Valentim Paz-Andrade

(1898-1987)  

Irmandade de Santiago (Presidente)

“Quais som as razons que nos deve levar a afanar-nos no galego-luso-brasileiro e abandonar o galego tradicional que se vinha fabricando laboriosamente desde o século XIX? A primeira, a inteligibilidade mútua entre milhões de usuários, entre eles os habitantes de umha área em processo de expansom económica e demográfica como o Brasil” .

A sua obra ensaística mais conhecida é Galicia como tarea (p. 138), onde voltou a defender “que as diferenças de fonaçom e a grafia nom constituem obstáculo grave para o recíproco entendimento”. Ainda, Valentim Paz-Andrade chegou a fazer umha proposta ortográfica para o galego de tendência reintegracionista e publicou a sua última obra ensaística em reintegrado (Galiza lavra a sua imagem, 1985). Em 1968 publicou “A evolución trans-continental da lingua galego-portuguesa”, em Círculo de las Artes (ed.), 115-132, mui explícita defendendo a integraçom do galego na Lusofonia, como se pode ver nos seguintes excertos:

Chegou o intre de cifrar a importáncia do idioma -mais que na sua origem e seus serviços à criaçom literária ou histórica – no censo das pessoas que valendo-se da ferramenta verbal recebida no lar, podem entender-se pol-o amplo mundo” (Paz-Andrade 1968: 120).

Nom podiam deixar de produzir-se influxos, e adaptações, chamados a diminuir a identidade formal, entre a ponla primitiva e a fortemente evolucionada e longal. Mas umha e outra pertencem à mesma árvore lingüística” (Paz-Andrade 1968:121).

Hoje pouco representa o destino autónomo da fala galega. O que importa, por riba de todo, é o destino conjunto da língua galaico-portuguesa” (Paz-Andrade 1968:121).

Os termos da questom nom devem ser tomados no sentido de que o galego, para marchar em maior irmandade formal com o português, tenha que deixar de ser o que é. Nom se pretende chegar à unificaçom literal. Mas trata-se de conter a dissociaçom, fazendo os ajustes necessários para aproveitar as vantagens mútuas que um intercámbio permanente poderia proporcionar” (Paz-Andrade 1968:121).

Si agora quigéramos pôr lindeiros ao território lingüístico, basicamente uniforme, do galego-português, teríamos de situar em Ribadu e do Norte, e o do Oeste em Corumbá, deixando o Atlántico no neio. O primeiro marca a extrema do Continente europeu. O segundo, na frenteria boliviariana do Brasil, com Ponta Porá na paraguaya, marca as extremas no continente sud-americano. Mais além dumha raia e da outra, abrem-se os domínios da língua de Castela” (Paz-Andrade 1968:122).

Poucas aprendizagens mais fecundas, para um galego de hoje, que o recebido da comunicaçom na sua língua, com os imigrados japoneses radicados em Campo Grande ou Cuyabá, ou explorar a alma dos tupis-guaranis que baixam da tribo ao mercado das cidades, por citar só dous exemplos” (Paz-Andrade 1968:125).

As dissemehanças, contodo, som pequena cousa ao par das identidades. É miraculoso que aquelas nom chegassem a mais, tendo em conta o diferente acondicionamento exógeno em que viverom umha e outra ponla do mesmo tronco” (Paz-Andrade 1968:129).

Nengumha hierarquia conta mais, na escala do valor social das línguas, que a capacidade de estabelecer relações de entendimento direto com as gentes doutras áreas do mundo” (Paz-Andrade 1968:130).

Partindo das premissas que nos impõem os feitos consumados, pode chegar-se axinha ao ponto crítico. Que caminho deve escolher Galiza para ajustar a futura evoluçom da sua língua? A pergunta pressupõe que o porvir da nossa fala, nom pende somente dos factores alheios que venhem interferindo a sua reabilitaçom em cheio. Nom pode dalgum jeito estar reclamando certa virada no rumo da política interna do idioma?” (Paz-Andrade 1968:131).