Revista Cerna, Rádio Cerna e ADEGA

Belén Rodríguez Fernández.

Eu chamo-me Belén Rodríguez Fernández, sou licenciada em jornalismo pela USC e desde há 10 anos trabalho em ADEGA, a associação pela defesa ecológica da Galiza, como vogal de comunicação e coordeno a elaboração da revista Cerna, que é a revista de ecologia e meio ambiente da Galiza, mais tudo o que tem a ver com o projeto Rádio Cerna. Ademais, como sócia e voluntária de ADEGA, participo nas atividades que se desenvolvem desde a delegação de ADEGA-Lugo e em outras delegações.

Que é o Projeto Rádio Cerna?

É um programa de 10 minutos diários, mas agora reduzimos a 3 dias por semana, que emitimos na rede, por meio de Adega, e também estamos através de umas 20 emissoras de rádio locais. Assim podemos chegar à gente através dos canais tradicionais e, desde o ano passado, também através da rede.

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Quais são os principais objetivos da organização ADEGA?

ADEGA é uma associação de âmbito nacional galego, este ano faz 40 anos de existência. É das primeiras associações de defesa do meio ambiente. O principal objetivo é a defesa do meio ambiente, das suas ameaças e, além disso, o que nos diferencia de outras entidades ecologistas a nível estatal é que temos especificamente um caráter galego e temos em consideração outros fatores, não só ambientais, mas também sociais, culturais, etc.

Portanto, estais muito vinculados com a identidade galega…

Sim, estamos fortemente vinculados com a nossa identidade, de facto, nos estatutos, a defesa da língua é um dos nossos objetivos principais, além da defesa ambiental.IMG-20150204-WA0017-1

E que tal está a ser a experiência?

Está a ser uma experiência boa. A minha implicação com o ecologismo, e em concreto com ADEGA, surgiu a partir do meu trabalho aqui mas inevitavelmente acabas identificando-te com os objetivos da organização, com a sua maneira de ver o mundo, com os seus princípios e naturalmente estou totalmente identificada com os seus valores e com tudo o que defende. Agora conheço e sei bem o que significa esta tarefa e quanto custa de fazer, é complicada, mas muito necessária e às vezes muito gratificante também.

 

Fazem-se atividades desde ADEGA para o público em geral?

Temos várias maneiras de trabalhar:
Temos por um lado o plano mais reivindicativo, como são a denúncia, mobilizações, manifestações, tudo em relação direta com a administração pública para reivindicar certos direitos, que temos todas e que tem o meio ambiente.
Parte educativa ou formativa: são todas aquelas atividades que fazemos de tipo formativo, através da nossa equipa de educação ambiental. Aqui desenvolvemos vários projetos: Projeto Rios, tudo o que tem a ver com resíduos e a gestão dos resíduos, por exemplo a compostagem domiciliária, comunitária, etc.
A parte de divulgação, que seria trasladar à sociedade tudo o que nós defendemos, as nossas atividades, etc. Porque se não chegas à sociedade não serve de muito. Aqui entra o projeto da revista Cerna, a revista de divulgação e comunicação de ADEGA, e Rádio Cerna.

Há colaboração habitual entre as diversas associações? Ou pensas que ainda haveria trabalho pendente neste sentido?

revista_cernaEu penso que nos últimos anos temos avançado muito nisto, em que deixámos a um lado desconfianças a juntar-nos com outros coletivos. Porque senão nos juntarmos não conseguiremos nada. Se a causa o valer, temos que nos juntar e superar as diferenças de umas e de outras. O nosso objetivo é que sabemos o que se tem que defender e defendemo-lo; em face a uma administração que em geral está surda e cega fronte a tudo o que se passa. Quantas mais formos, mais rápido e melhor conseguiremos o que queremos.
Estamos em muitas plataformas, por exemplo, no Foro do Caminho; na Aliança por um galego rural vivo; em várias plataformas contra a minaria agressiva; colaboramos com a plataforma de Sarria em defesa do rio; com a plataforma contra a A76.

E têm colaboração com alguma associação do mesmo âmbito de algum país de língua portuguesa?

Temos muitas similitudes com Portugal enquanto à problemática ambiental, especialmente através do nosso trabalho de educação ambiental, muitas vezes olhamos para Portugal para ver que iniciativas estão a desenvolver ali e estabelecemos contacto com eles. De facto um dos últimos projetos de educação ambiental que pusemos em andamento chamado de “Charcos com vida”, realmente é um projeto que nasceu no Norte de Portugal, em convénio com o CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos de Portugal), eles deixaram de desenvolver este programa, e ao verem que nós estávamos interessados nele, cederam-no-lo.
Também, para o mês de julho vai haver um congresso de educação ambiental em Portugal, e nós participamos neste tipo de congresso, foros, etc. Porque as similitudes com Portugal são evidentes, temos os mesmos problemas: dos incêndios, do rural, de pragas, etc, então temos que desenhar mecanismos de combate em conjunto. É inevitável não olhar para Portugal.
Outro exemplo é o tema do cavalo selvagem, o que lhe chamam garrano em Portugal, é um tesouro que temos como país, como cultura diferente e que temos que pôr em valor. Neste caso, Portugal optou por tentar declará-lo Património da Humanidade, e no caso galego pois não se lhe dá a importância que se deveria dar. De facto os donos dos cavalos estão a ter bastantes dificuldades para manter as cabanas dos cavalos, encontram-se um bocado desamparados.

Pensas que o género influi nalgum aspeto do teu trabalho, ou no tema associativo?

Nas assembleias da associação somos mulheres a maioria, na diretiva estamos a 50%. Nos últimos anos, a associação foi presidida por uma mulher. Na associação também buscamos e defendemos a paridade.
No momento de desenvolver o meu trabalho na rádio, sempre faço uma observação: a maioria das entidades, plataformas, coletivos gente académica que entrevisto são homens. O 90% da gente que entrevisto, embora eu procure que sejam mulheres, são homens. Isso é um bocado representativo do que se passa. Nesta profissão podes falar com muita gente e serve para observar algum dos aspetos positivos e negativos que nos envolvem, e um dos negativos que vejo é que os homens seguem a ter mais cargos de responsabilidade nas entidades do que as mulheres. Os coletivos onde a cabeça visível é uma mulher são muito poucos.

Por último, como vês o teu futuro, tanto laboral como no mundo associativo ou no meio ambiente?

Desde o ponto de vista do movimento ecologista, penso que o futuro está em juntar esforços e sempre dentro das nossas possibilidades. Se a sociedade em que vivemos não toma consciência de que o meio ambiente é importante, e que pode até ser mais importante do que a economia. Se não defendemos os recursos que temos, haverá que ir buscá-los a outro sítio, e eu penso que é mais inteligente defendê-los que os deixar perder.
Então, eu pretendo seguir apostando pela educação ambiental para tentar conseguir que o movimento ecologista seja cada vez mais grande e mais influente, e que possa ter algum papel no futuro. Tem que estar, inevitavelmente.
A nível pessoal, sei lá! A longo prazo não tenho nenhum projeto mais do que este, do qual gosto muito, então é o que quero fazer, seguir a trabalhar por este projeto, porque tenha mais visibilidade, que muitas vezes os médios de comunicação no-la restam.
Muitas vezes por falta de tempo ou por excesso de trabalho seguimos a funcionar com os velhos modelos, e há que atualizar-se e trabalhar muito, porque ainda há muito para fazer. Mas isto não só depende de mim, já que este projeto sobrevive muito com ajudas públicas e do que possam contribuir os sócios. Assim, se perdemos as ajudas públicas também poderíamos perder o projeto.

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