Ortografia ILG-RAG comparada com outras ortografias romances.

Todas as ortografias romances estám baseadas na latina, tendo portanto muitos pontos em comum. Porém, também há diferenças assinaláveis devidas a 1) histórias diferentes e 2) que o conjunto de fonemas das distintas línguas románicas som similares, mas nom exatamente iguais.

Por outro lado, nengumha delas é puramente foneticista nem tampouco puramente etimológica, polo que, para as comparar, cumpre termos em conta ambos os fatores.

Em todo o caso, pode-se observar que a ortografia ILG-RAG coincide, sempre que possível, com a castelhana.

Acentuaçom

Em castelhano e na norma ILG-RAG apenas se usam acentos agudos. Nos outros romances considerados usam-se mais acentos, o que ajuda a diferenciar diferentes realizações vocálicas.

  • Em catalám
    • o acento grave marca vogais tónicas abertas, ex. èmfasi ['ɛɱfəzi], arròs [a'rɔs]
    • o acento agudo marca vogais tónicas fechadas, ex. també [tam'be], cantó [kan'to]
  • Em francês
    • o acento agudo usa-se para marcar o e fechado, ex. fémur [femyr]
    • o acento grave usa-se para marcar o e aberto, ex. père [pɛr]
    • o acento circunflexo indica usualmente que a palavra continha umha letra que desapareceu, ex. feste → fête. Quando vai sobre um e este pronuncia-se aberto, ex. fête [fɛt], porém quando ocorre sobre um o este pronuncia-se fechado, ex. Hôtel [otɛl]
  • Em italiano,
    • o acento grave marca vogais tónicas abertas, ex. piè [pjɛ], può [pwɔ]
    • o acento agudo marca vogais tónicas fechadas, ex. né [ne], peróne [pe'rone]
    • o acento circunflexo tem muito pouco uso, empregando-se principalmente sobre o i, sem dar nengumha indicaçom fonológica.
  • Em português
    • o acento agudo marca vogais tónicas abertas, ex. alguém [al'gɛm] após [a'pɔs]
    • o acento grave marca vogais subtónicas abertas, usa-se só em contracções: ex. à (a + a), prò (para + o)
    • o acento circunflexo marca vogais tónicas fechadas, ex. fêmea ['femea], côdea ['kodea]

Apóstrofo

Antes da aprovaçom das normas ILG-RAG, o galego escrito usou abundantemente o apóstrofo, porém nas tais normas proscreve-se totalmente. Em castelhano deixou-se de usar o apóstrofo há já muito tempo, mas nas outras línguas romances consideradas continua a usar-se em maior ou menor medida.

  • Em francês usa-se abundantemente, ex. j'ai (je + ai), n'y (ne + y), l'église (la église).
  • Em catalám usa-se também com freqüência, ex. d'altres (de + altres), l'illa (la + illa), s'imposés (se imposés).
  • Em italiano usa-se ainda mais que em francês, ex. altr'anno, anch'esse, bell'articolo, c'andó, c'è, ch'ella, cos'ha, d'alcun, d'altri, dov'è.
  • Em português tem menor uso, mas tem, ex. d'água (de + água), n'Ele (em + Ele).

Fonemas palatais

|ɲ|

O fonema |ɲ| representa-se com a letra ñ, como em castelhano, ex. España

  • em catalám usa-se o dígrafo ny, ex. Espanya
  • em francês e italiano usa-se o dígrafo gn, ex. Espagne e Spagna
  • em português usa-se o dígrafo nh, ex. Espanha

|ʎ| e |ɉ|

Os fonemas |ʎ| e |ɉ| representam-se com o dígrafo ll, como em castelhano, ex. batalla

  • em catalám usa-se também o dígrafo ll, ex batalla
  • em francês usa-se ill, ex. bataille1) [ba'taj]
  • em italiano usa-se o dígrafo gl ou o trígrafo gli, ex. battaglia [battáʎʎa]
  • em português usa-se o dígrafo lh, ex. batalha [ba'taʎa]

|tʃ|

O fonema |tʃ| representa-se com o dígrafo ch, como em castelhano, ex. checo

  • em catalám usa-se o dígrafo tx, ex. txeco
  • em francês usa-se o trígrafo tch, ex. tchèque [tʃɛk]
  • em italiano usa-se a letra c ou o dígrafo ci, ex. ceco/ciao [tʃέko]/[tʃáo]
  • em português pode usar-se o dígrafo ch, ex. checo2)

|ʃ|

O fonema |ʃ| representa-se com a letra x. Neste caso a ortografia ILG-RAG nom pode seguir diretamente a castelhana, já que em castelhano nom existe este fonema. Mas sim existe noutras línguas neolatinas:

  • em catalám usa-se também a letra x ou o dígrafo ix, ex. caixa ['kaʃa]
  • em francês usa-se o dígrafo ch, ex. champagne[ʃã'paɲ]
  • em italiano usa-se o trigrafo sci, ex. scienza [ʃέntsa]
  • em português usa-se a letra x ou o dígrafo ch, ex. coxa ['koʃa] e chapéu [ʃa'peu]

Ora bem, a ortografia ILG-RAG nom é puramente foneticista, como tampouco é a castelhana, usando às vezes grafias múltiplas, como se verá na próxima secçom. Além disso, ela “pretende” ser harmónica com as outras línguas neolatinas. Mas essas outras línguas usam g e j, segundo a sua etimologia, para a maior parte das palavras que o galego grafa com x, como se ilustra nos seguintes exemplos:

  • ILG-RAG: xullo ['ʃuʎo] e xeografia [ʃeogɾa'fia]
  • castelhano: julio ['xuljo] e geografia [xeoɤɾa'fia]
  • catalám: juliol [ʒuljol] e geografia [ʒeogra'fia]
  • francês: juillet [ʒɥijɛ] e géographie [ʒeɔgʀa'fi]
  • italiano: luglio ['luʎʎo] e geografia [ʤeogra'fia]
  • português: julho ['ʒuʎu] e geografia [Ʒeogɾa'fia]
  • inglês3): July [ʤu:'laɪ] e geography [ʤɪ'ɔgrəfi]

A razom de fundo para a ortografia ILG-RAG diferenciar-se das demais línguas neolatinas, ignorando a etimologia4) e renunciando ao uso de j e g (antes de e e i) é a sua subordinaçom ao castelhano. Nessa língua as tais letras correspondem ao fonema |x|, de maneira que nom se quigérom usar para o fonema |ʃ|, ainda que este fonema esteja bem mais próximo ao fonema |ʒ| que em catalám, francês e português é representado com j e g (antes de e e i)5).

Grafias múltiplas

c/k/qu

O fonema |k| representa-se com a letra c e o dígrafo qu6) na mesma distribuiçom que em castelhano ou catalám: ca, que, qui, co e cu. Mas isto nom é geral.

  • Em francês usa-se: ca/qua, que, qui, co/quo, cu. Ex. quatre [katʀ], calquer [kake], quel [kɛl], qui [ki], corps [kɔʀ], quota [kɔta], cube [kyb].
  • Em italiano usa-se: ca, che, chi, co, cu/qu. Ex. cacofonia [kakofonía], cherubino [kerubino], chimica [kimica], cucina [kutʃina], questo [kwésto], quindi [kwíndi].
  • Em português usa-se: ca, que, qui, co, cu/qu. Ex. casa ['kaza], queijo ['keʒo], aquilo [a'kilo ], acolá [ako'la], cume ['kumə], quadril [kuadril], quorum ['kuorũ].

z/c/ç/s

Em castelhano e galego ILG-RAG os fonemas |Ɵ| e |s| representam-se de acordo com a seguinte distribuiçom:

  • za , ce, ci, zo, zu → |Ɵ|
  • s → |s|

mas isto nom é geral. Nos outros romanços nom existe o fonema |Ɵ|, sendo o mais próximo o |z|. A representaçons dos fonemas |s| e |z|, som as seguintes:

  • Em catalám, francês e português:
    • |z|: z, ou s intervocálico.
      • Ex. catalám: calzes ['kaɫzəs]
      • Ex. francês: zéro [zeʀo], présider [pʀezide]
      • Ex. português: zéro ['zeʀo], presidir [pʀe'zidir]
    • |s|: ça, ce, ci, ço, çu, ou s nom intervocálico, ou ss intervocálico.
      • Ex. catalám: calces ['kaɫsəs],
      • Ex. francês: maçon [masɔ̃], enseigner [ɑ̃seɲe], passif [pasif]
      • Ex. português: bagaço [ba'gasu ], conselho [kõ'seʎu], passivo [pa'sivu]
  • Em italiano:
    • |s|: s inicial antes de vogal. Ex. salame [sa'lame]
    • |z|: s intervocálica. Ex. rosa [ˈrɔza]
    • a letra z pode soar como |ts| ou como |dz|

g/gu

O fonema |g| representa-se com a letra g e com o dígrafo gu na seguinte distribuiçom: ga, gue, gui, go, gu. Ex. galega, guerra, guizo, gorar, gume

Está é a mesma distribuiçom que o castelhano, catalám, francês e português. Nesses idiomas tal distribuiçom tem umha lógica interna, pois a letra g diante de e,i tem um som diferente, |x| em castelhano e |ʒ| nos outros casos. Porém, em galego ILG-RAG a lógica interna levaria a empregar ge e gi para representar |ge| ou |gɛ| e |gi|, ex. gerra [gera] ou giso [giso], como fam o euskara ou o aragonês. Ainda por cima, isto evitaria o uso da diérese7).

Em italiano a distribuiçom é um pouco diferente: ga, ghe, ghi, go, gu

b/v

O fonema |b| representa-se com as letras b e v. A distribuiçom baseia-se na etimologia latina, sendo similar aos usos do castelhano, exceto nalguns poucos casos8). O contraste com as outras línguas latinas é claro:

ILG-RAG Castelhano Catalám Francês Italiano Português
cabalo caballo cavall cheval cavallo cavalo
goberno gobierno govern gouvernement governo governo
libro libro llibre livre libro livro
labrar labrar llavorar labourer lavorare lavrar
camiñaba caminaba caminava marchait camminava caminhava
1) O trígrafo ill nom se corresponde exactamente nem com |ʎ| nem com |ɉ|, mas com o fonema mais similar que existe em francês, a semivogal |j|.
2) Historicamente a pronúncia do dígrafo ch em portuguès era |tʃ|, mas hoje em dia a realizaçom mais usual é como |ʃ|, e começa-se a usar o trígrafo tch para representar o |tʃ| em topónimos estrangeiros. Este fenómeno desenvolveu-se no sul de Portugal e acabou instalando-se em Lisboa. O mesmo passo de africada a fricativa, deu-se no francês e no castelhano de Andaluzia, porém neste último a mudança nom atingiu as falas madrilenhas, e mantém-se como fenómeno regional.
3) Se bem que o inglês seja considerado como umha língua germánica, tem umha grande quantidade de léxico latino, que escreve com grafia etimológica, como se vê nos exemplos.
4) Desde os começos do Ressurgimento existiu um debate entre os defensores dumha ortografia etimológica e os defensores dumha ortografia fonética, sendo o argumento fundamental destes últimos que as pessoas podia ler gente ou tojo à castelhana. Este era um argumento de peso quando a única língua ensinada nas escolas era o castelhano. Porém, as normas ILG-RAG elaborárom-se quando já se começará a estudar o galego, e em galego, no ensino básico e médio. Nesta situaçom, tal argumento perde muito peso. Além do mais, nesse tempo havia muitos anos que se estudavam nas escolas galegas línguas estrangeiras, principalmente francês e inglês, polo que já havia familiaridade com diferentes pronúncias das letras g e j.
5) Na maior parte das falas galegas produziu-se um ensurdecimento do fonema |ʒ| → |ʃ|.
6) Além disso, usa-se a letra k na transcriçom dalguns nomes estrangeiros e derivados deles, coincidindo com os usos do castelhano.
7) Nas NOMIGA nom se comenta minimamente a escolha, como se fosse a única possível.
8) A norma ILG-RAG aplica estritamente o critério etimológico, enquanto no castelhano se permitem algumhas exceçons por razons históricas.
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