No outro dia, ao outro dia

15-11-2011

CONSULTA:

Na televisom galega usam muito a expressom "ao outro dia" como significado de "no dia seguinte". Procurando pola Internet, vim que o comum no resto de variantes da nossa língua é usar "no outro dia" com sentido de "dias atrás".

Entom, qual é a forma correta, "ao outro dia" ou "no outro dia"? E qual o significado, futuro ou passado?

Obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

As locuçons adverbiais no outro dia e ao outro dia tenhem, via de regra, significados diferentes. A primeira quer dizer 'recentemente, num dia indeterminado do passado próximo de hoje'. A segunda fai referência ao dia seguinte a outro qualquer, quer passado quer futuro. Equivale a para o outro dia:

No outro dia nom vinheste e ao outro dia chegaste tarde.

Sirva esta resposta para lembrar que, em geral, os complementos adverbiais de tempo que usamos para indicar em que momento aconteceu qualquer cousa, levam preposiçom tanto no galego tradicional como nas diferentes variedades do português no mundo. Ainda hoje em dia, a ausência da mesma delata um galego castelhanizado:

No domingo vim-te.
Naquele dia vim-te.
Na semana passada vim-te.
No verao vou-te ver.

No caso concreto dos dias da semana, estes também podem ir precedidos pola preposiçom a, quando usados para indicar umha açom habitual, ou sem preposiçom nem artigo, quando usados para indicar umha açom pontual:

No domingo vim-te. = Domingo vim-te.
Ao sábado nom passa o butano. = Aos sábados nom passa o butano.

tags: dias
Categoria(s): Morfossintaxe
Chuza!
Soto, cave e porom

21-10-2011

CONSULTA:

Qual é o significado da voz "soto" ou "sótao" em galego? Qual das duas formas é correta e porquê?

Muito obrigado

RESPOSTA DA COMISSOM:

A Comissom Lingüística da AGAL, mediante a próxima publicaçom de O Modelo Lexical Galego, proporá como unidades pertencentes ao padrom lexical galego com o significado de ?andar subterráneo de um edifício? as vozes cave, porom e soto; enquanto cave e porom som comuns às variantes galega, lusitana e brasileira da nossa língua, já a palavra soto, no sentido apontado, é peculiar da Galiza. Por outro lado, em Portugal e no Brasil, mas nom na Galiza, a voz sótão concorre com desvão para denotar o compartimento de umha casa que se acha imediatamente abaixo do telhado; nesse sentido, a Comissom Lingüística da AGAL padroniza em galego as vozes faiado e desvao, esta com menor peso normativo do que aquela. Na notaçom empregada em O Modelo Lexical Galego:

?andar subterráneo de um edifício?
PLGz: cave = porom = soto
PLPt: cave = porão

?compartimento de umha casa imediatamente abaixo do telhado?
PLGz: faiado > desvao
PLPt: desvão = sótão

Categoria(s): Léxico
Chuza!
Pronúncia da palavra 'Portugal'

01-10-2011

CONSULTA:

Como é se pronuncia Portugal em galego? Portugal ou Purtugal (com l velar?)

Graças

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM:

À espera de futuros trabalho de codificaçom prosódica que prevê realizar a Comissom Lingüística da AGAL, podemos adiantar que a pronúncia genuína da palavra Portugal é [portugáɫ], com o fechado pré-tónico e, efetivamente, ele velar final.

O chamado ele velar é um som que fecha a sílaba, tanto a sílaba final da palavra como sílabas no início ou no meio da palavra: assim, o som do ele em [máɫ] e [aɫtúra] é diferente do do ele em [lár]. A distinçom clara destes sons está em regressom no galego moderno, nomeadamente no urbano, que tem o castelhano como modelo de pronúncia correta.

Quanto à pronúncia [u] que o Rudesindo indica para o ó pré-tónico em Portugal, ela existe na Galiza, mas é minoritária ao lado da pronúncia [o] (ó fechado), muitíssimo mais freqüente. Ambas existem também em Portugal, ao lado da total desapariçom da vogal, mas a tendência contemporánea, e padrom, é pronunciar [u]. Entre ambas as pronúncias existe pouca distáncia auditiva, por se darem na posiçom átona, mais fraca do que a tónica. Porém, muito provavelmente por interferência do espanhol, a tendência do galego urbano é igualar o timbre das vogais átonas e tónicas, de maneira que a pronúncia do ó gráfico em palavras como Portugal, conhecer, podia ou carro soa hoje muito 'aberta' aos ouvidos de umha pessoa portuguesa ou galega de origem rural.

Categoria(s): Fonética
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Atender e atentar

23-09-2011

CONSULTA:

Qual é a diferença entre "atender" e o uso transitivo de "atentar".

Obrigado.

Pedro Bravo López

RESPOSTA DA COMISSOM:

Os verbos atender e atentar convergem no significado de ?dar ou prestar atençom a? (ex.: «Atente nas / Atenda às instruçons que lhe derem») e divergem nas suas outras aceçons, de modo que atender significa também ?cuidar?, ?receber ou dedicar tempo a umha pessoa?, ?dar satisfaçom a umha solicitaçom?, etc., e atentar, também, ?cometer um crime contra umha pessoa?, ?cometer ofensa?, etc. O substantivo que corresponde ao primeiro significado mencionado é atençom («Atençom, perigo!», p. ex.); atendimento é a açom de atender no sentido de ?receber ou dedicar tempo a umha pessoa? (horário de atendimento [aos alunos] de um professor, p. ex.), e atentado corresponde a ?cometer um crime contra umha pessoa? ou ?cometer ofensa? (ex.: «atentado contra a vida do monarca»; «atentado contra a inteligência»).

Categoria(s): Léxico
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Segurança

23-09-2011

CONSUTA:

Na Veiga de Valcarce, Oencia, Carracedelo... a xente dice seguranza. Tamén a forma oficial do llionés e do Asturiano ie seguranza. En portugués ie segurança. Pero na Galiza solo se usa seguridade en todo o que ie oficial i tamén en textos de reintegracionistas vin seguridade.
Cual a forma correcta no galego?
De onde ven ese seguridade, seria como o navidade do meu pai?
Si ie asi, porque é o oficializado?

RESPOSTA DA COMISSOM:

A coordenaçom do galego culto com os padrons lexicais lusitano e brasileiro, decididamente patrocinada polo Reintegracionismo e pola Comissom Lingüística da AGAL, tem a virtude, entre outras muitas vantagens, de nos orientar sobre as freqüências relativas de uso que as palavras de um dado conjunto ou série (de sinónimos, p. ex.) devem mostrar em galego, o que é muito importante, porque tais freqüências costumam surgir hoje em galego (espontáneo) interferidas polo castelhano. Assim, sendo os dous sinónimos que nos propom o consulente, segurança e seguridade, legítimos, em princípio, em galego-português, o modelo luso-brasileiro faculta-nos a indispensável informaçom de que é segurança, dos dous sinónimos, aquele que, de longe, deve usar-se em galego com mais freqüência (trata-se, de facto, da forma mais antiga, largamente documentada no galego medieval). Assim, ainda que a forma seguridade seja registada nos dicionários lusitanos e brasileiros como sinónimo de segurança, aquela voz só em raros casos é de facto utilizada na nossa língua, constituindo a expressom seguridade social, habitual no Brasil, a única exceçom importante ao dito (mas, em Portugal, utiliza-se segurança social, forma também preferível na Galiza).

Do mesmo modo, na concorrência, por exemplo, entre as séries sinonímicas doença - doente - adoecer e enfermidade - enfermo - enfermar, ao contrário do que acontece no atual castelhano (em que enfermedad predomina sobre dolencia), o luso-brasileiro assinala-nos que devemos priorizar o uso de doença - doente - adoecer (com as exceçons de enfermeiro -a, enfermaria e enfermagem). Por outro lado, tenha-se em conta que, com o sentido de ?sofrer o defeito de?, se o castelhano recorre ao verbo adolecer, o galego-português utiliza enfermar, umha vez que este verbo fica ?libertado? do sentido ?cair doente? polo predomínio de adoecer (ex.: «exposta ao vírus, logo adoeceu»; «este texto enferma de prolixidade»).

Categoria(s): Léxico
Chuza!

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