, com certeza, importante. É umha forma de situar-se no mundo, integrar-se num sistema linguístico e cultural ou noutro.

A ortografia reintegrada é oficial?

Nom. Realmente nom há nengumha norma oficial, nem sequer para o castelhano, mas a ideia de as normas ILG/RAG serem oficiais está bastante estendida socialmente.

Posto o assunto nestes termos, nós consideramos que, realmente, a norma reintegrada é oficial em muitos países através do português, e isso dá-lhe muito valor, porque abre às pessoas que a usam na Galiza (cada vez mais) umhas possibilidades comunicativas que a norma considerada oficial nom tem. O que nós pretendemos é que, reivindicando-a através do uso, acabe por ser reconhecida como outra possibilidade de galego. Assim, democraticamente, os galegos particularmente e o povo galego em geral poderia optar com liberdade pola opçom mais conveniente.

Em termos legais, umha “disposiçom adicional” à Lei 3/1983, de Normalizaçom Lingüística, di o seguinte ao respeito: “Nas cuestións relativas á normativa, actualización e uso correcto da lingua galega, estimarase como criterio de autoridade o establecido pola Real Academia Galega. Esta normativa será revisada en función do proceso de normalización do uso do galego”.

Como assinala o professor António Gil Hernández, o facto de estimar como autoridade o critério na RAG nom significa que o critério de autoridade da RAG seja o ÚNICO aceitável.

Umha discriminaçom dos cidadaos com base na ortografia estaria, aliás, a violar os artigos 10.2 e 14 da Constituiçom Espanhola, bem como o artigo 5.4. do Estatuto de Autonomia da Galiza.

É possível ser reintegracionista em galego ILG-RAG?

É. É possível ser reintegracionista, apesar de se escrever em ILG-RAG.

Ainda que o reintegracionismo, tal e como o conhecemos hoje, nasceu outorgando um papel central à ortografia, na atualidade envolve outras questons como a integraçom sociológica e cultural da Galiza no espaço dos países lusófonos. Muitas pessoas concordam com o papel estratégico dessas relaçons internacionais para o galego, embora nom vejam a urgência ou a idoneidade de começar pola ortografia.

Há também aqueles que resolvem escrever em normativa ILG-RAG simplesmente porque as circunstâncias som demasiado adversas para as outras opçons – nomeadamente no ámbito profissional –, mas que mudariam de ortografia se o reintegracionismo fosse a normalidade social e institucional.

O reintegracionismo que já anda a remar numha canoa nom nega o reintegracionismo que outros alviscam no horizonte.

É possível escrever em reintegrado sem considerar o galego e o português a mesma língua?

É. Talvez seja umha prática minoritária, mas também é possível.

De facto, acontece, havendo pessoas que escrevem com ortografia reintegrada sem quase nengum contacto com textos de outros países lusófonos, carecendo de opiniom sobre a teórica unidade da língua.

Essas pessoas escrevem em reintegrado por outras razons: culturais, sociais e inclusivamente estéticas. Umha dessas razons é a defesa da ortografia histórica ou etimológica, mas o motivo mais freqüente é considerar imprescindível que o galego ganhe autonomia em relaçom ao espanhol, servindo-se para isso de umha ortografia que já conta com certa tradiçom na Galiza e que assenta numha língua forte e estável: o português. Também há quem utilize o reintegrado para marcar a sua identidade antissistema, umha vez que na Galiza, por dizê-lo de algum modo, o NH e o LH som símbolos expulsos do sistema cultural oficial.

Porém, muitas destas pessoas “reintegracionistas de prática” som partidárias de que o galego deve afirmar a sua independência em relaçom ao português.

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