Patologia animal

Ruth Rodríguez

Chamo-me Ruth Rodríguez Bermúdez, tenho 25 anos e sou  professora em estágio do departamento de Patologia Animal nas matérias de Propedêutica Clínica e Patológica Geral em Veterinária na USC e aluna do Doutorado do Departamento de Patologia Animal. Além disso, sou militante em diversas associações como a Liga Estudantil Galega, A.C. Cultura do País ou Proxétate em galego. Também faço parte da Associação de divulgação científica da Galiza, que somos jovens investigadores do Campus de Lugo.
Eu sou de uma vila pequena da Marinha, O Valadouro, e na minha casa sempre houve animais de granja diversos, especialmente vacas e ovelhas. Eu em criança fui muitas vezes com a minha avó a assistir a partos das nossas vacas ou das dos vizinhos. E gostava muito. Decidi-me por este caminho profissional talvez por isso, porque para mim era o habitual. Eu dedico-me mais à investigação do que à clínica, em todo o caso, faço investigação em vacas mas para a clínica gosto também dos cães e dos gatos, e não gosto dos cavalos.

Como está a ser a experiência, gostas de alguma coisa em particular?
Gosto muito da investigação em geral, é um campo muito aberto e além disso permitiu-me fazer um par de viagens ao estrangeiro para poder aprender. Uma delas foi a Nova Zelândia, onde frequentava as aulas em inglês. Nunca tive nenhum problema por isso, mas, por vezes, era um bocado cansado e havia momentos que a minha cabeça explodia… Tive a sorte de encontrar lá companheiras e companheiros do doutorado que são brasileiros. Foi então quando percebei que a minha língua é internacional, já que, para mim falar com eles na minha língua era um descanso para a cabeça! Também viajei à Argentina onde encontrei muitas e muitos brasileiras e brasileiros e podia falar com eles como se falasse com alguém da minha aldeia. Eu percebo melhor o sotaque do Brasil do que o de Portugal, mas bom. Foi uma experiência muito linda e enriquecedora.

Suponho que no teu trabalho terás muita vinculação com a identidade e a língua galega, podes falar com normalidade a tua língua?ruth
Pois a verdade é que depende muito do âmbito. Na faculdade não se fala muito galego. As aulas são geralmente em espanhol, exceto alguns professores mais comprometidos com a língua. Eu penso que em Veterinária os falantes de galego (professores e alunos) seremos 10%. As minhas aulas são em galego, anuncio isto nos inícios do curso, para que não haja ninguém que me dê problemas. Nunca tive incidentes sérios com isto.
Os veterinários com quem vamos a fazer o nosso estágio, geralmente falam em espanhol. Mas os ganadeiros falam galego. E têm mais confiança com os falantes de galego do que com os de espanhol.
Uma das iniciativas que temos na Liga Estudiantil é a promoção e divulgação da nossa língua, especialmente na faculdade, mas também noutros âmbitos da sociedade. A raiz disto surgiu uma iniciativa chamada Proxéctate em galego, um grupo de estudantes e professore/as que nos unimos para divulgar e promover o uso da nossa língua através de diversas ações. Por exemplo, desde a CNL de Veterinária já lá vão dois anos que, todos aqueles professores que quisessem, poderiam deixar os seus apontamentos para os serem traduzidos para o galego. O Serviço de Normalização Lingüística (nós) faz esta tarefa e ficam à metade do preço para todos os alunos que os imprimam em galego.

Como começou Proxéctate em galego?
Tudo começou quando, os que depois fomos membros da Liga que naquele momento éramos dos CAF, fizemos um curso que se chamava “Achegándonos ao medio rural”, que queria revalorizar os veterinários no rural, as raças autóctones e a língua galega. Contactámos com Marta López Alonso, que agora é a minha tutora de tese, e montámos o curso com tão boa sorte que coincidiram nele professores/as vinculados às comissões de normalização linguística do Campus e gente do serviço de normalização; assim alguns docentes interessados no galego começaram a combinar habitualmente para fazer outras atividades. Assim montaram “Proxéctate”. Eu entrei mais tarde quando já comecei a fazer investigação no departamento porque no momento inicial só tinham docentes mesmo. De facto sou a única que sigo a estudar na USC.

Nalguma das associações de que fazes parte, tens algum contacto com alguma associação de algum país de língua portuguesa?
Com Cultura do País habitualmente sim, fazemos palestras, concertos, etc. Todos os anos celebramos uma noite lusófona, que coincide com o 25 de abril e organizamos o concerto de algum cantor português ou brasileiro.
Na associação de divulgação científica temos habitualmente alguma pessoa estudante lusofona, do Brasil especialmente. Ela nos escreve e nos fala em português e nós a ela em galego, e percebemo-nos todas muito bem!

Pelo facto de ser mulher tiveste alguma vez algum problema na tua profissão? Como reagem os ganadeiros perante isto?
Pois com os homens não tive problemas, mas sim anedotas. Os senhores têm medo que me magoe ou que caia da plataforma de inseminação. Curiosamente, o facto de ser mulher deu-me mais problemas com as próprias mulheres, por questões, sobretudo de superstições. Não querem que assista aos partos porque pensam que não vai nascer bem a bezerra ou não querem que insemine as vacas porque pensam que não vão ficar grávidas….
Em qualquer caso, nem os senhores, nem as senhoras pensam que seja veterinária; antes pelo contrário, por vezes pensam que sou a filha ou a namorada do veterinário…

Levas muitos anos no mundo associativo, pensaste alguma vez em deixá-lo e passar a outra coisa?
Pois a verdade é que a Liga tenho vontade de deixá-la e centrar-me noutras associações, mas de momento não posso sair dela porque é necessária gente que fale e defenda a nossa língua. Do doutoramento em Lugo não há ninguém mais que eu própria, por isso, por enquanto, vou seguir.

Como vês o teu futuro, tanto laboral  como no mundo associativo?
O meu futuro laboral na Galiza vejo-o muito difícil, quando acabe este contrato na USC vai ser muito complicado seguir com a  investigação aqui, assim que terei que pensar se emigrar ou tentar trabalhar na clínica.
Enquanto ao associativo, sempre que possa, vou seguir trabalhando nas associações com as que estou envolvida atualmente, porque penso que é necessário e porque desfruto muito.

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