Galiza ou Galiça?

15-10-2015

CONSULTA:

Nom é mais ajeitado dizer Galiça que Galiza? Já que o "ç" é produto da uniom de c + i, e na evoluçom desta palavra o que está a ocorrer é:

Callaecia / Gallaecia > Gallicia > Galiça

Sei que Galiza aparece em certos documentos medievais, mais nom é suficiente para justificar o termo, já que em muitas ocasions as palavras que aparecem nestes hoje escrevem-se diferente.

Obrigado

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A forma Galiza responde ao resultado esperado da evoluçom c ou t + iode em posiçom intervocálica em galego-português: fiducia > fiúza; iudicio > juízo; ratione > razom; satione > sazom, etc.

É verdade que, em circunstáncias aparentemente similares, pudo surgir umha consoante xorda (ratione > raçom), mas nom é o caso da forma que nos ocupa. A prática unanimidade dos registos medievais (e nom só) junto com a sobrevivência daquela forma, com fricativa sonora, na variante portuguesa, nom deixam lugar para dúvidas.

Categoria(s): Fonética, Ortografia
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«Vir a fazer» ou «vir fazer»?

08-10-2015

CONSULTA:

Considera-se a construçom «vir + infinitivo» umha perífrase? Na documentaçom sobre perífrases nom a atopo. Si aparece a perífrase «vir + a + infinitivo», com carácter terminativo («Expressa umha acçom que se achega ao seu final»). Em qualquer caso, é aceitável o uso da forma com preposiçom a (vir + a + infinitivo) co mesmo valor que «vir + infinitivo»? Hai algumha norma ou documentaçom em que se basear para defender o uso correcto? Obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Umha das perífrases aspetuais do galego-português é a terminativa «vir + a + INFINITIVO», que apresenta umha açom como conclusom ou desfecho, enquanto que a construçom «vir + INFINITIVO» nom tem caráter perifrástico e, nela, o verbo vir funciona como verbo pleno, conservando o seu valor semántico de movimento. Considerem-se, entom estes dous exemplos:

«Esse estado cristalino nom se manifesta apenas nas substáncias que, nas condiçons do ambiente,
existem já em fase sólida, mas também naquelas que, existindo em fase líquida ou gasosa, nessas
mesmas condiçons, podam vir a solidificar [= ?acabar por solidificar?: perífrase terminativa].» (Cadernos de Iniciação Científica: 103)

«A casa que os Maias vieram [= Gz. vinhérom] habitar em Lisboa, no outono de 1875 [vinhérom habitar: deslocárom-se a Lisboa para a habitarem], era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o Bairro das Janelas Verdes, pela [= Gz. pola] ?casa do Ramalhete?, ou simplesmente o ?Ramalhete?.» (Oraçom de início de Os Maias, de Eça de Queirós)

No entanto, tenha-se em conta que, quando na construçom nom perifrástica «vir + INFINITIVO» o verbo vir apresenta um valor figurado, no sentido de umha cousa ter surgido ou ter sido introduzida num dado ámbito, o significado global da construçom nom fica muito afastado do da perífrase supracitada, como testemunham os dous exemplos seguintes:

«Esta noçom, cuja validade é reafirmada polas novas conquistas da medicina, tem vindo revolucionar
certas ideias que pareciam definitivas sobre o comportamento terapêutico em face de afeçons
malignas, perante as quais todo o nossso empenho era de intervençom rápida, fosse qual fosse o estádio da sua evoluçom.» (Deuses e Demónios da Medicina: 38)

«Até à segunda metade do século XX, quase todas as crianças tinham tido estas doenças [sarampo, papeira]. A imunização veio alterar [= Gz. véu alterar] esta situação.» (Enciclopédia Médica da Família: 288)

tags: per?frase
Categoria(s): Morfossintaxe
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Além

20-09-2015

CONSULTA:

Bom dia.

Queria saber qual é a origem da palavra além. É uma palavra árabe? Muito obrigado.

Nunes

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A voz galego-portuguesa além (como a sua forma-irmá castelhana allende), apesar de começar por al-, nom provém do árabe, mas do latim, nomeadamente do étimo illinc 'dali, de acolá'.

Como se sabe, o rendimento em galego-português de além é muito alto, já que, ademais do seu valor semántico locativo (enquanto advérbio), a voz também pode funcionar como substantivo, com o significado de 'o mundo dos espíritos' (o além; cf. além-túmulo) e fai parte das locuçons além de e para além de, de valor somativo.

Assim, por exemplo, além apresenta valor locativo em «A província romana da Gallaecia estendia-se (mais) além da cidade de Leom»; valor somativo em «(Para) além de inteligente, é pessoa de grande cultura».

tags: al?m-t?mulo
Categoria(s): Léxico, Morfossintaxe
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Topónimos de Salzeda de Caselas

13-08-2015

Restos do antigo Castelo de Toronha em Entença

CONSULTA:

Venho por este meio solicitar algumas informações no que diz respeito aos nomes das freguesias do Concelho onde moro actualmente, dada a confusão que ainda existe. Os nomes são: Entenza, Parderrubias, a Picoña, San Xurxo, Budiño e Soutelo.

Obrigado desde já pela resposta.

Sérxio

RESPOSTA DA COMISSOM LINGUÍSTICA:

A ortografia correta desses topónimos (entendemos que o consulente está a perguntar em relaçom à forma como devem escrever-se), estabelecida pola CL da AGAL através do programa informático TOPOGAL (atualmente indisponível on-line), é a seguinte: Entença, Parderrúvias, Piconha (a), Sam Jurjo, Budinho e Soutelo.

Categoria(s): Fonética, Ortografia
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Tempos compostos

22-07-2015

CONSULTA

Olá! Desejo saber se existem tempos verbais compostos em galego, como existem em português. É estranho ver no paradigma verbal do galego oficial não aparecerem tempos como o pretérito perfeito (tenho cantado) ou o condicional composto (teria cantado). Assumindo que vocês utilizam o mais-que-perfeito simples (eu cantara), como exprimem os outros tempos? Trata-se duma menor riqueza verbal do galego face ao português? (Isso não seria nenhuma tragédia; há línguas românicas que têm simplificado muito o seu sistema verbal, por exemplo o francês e o romeno). No caso de vocês utilizarem tempos compostos, gostaria de saber que verbo utilizam como auxiliar (ter ou haver) e em que tipo de frases. Agradeceria muito me resolverem a minha dúvida.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Antes de mais, diga-se que para nós nom se trata de umha questom de gramática do galego face «ao português», mas antes de umha questom gramatical da variedade galega (do galego-português) em comparaçom com a variedade lusitana e com a variedade brasileira. Diga-se também à partida que a Comissom Lingüística da AGAL ainda nom se tem pronunciado de forma explícita e específica sobre a codificaçom gramatical ou morfossintática da variedade galega do galego-português (como si o tem feito nos campos da ortografia, da morfologia, do léxico), embora sim podamos oferecer agora umhas orientaçons gerais sobre a matéria por que se interessa o nosso consulente.
A resposta da CL-AGAL à questom posta é simples: se bem que no galego espontáneo, popular (multissecularmente sujeito a estagnaçom e erosom expressivas), os tempos verbais compostos, também designáveis como perífrases verbais aspetuais de estrutura «ter + particípio», sejam raros, a língua formal, culta, deve incorporá-los abertamente, conforme o modelo luso-brasileiro, para enriquecer a sua expressividade. Nomeadamente, polo que di respeito aos seguintes valores (consultem-se, a este respeito, as pág. 495?500 da segunda ediçom do Manual de Galego Científico, de Garrido e Riera [2011]):

? Perífrase aspetual perfectivo-reiterativa e atualizadora (de estrutura «ter [como presente do indicativo] + particípio»): «A nossa equipa de investigaçom tem feito a experiência com diversos animais de laboratório sem obter qualquer resultado significativo.»; «Como tés estado? Tenho estado muito mal, tenho estado doente.»

? Perífrase aspetual (puramente) perfectiva «ter + particípio»: «É curioso que nom tenham sido descobertos mais depósitos»; «Pensa-se terem sido os orientais os primeiros povos verdadeiramente entendidos na confeçom de medicamentos.».

Apenas duas restriçons, nom absolutas, à incorporaçom destes tempos verbais compostos, ou perífrases verbais aspetuais, ao galego formal: a) pola grande vitalidade e expressividade que mostra em galego o pretérito mais-que-perfeito (eu cantara), poderá limitar-se ou evitar-se na nossa variedade lingüística o uso da perífrase aspetual perfectiva «ter + particípio» em que o auxiliar surge em pretérito imperfeito. Assim, enunciados lusitanos ou brasileiros do tipo «Nunca antes tinha assistido a um congresso de Geofísica», em galego estám bem formulados, também na língua formal, com enunciados do tipo «Nunca antes assistira a um congresso de Geofísica»; b) a perífrase aspetual perfectiva pode construir-se em lusitano e em brasileiro com o auxiliar haver, em vez de ter, possibilidade realizada com certa freqüência na expressom formal; em galego, polo risco de tal proceder ficar associado a umha castelhanizaçom expressiva, recomendamos limitar ao mínimo, e sempre dentro da língua mais formal ou literária, essa possibilidade.

Categoria(s): Morfossintaxe
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