MADA Producións

Inês Portela.

Criei uma marca própria, MADA producións onde compagino a representação artística (levando projetos como o Método Cardiofónico de Germán Díaz ou Trim, a banda de Pedro Fariñas, Fernando Barroso e Luis Peixoto, ou o próprio Sumrrá) com as produções a pequena escala.

OS COMEÇOS.

Gostávamos que nos apresentasses a tua actividade e a ti própria… Quais foram as motivações para te decidir por este campo? Como foi o teu processo?

O meu vínculo com a música vem desde criança. Na casa a minha mãe e pai escutavam muita música e transmitiram-me os seus gostos, comecei de muito criança as aulas de pandeireta… Mas acho que o momento chave para fazer disto a minha profissão foi o meu passo pelo Conservatório de Música Folque de Lalim. Comecei lá com 16 anos, no 2º ano após a sua criação. Comecei estudando pandeireta e, ao ter contacto com aquele mundo tão especial acabei ampliando outras aulas. Havia um ambiente muito peculiar pois praticamente ninguém era de Lalim (na altura só duas pessoas de Lalim estudavam lá), e isso fazia com que os que vínhamos de lugares diferentes acabássemos relacionando-nos, comendo juntos, falando… Nesse mesmo contexto foi onde começou a minha aprendizagem de tudo o que rodeia a música, pois promoviam que o alunado participasse em todos os aspetos, na produção dos eventos também. Foi assim que descobri que gostava muito dessa parte “de trás” da música.

Mas desse primeiro contacto até decidir trabalhar na representação musical deveu de haver algum facto significativo…

O meu primeiro trabalho de representação artistica surgiu a partir dessa atividade. Comecei a trabalhar para Bonovo, uma banda que se formou na altura e na qual participava um dos professores do Conservatório, Óscar Fernández. Estive 8 meses trabalhando para eles ao mesmo tempo que acabava a formação de Magistério. Quando acabei o curso, um dos músicos de Bonovo que trabalhava numa empresa de representação musical, Abada, quis levar-me pra ali trabalhar com eles já que o grupo ia ser representado pela empresa. Comecei a trabalhar ali então, mas fazia sobretudo produção desde o escritório, sem fazer a assistência em ruta que é uma parte muito especial do trabalho, posto que de alguma maneira ficas mais tranquila se segues todo o processo até o fim.
De Abada sai pela curiosidade e a necessidade de fazer o trabalho desde outra perspetiva. Depois da produção de um concerto de Marful no Festival Interparla e nos concertos de Rádio 3, conheci a Xacobe Martínez e L.A.R. Legido que na altura atuavam com Marful. Nessa convivência, Xacobe propôs-me trabalhar como representante de Sumrrá. Era um risco, sobretudo porque a minha formaçao é de Magistério musical e não tinha formação específica de produção; mas já tinha bastante experiência. Mas também um grande aliciente, portanto, disse que sim mas pedi tempo pra situar-me seguir formando-me, fazer bases de dados… mas, foi tão intensivo o trabalho, com uma gira por Sudáfrica incluída, que já entrei em cheio no trabalho.

O PRESENTE (Mada).

Nesse momento ainda trabalhavas como autónoma, mas também montaste uma cooperativa…

Sim, estive um tempo trabalhando com Sumrrá e depois com outras formações de Xacobe Martínez. No 2011, fundo uma cooperativa de atividades culturais com duas sócias mais, mas foi no pior momento da crise, coincidiu com a subida do IVA… Foi um momento difícil. Seguia trabalhando com Sumrrá mas também com outras bandas. Mas já no ano 2013 a cooperativa desfez-se e a inícios de 2014, comecei a trabalhar como autónoma mas com os mesmos objetivos, o mesmo plano de antes. Criei uma marca própria, MADA producións onde compagino a representação artística (levando projetos como o Método Cardiofónico de Germán Díaz ou Trim, a banda de Pedro Fariñas, Fernando Barroso e Luis Peixoto, ou o próprio Sumrrá) com as produções a pequena escala.

E como está a ser esta experiência?

A experiência é sempre boa porque eu decidi trabalhar com gente que me interessa muito, mais do que com gente, eu sempre falo de que levo projetos; não há contrato de exclusividade nem nada pelo estilo. E, tanto os projetos que levo como as produções que fiz até o momento estão a dar muitas satisfações.
Mas a época é muito complicada pela desaparição de festivais, os cortes de produção, o aumento do IVA… Na Galiza estamos acostumadas a ter cultura de forma gratuita e não há educação para pagar os eventos culturais. E é importante pagar para que funcionem. O resto das atividades comerciais pagam-se, e ninguém questiona esse preço. Um concerto move muitos trabalhadores a quem há que pagar, como em qualquer outra atividade.
Há a confusão de que a cultura não se deve pagar porque os músicos “gostam” do que fazem. O problema não é que não haja subsídios (uma das críticas que sempre se faz a esta atividade), mas que aqueles que houve na época de vacas gordas fez com que o público não esteja acostumado a pagar pelo que merece ser pago. Não é o mesmo fazer acessível que grátis, não é o mesmo que ajudem a produção cultural com uns impostos menos agressivos que que dêem um subsídio.

Então, onde achas que estão as principais dificuldades neste labor?México-Xira con Marcelino GalánSexteto

Na Galiza há muitas pessoas dedicadas profissionalmente à música, e de muito nível. As administrações, os partidos políticos e mesmo o público galego sente orgulho da sua produção musical e artística em geral. Mas depois isso não se traduz em apoio nenhum, nem institucional nem privado. E não estou a falar só de dinheiro, o apoio realmente necessário tem a ver com a facilitação de canais de promoção, de difusão, com o descenso do IVA… A ajuda não é só fazer contratações, mas é promover a informação e a formação desde as instituições.

Tivemos um exemplo claro no Womex deste ano em Santiago, foi um êxito quanto aos contactos que se fizeram e o interesse que mostraram os promotores. Mas agora, para fazer efetivo esse interesse, precisa-se ajuda institucional para as viagens, alguém que esteja disponível no AGADIC para filtrar toda a informação que há tanto na Espanha quanto na Europa sobre festivais, convocatórias…

rede nasa: “As fillas bravas”

O FUTURO.

E agora, quais são as perspetivas de futuro, os objetivos a meio praço?

O futuro sendo autónoma pode ser hoje dentro de duas horas… Não dá para pensar a meio praço.
Quero seguir com a linha que tenho agora, um número limitado de projetos e pequenas produções como as que faço no Pazo de Faramello que é um formato que está funcionando muito bem. Apesar da crise que foi muito complicada uns anos, agora este formato completamente autoproduzido e com um aforo limitado está a funcionar.

Em que é que consistem essas produções?

Pois até o de agora fizemos várias produções diferentes mas sempre com a mesma linha: mostrar o Pazo de Faramello com uma visita guiada, uma exposição de arte plástica e alguma outra atividade que tem sido desde concertos até obradoiros de cozinha.
O gerente do Pazo de Faramello mostrou-se muito interessado desde o princípio e isso facilitou bastante as coisas, por enquanto, todas as atividades que fizemos completaram o aforo. Mas também há que entender que o espaço é único, é um luxo. É um paço muito galego, está perto dum rio e entras num caminho rodeado de uma carvalheira, ficas isolada do mundo… E ao serem atividades com aforo pequeno, faz com que sejam mais íntimas, exclusivas. Aliás, há um horário flexível, as pessoas acabam ficando um pouco mais a conversar e cria-se um ambiente muito agradável.

E OS ARREDORES (Periferias).

Achas que na tua atividade há um especial vínculo com a identidade galega?

Bem, pra começar, toda a comunicação que faço, faço-a em galego. Mesmo quando as atividades são fora da Galiza faço a comunicação em galego, castelhano e inglês. Ainda que os projetos musicais com os quais trabalho são instrumentais, insisto em que os projetos são galegos.
Mas também já tive críticas por este tema, quando foi a gira de Sumrrá na Sudáfrica, em um dos concertos pagos pela embaixada da Espanha, saía a bandeira espanhola do lado da galega nas fotos, e houve gente que ficou ofendida por isso. Mas e então? A embaixada apoiou aquele concerto e colocou ali a sua bandeira, não vejo problema nisso. Se houvesse mais apoio por parte das instituições galegas com certeza que estaria a bandeira galega e pronto, mas isso não acontece.
Em geral nao temos uma ideia prefixada da identidade dos projetos, é algo natural, apresentamo-nos como galegos porque é natural, não o pensamos.

 Trabalham habitualmente noutros países de língua portuguesa?

A verdade é que não muito. Brasil é demasiado grande e têm demasiada oferta como para entrar com algo novo, e em Portugal não é demasiado fácil. Sim temos feito coisas no Norte de Portugal mas não costuma ser fácil. Eu acho que Portugal vê a Galiza como algo tão próximo que quase não o apresenta como “internacional”, então fica meio em terra de ninguém.

Enquanto ao género, tens percebido alguma peculiaridade no teu trabalho pelo facto de ser mulher?

Pensando-o bem, trabalho sempre com músicos homens, mas tenho que dizer que na produção, na parte de trás, a maioria somos mulheres. Ou igual número ou mesmo mais, portanto não há muita diferença. Contudo, custa contactar com promotores públicos, notas certas resistências mas nao sei se é por ser mulher ou por ser jovem. Com os músicos e resto de trabalhadores sempre tive a melhor das experiências. Nunca há surpresas porque uma mulher esteja a organizar, mas também há que dizer que escolho as pessoas com quem se pode trabalhar bem.
Na hora de trabalhar não me apercebo de nada, provavelmente por isso que dizia de que somos muitas mulheres na produção. Deve ser que as mulheres temos essa capacidade de organização muito acentuada, provavelmente fomos bem educadas para isso.

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