ANTES DA POLÍTICA: PINCELADAS DE PSICOLOGIA, SOCIOLOGIA E ÉTICA

20-04-11

Reproduzimos artigo publicado no portal galiza livre polo membro de Agarimar, Miguel Garcia.

Na Galiza de hoje, a construçom de alternativas políticas bate umha e outra vez com umha realidade tam teimuda como frustrante: as sementes melhor desenhadas e regadas com mais mimo, som incapazes de germinar e medrar na nossa terra. Os projectos revolucionários que prendérom em outras épocas e que ainda protagonizam batalhas invejáveis em outras latitudes, demonstram-se umha e outra vez inúteis para abrir um frente galego contra o Estado e o Capital. Os discursos nom convencem, as massas nom respondem, as unidades nom fraguam, as mechas nom prendem. A política, em definitivo, nom funciona.
Ansiosos por obter resultados, alguns apostam por repetir umha e outra vez o experimento, confiando em que, a força de tentá-lo, o carro acenda definitivamente à quarta ou à quinta. Em demasiadas ocasions, porém, o veiculo ou os condutores ficam sem ar no intento. Em todo caso, o certo é que ainda ninguém conseguiu po-lo em andamento.
Ocorre-se-me umha outra possibilidade: baixar, abrir o capó, e comprovar o estado das peças do carro. Analisar a fertilidade da terra, ante a suspeita de que os nossos inimigos tenham estado a envenená-la, e resulte inútil botar e regar as melhores sementes sem sanearmos previamente o meio biológico no que tenhem que germinar. As sociedades, a fim de contas, som também engrenagens complexas, sistemas vivos. Parece fácil pensar que um projecto político, como realidade humana que é, esteja em algumha medida condicionada pola saúde das dimensons psicológica, social ou moral das pessoas a quem vai dirigido.

Umha sociedade enferma

Vivemos numha sociedade psicologicamente doente. Assim o afirmam ano trás ano as estatísticas ascendentes de consumo de psico-fármacos, baixas e consultas médicas, mas também o nosso conhecimento directo de pessoas com algum tipo de dor espiritual. Se neurose é qualquer dor psicológica, nom podemos negar que a ansiedade, a depressom, a baixa auto-estima ou a inveja geralizadas desenham sem exageraçons umha sociedade neurótica. Nom tenho os conhecimentos nem a intençom para descobrir aqui qual é a razom última do estado lamentável do nosso ánimo, mas si me atreverei a apontar algumhas causas que me parecem convincentes.

Umha delas é que umha sociedade fundamentada no consumo nom pode ser umha sociedade emocionalmente satisfeita. A necessidade compulsiva de consumir é radicalmente incompatível com um espírito em paz. A infelicidade, a instabilidade emocional, a fome psicológica, estám detrás da necessidade irracional de encontrarmos na adquisiçom de trebelhos, na competiçom profissional ou no mercado sexual o reconhecimento, a realizaçom e a estima que somos incapazes de encontrar em nós próprios. Dito de outra forma: a sociedade de mercado exige que vivamos num estado de insatisfacçom permanente, absolutamente necessário para manter em movimento a roda de produçom e consumo. Ela é, ao mesmo tempo, a causa e a conseqüência dumha precariedade emocional profunda, baseada em níveis mui deficientes de auto-estima e autonomia psicológica que nos condenam a buscar acougo de forma ansiosa (e impossível) numha sociedade que substitui transcendência por intensidade, sociabilidade por conectividade e amor por testosterona.

Aprofundemos mais: é um facto que se esta sociedade de consumo assentou economicamente nessa uniom de imperialismo e tecnologia à que se denominou globalizaçom, sociologicamente botou raízes entre as primeiras geraçons criadas na separaçom materno-filial, na desatençom e ocultaçom emocional e na puericultura disciplinar. Ao longo do século XX este tipo de pedagogia, aplicada antes para a educaçom na submissom, na obediência, na disciplina e na agressividade dos filhos herdeiros das elites aristocráticas, começarom a geralizar entre as camadas populares a eliminaçom da lactaçom materna, a ruptura do apego ou a negaçom dos desejos e necessidades das crianças, beneficiando-se para isto da incorporaçom das mulheres ao trabalho assalariado e da apariçom dumha lucrativa indústria da criança artificial. Se é certo que a insatisfaçom das necessidades infantis provoca instabilidades profundas nos mesmíssimos alicerces da psique adulta, nom deveríamos desprezar o papel que a implantaçom hegemónica destes modelos de criança tivo na saúde mental de todas e todos nós. Um paradigma que assenta na justificaçom das carências emocionais e na irresponsabilidade das e dos cativos, facilmente produzirá adultos inseguros e eternamente infantis, incapazes de se tornar sujeitos da sua própria história, de se rebelar contra umha autoridade sempre paterna (à que se odeia, mas da que se depende).

O resultado, seja como for, é umha sociedade de indivíduos doentes, na que se registam níveis de sofrimento psicológico tam elevados que incapacitam os seus membros para a colaboraçom e a generosidade (atitudes, estas, que nom podem ser reais se nom botarem raízes em altos níveis de auto-estima e empatia). A dor psicológica, tantas vezes desprezada ou estigmatizada, constitui para os movimentos revolucionários umha realidade da mesma magnitude e transcendência que umha rotura de ligamentos para um desportista de elite. Ante esta situaçom, por desgraça, o independentismo tampouco acostuma ser um espaço de sanidade no que cuidar e reparar o estado anímico das e dos militantes; antes bem, habitualmente parece mais um viveiro daqueles mesmos valores que convertem em inumana a sociedade de mercado.

Escrito ?s 10:22:09 nas castegorias: Formaçom
por maesepais   , 837 palavras, 675 views     Chuza!

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