III.2 O nome

III.2.1. Género dos nomes

Quanto ao comportamento dos nomes a respeito do género podemos distinguir:

III.2.1.1. Nomes sem marca de género

III.2.1.1.1. Com forma única para ambos os géneros

  • a/o dentista, a/o estudante1), a/o jornalista, a/o jovem, a/o mártir, a/o selvagem, a/o servente
  • comum, contente, cortês, fácil, feliz, maior, melhor, pior

III.2.1.1.2. Com um único género

  • (a) águia, (a) água, (as) algemas, (a) andorinha, (a) arma, (a) arte, (a) criança, (a) equipa, (a) lagosta, (a) omoplata, (a) pessoa, (a) pétala, (a) platina, (a) policlínica, (a) precinta, (a) rádio (radiofonia), (a) sebe, (a) testemunha, (a) vítima
  • (o) abutre, (o) bacalhau, (o) berço, (o) cuspe, (o) dia, (o) diapositivo, (o) espírito,(o) fantasma, (o) fim, (o) hipopótamo2), (o) ícone, (o) joelho, (o) parêntese, (o) pesadelo, (o) pezunho, (o) pintassilgo, (o) polvo, (o) rádio (aparelho), (o) riso, (o) suor, (o) rouxinol, (o) vime
  • Casos particulares do género masculino:
    • os nomes das letras: o agá, o jota, o quê, o u, o xis, etc.
    • os acabados em -ame e -ume:
      • o arame, o certame, o cordame, o enxame, o ligame, o madeirame, o raizame, o velame, o vexame
      • o costume, o cume, o legume, o lume, o pesadume, o queixume
    • os seguintes também acabados em -e: o cárcere, o couce, o dote, o leite, o sangue, o úbere3)
    • os seguintes acabados em -a: o alerta, o diadema, o estratagema, o nada, o samba
    • e os seguintes acabados em consoante:
      • o cal, o fel, o mel, o postal, o sal, o sinal, o til
      • o calor, o labor, o mar
      • o fim, o nariz, o pez
  • Casos particulares do género feminino:
    • Os acabados em -agem4): a bagagem, a folhagem, a garagem, a homenagem, a linguagem, a paisagem, a passagem, a personagem, a roupagem, a vantagem, a viagem
      • No entanto, salvo a laje, possuem género masculino os nomes acabados em -aje(m): o paje(m), o traje, o ultraje/aldraje
    • Os nomes que designam árvores ou arbustos frutíferos, já que derivam normalmente dos nomes das frutas correspondentes que, maioritariamente, possuem género feminino: a ameixeira (a ameixa), a amendoeira (a amêndoa), a aveleira (a avelá/avelã), a cereijeira/cerdeira (a cereija)5), a ginjeira (a ginja), a laranjeira (a laranja), a macieira (a maçá/maçã), a nogueira (a noz), a oliveira (a oliva), a pereira (a pera)
      • Mas o abacateiro (do abacate), o limoeiro (do limom/limão), o marmeleiro (do marmelo), o pereiro (do pêro), o pessegueiro (do pêssego)6)
    • As seguintes palavras soltas: a análise, a árvore, a cor, a cute, a dor, a ênfase, a fraude, a frente, a ordem, a origem, a ponte, a síndrome (ou síndroma)

III.2.1.2. Nomes com marca de género: regras

Muitos nomes variam de género, o que também tem consequências no que respeita ao significado, nomeadamente quanto ao sexo e ao tamanho:

  • barca - barco; cesta - cesto; gata - gato; judia - judeu; lenha - lenho; leoa - leom / leão; bela - belo; boa - bom; branca - branco; europeia - europeu; ligeira - ligeiro; loira - loiro; má - mau

III.2.1.2.a. Primeira regra:

Os nomes de igual raiz que formam o masculino em -o ou -e átonos apresentam um feminino em -a átono:

  • aluno → aluna; chefe → chefa; mestre → mestra; monge → monja; ovo → ova; madeiro → madeira; médico → médica; porco → porca; belo → bela; formoso → formosa; grosso → grossa; molesto → molesta

III.2.1.2.b. Segunda regra:

Os nomes de igual raiz que apresentam o masculino em -eu formam o feminino em -eia7):

  • ateu → ateia; europeu → europeia; galileu → galileia; hebreu → hebreia; jacobeu → jacobeia; maniqueu → maniqueia; pigmeu → pigmeia; plebeu → plebeia
    • Excetuam-se: ilheu → ilhoa; judeu → judia; réu → ré; sandeu → sandia

III.2.1.2.c. Terceira regra:

Os nomes de igual raiz que na Galiza formam o masculino em -am, -ao (forma geral -ão), apresentam o feminino em -á (forma geral -ã):

  • -am
    • alemám/alemão → alemá/alemã
    • capitám/capitão → capitá/capitã
    • catalám/catalão → catalá/catalã
    • charlatám/charlatão → charlatá/charlatã
    • folgazám/folgazão → folgazá/folgazã
    • guardiám/guardião → guardiá/guardião
    • langrám/langrão → langrá/langrã
    • nugalhám/nugalhão → nugalhá/nugalhã8)
    • rufiám/rufião → rufiá/rufiã, etc
  • -ao
    • aldeao/aldeão →aldeã
    • anao/anão → aná/anã
    • anciao/ancião → anciá/anciã
    • artesao/artesão → artesá/artesã
    • cidadao/cidadão → cidadã
    • cirurgiao/cirurgião → cirurgiá/cirurgiã
    • cortesao/cortesão → cortesã
    • cristao/cristão → cristá/cristã
    • hortelao/hortelão → hortelá/hortelã
    • irmao/irmão → irmá/irmã
    • marrao/marrão → marrá/marrã
    • pagao/pagão → pagá/pagã
    • sao/são → sá/sã
    • temporao/temporão → temporá/temporã
    • vao/vão → vá/vã
    • vilao/vilão9) → vilá / vilã
  • No caso de órfao/órfão → orfa/órfã10) esta regra verifica-se em sílaba átona.

Porém, muitos nomes próprios e um comum possuem unicamente a forma feminina em -ana:

  • Fabiana (Fabiám/Fabião)
  • Joana (Joám/João)
  • Juliana (Juliám/Julião)
  • sultana (sultám/sultão)

Repare-se que a palavra mau, apesar de ter origem diferente, tem um feminino semelhante aos casos que acabamos de ver: .

III.2.1.2.d. Quarta regra:

Os nomes acabados em vogal tónica ou consoante para o masculino (exceto desinências vistas na terceira regra) apresentam no feminino um -a final acrescentado na mesma raiz que a do masculino:

  • andaluz → andaluza; cru → crua11); espanhol → espanhola; freguês → freguesa; ganhador → ganhadora; leitor → leitora

Excetua-se:

  • O adjetivo tem forma invariável (Ele está / Ela está ), sendo comum utilizar-se o diminutivo (sozinho/sozinha) em contextos ambíguos
  • A forma avó (com -ó final aberto) é feminina e corresponde à masculina avô (com -ô final fechado)12))
  • Os nomes acabados em -om (ão se estivermos a usar as formas gerais) para o masculino
    • acabam em -ona no feminino se este sufixo tem carácter aumentativo ou depreciativo:
      • cabeçom/cabeção → cabeçona; chorom/chorão → chorona
    • exibem um feminino sem o -m final da raiz do masculino, quando o sufixo apresenta outros valores:
      • anfitriom/anfitrião → anfitrioa (/ anfitriã)
      • bom → boa
      • bretom/bretão → bretoa (/ bretã)
      • campeom/campeão → campeoa (/ campeã)
      • ladrom/ladrão → ladroa (e ladra)
      • leitom/leitão → leitoa
      • leom/leão → leoa
      • patrom/patrão → patroa
      • retouçom/retoução → retouçoa

III.2.1.3. Procedimentos lexicais para o esclarecimento do sexo

Em certos casos, os opostos macho / fêmea estabelecem-se por meios lexicais, com sufixos derivativos ou com bases lexicais diferentes (com raízes diversas).

III.2.1.3.a. Sufixos derivativos -es-, -is-, -triz, -deir-, -inh- e -in-

  • abade → abadessa; alcaide → alcaidessa
  • conde → condesa; cônsul → consulesa; duque → duquesa; jogral → jogralesa
  • javali → javalina; czar → czarina; herói → heroína
  • poeta → poetisa; profeta → profetisa; sacerdote → sacerdotisa
  • ator → atriz; embaixador → embaixatriz; imperador → imperatriz
  • cantador → cantadeira; cerzidor → cerzideira; lavrador → lavradeira; vendedor → vendedeira13)
  • galo → galinha

III.2.1.3.b. Bases lexicais diferentes

Masculino Feminino Masculino Feminino
bode, cabrom/cabrão cabra grou grua
boi, touro vaca homem, marido mulher
cam/cão cadela padrasto madrasta
carneiro ovelha padre (religioso) madre (religiosa)
cavaleiro dama padrinho madrinha
cavalo égua pai mae/mãe14)
compadre comadre perdigom/perdigão perdiz
frade freira príncipe princesa
frei sóror rapaz rapariga
genro nora rei rainha

III.2.2. Número dos nomes

Polo comportamento dos nomes a respeito do número podemos distinguir:

  • Nomes com forma única:
    • número único:
      • fé, janeiro, junho, leite, norte, prata, socialismo, sul
      • belas-artes, calças, exéquias, fezes, olheiras, prolegómenos, víveres
    • forma única para ambos os números:
      • o/os alferes, o/os atlas, o/os clímax, o/os lápis, o/os ourives, o/os tira-nódoas, o/os tórax, simples
  • Nomes com duas formas, número singular e número plural:
    • bom → bons; funil → funis; hábil → hábeis; lei → leis; manada → manadas; provável → prováveis

III.2.2.1. Nomes que variam quanto ao número: regras

III.2.2.1.a. Primeira regra

Os nomes que em singular acabam em vogal ou -m apresentam no plural um -s acrescentado à forma de singular (leve-se em conta apenas que o -m final passa a -n- ao ficar no interior da sílaba):

  • a → as; boi → bois; controlo → controlos15); elite → elites; fole → foles; herói → heróis; hindu → hindus; irmao/irmão → irmaos/irmãos16); javali → javalis; lei → leis; mole → moles17); pau → paus; pele → peles; regime → regimes18); rei → reis; réu → réus; vale → vales
  • álbum → álbuns; bom → bons; cançom (/canção) → cançons (/canções)19); jovem → jovens; pam (/pão) → pans (/pães); rim → rins

III.2.2.1.b. Segunda regra

Entre os acabados em -m, existe um grupo de nomes findos em -am e -om (formas usadas na Galiza) / ão (formas gerais) que podem registar um plural regular conforme foi enunciado na primeira regra, acrescentando -s, ou irregular, com as desinências -ões / -ães:

  • cam/cão → cans/cães
  • capitám/capitão → capitáns/capitães
  • camiom/camião → camions/camiões
  • coraçom/coração → coraçons/corações20)

Os plurais de tipo irregular correspondem-se com os históricos galego-portugueses, com os gerais lusófonos atuais e em certo modo com os orientais galegos21).

III.2.2.1.c. Terceira regra

Aos nomes que em singular acabam em consoante -n, -r, -s e -z acrescenta-se -es para formar o plural:

  • hífen → hífenes22); flor → flores; melhor → melhores; pior → piores; deus → deuses; país → países; português → portugueses; cruz → cruzes; raiz → raízes; rapaz → rapazes

III.2.2.1.d. Quarta regra

Os nomes terminados em -al, -el, -ol e -ul (tónicos ou átonos) em singular apresentam -is no plural, sem o -l final do singular23)):

  • animal → animais; fatal → fatais; sal → sais, total → totais
  • móvel → móveis; papel → papéis; túnel → túneis
  • anzol → anzóis; lençol → lençóis; sol → sóis, urinol → urinóis
  • azul → azuis

III.2.2.1.e. Quinta regra

Os nomes agudos terminados em -il no singular apresentam no plural um -s em vez do -l:

  • barril → barris; covil → covis; funil → funis; gentil → gentis; vil → vis

III.2.2.1.f. Sexta regra

Os nomes graves terminados em -il no singular apresentam no plural -eis em vez de -il:

  • débil → débeis; fácil → fáceis; fóssil → fósseis; móbil (motivo) → móbeis; réptil → répteis; útil → úteis

III.2.2.1.g. Plural nas palavras compostas unidas por traço

  • Quando o primeiro elemento do composto admite plural (substantivo, adjetivo, numeral ordinal ou partitivo), normalmente ficam no plural os dous elementos do composto:
    • couve-flor → couves-flores; peixe-espada → peixes-espadas; cofre-forte → cofres-fortes; guarda-florestal → guardas-florestais
    • meio-dia → meios-dias; quarta-feira → quartas-feiras; terça-feira → terças-feiras
    • gentil-homem → gentis-homens; social-democrata → sociais-democratas; curta-metragens → curtas-metragens; curto-circuito → curtos-circuitos; surdo-mudo → surdos-mudos; amarelo-claro → amarelos-claros; azul-marinho → azuis-marinhos; verde-escuro → verdes-escuros
  • Porém, nalguns casos concretos em que se considera que o segundo elemento funciona de determinante específico do primeiro, só este elemento vai para o plural:
    • andar-modelo → andares-modelo; decreto-lei → decretos-lei; palavra-chave → palavras-chave; sofá-cama → sofás-cama; carro-cisterna → carros-cisterna; conceito-chave → conceitos-chave
  • No resto dos casos, isto é, quando o primeiro elemento é invariável (advérbios, verbos, adjetivos com forma reduzida, numerais cardinais, etc.) só o segundo elemento vai para o plural:
    • afro-americano → afro-americanos; baixo-relevo → baixo-relevos; bule-bule → bule-bules; euro-deputada → euro-deputadas; guarda-lama → guarda-lamas; luso-descendente → luso-descendentes; recém-nascida → recém-nascidas; sete-mesinho → sete-mesinhos
1) As modernas tendências igualitárias da linguagem admitem que certas palavras terminadas em -nte, sem marca de género do ponto de vista da gramática tradicional, sejam feminizadas (estudanta, presidenta, serventa), seguindo o caminho das que inicialmente eram usadas apenas com -o: ministra, médica, advogada
2) As modernas tendências igualitárias da linguagem admitem dous géneros com certos nomes de animais que possuem apenas um do ponto de vista da gramática tradicional, nomeadamente os acabados em -o, mas também em -e: a hipopótama, a elefanta, etc.
3) Também ubre
4) A palavra personagem pode usar-se como masculina no caso de as personagens serem todas elas masculinas
5) Temos as formas gerais cereja e cerejeira, com monotongo antietimológico refletido na escrita
6) Temos também algum caso em que o género da árvore e do fruto diferem: castanheiro (a castanha), a figueira (o figo)
7) Também temos as formas sem iode atea, europea, as mais comuns atualmente na oralidade galega
8) Langrám e nugalhám figuram como termos exclusivos da Galiza
9) Também temos as formas masculinas aldeám, anám, anciám, artesám, cidadám, cortesám, cirurgiám, cristám, hortelám, irmám, marrám, pagám, sám, temporám, vám e vilám, especialmente com o intuito de representar a pronúncia galega ocidental, mas pouco usadas atualmente na escrita reintegracionista
10) Também temos a forma popular galega orfo/orfa
11) A palavra feminina grua tem, porém, um masculino grou
12) Temos, no entanto, a possibilidade de flexioná-lo regularmente: avô → avoa (traço só galego
13) Num grande número de palavras, a maioria das tendências igualitárias da linguagem rejeitam certas marcas irregulares para o género feminino, preferindo sempre poeta, profeta, embaixadora, imperadora, lavradora, vendedora, etc.
14) Também temos nai, forma característica dos dialetos ocidentais galegos
15) Também cabe a forma controle → controles, cujo uso é habitual no Brasil
16) Também se pode escrever irmám/mam para representar a pronúncia das variedades mais ocidentais da Galiza nestas palavras e outras análogas. Neste caso, a forma de plural correspondente seguiria o modelo de irmáns, mans
17) Temos também as formas singulares de carácter popular fol, mol, pel e val, com igual plural: foles, moles, peles, vales
18) Note-se que alguns nomes deslocam o acento nas formas de plural: carácter → caracteres, espécime → especimes, júnior → juniores, sénior → seniores, mas no caso de regimes (sing. regime), a palavra fica grave nos dous números
19) Para as palavras do tipo pam e cançom temos ainda o plural que figura entre parêntese: consulte-se a segunda regra
20) Confrontem-se estas terminações de plural com as do espanhol: irmãos – hermanos, mãos – manos (← ANOS); cães – canes, pães – panes, capitães – capitanes (← ANES); canções – canciones; corações – corazones (← ONES). Para além das terminações esperadas, noutras variantes da nossa língua existe a possibilidade de um plural alternativo nas seguintes palavras de uso frequente: aldeão (aldeãos/aldeões/aldeães); anão (anãos/anões); ancião (anciãos/anciões/anciães); castelão (castelãos/castelões); corrimão (corrimãos/corrimões); deão (deães/deões); ermitão (ermitães/ermitãos/ermitões); hortelão (hortelãos/hortelões); refrão (refrães/refrãos); rufião (rufiães/rufiões); sultão (sultões/sultãos/sultães); truão (truães/truões); verão (verões/verãos); vilão (vilãos; vilões)
21) Para representar os plurais característicos deste tipo de palavras masculinas, já se tem recorrido às desinências -ais, -ois (cais, camiois), variantes desnasaladas das gerais -ães, -ões que também seriam admissíveis e características da maior parte das falas galegas orientais. Tenha-se em conta, porém, a instabilidade diacrónica destas formas, que já foram grafadas em Portugal como caens/cãis, Camoes/camõis, coraçoens/coraçõis, a transcreverem fielmente o ditongo nasalado
22) Temos também hifens se aplicarmos a primeira regra (para os nomes acabados em -m) à palavra hífen, como é prática habitual no Brasil.
23) Temos um comportamento contrário à regra no caso de cônsules (cônsul) e males (mal). E ainda alguns casos que admitem o plural regular e o irregular: féis ou feles (fel), tiles ou tis (til), méis ou meles (mel
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