E o texto por se o queres copiar:
Há vidas que de serem recolhidas num livro pareceria que estivessemos a ler umha obra de ficçom saída da pena dum romancista com um exceso de imaginaçom, tal que assim é a de Eduardo Ponte ?o Nécoras?.
Nascido a 17 de Março de 1886 em Compostela no seio dumha família de padeiros assentada no Campo das Hortas, as primeiras novas que temos das suas andainas recolhemo-las dos jornais da época, e referem como em Janeiro de 1912 sequestra a namorada, Adela Garcia, para poderem casar eludindo a oposiçom da família dela. Nom muito tempo depois o nome de Eduardo Ponte volta a sair nos jornais, mas nessa ocasiom por um sucesso de cariz distinto que finalmente acabará por provocar a sua saída do país.
Nessa ocasiom os jornais referem como em Outubro de 1912 Eduardo Ponte golpeia um guarda municipal em Santa Susana; nom deveu ser menor a malheira já que é julgado e condenado a dous anos de cadeia. Para evitar o ingresso em prisom embarca para Buenos Aires.
A aventura americana
Na viagem pom-se de manifesto o carácter da personagem. Eduardo Ponte trabalha como padeiro nas cozinhas do barco e ali liderará um protesto reivindicando melhoras nas condiçons laborais da tripulaçom.
Nom devêrom ser do agrado da companhia navieira as actividades do ?Nécoras? já que fica na Argentina e nom continua a viagem. Lá é onde o encontramos nos finais da década, plenamente inserido no forte movimento operário de orientaçom anarquista que se desenvolve neste tempo na zona da Patagónia e no qual destacará o liderato de vários emigrantes de origem galega.
Assentado na localidade de Puerto Deseado, onde trabalha de escultor e dirige o jornal ?Sud-Oeste?, é detido no contexto dumha greve geral em Abril de 1918. Libertado ao pouco tempo, decide deslocar-se ao vizinho Chile, instalando-se em Punta Arenas.
Já em Chile nom abandona o compromisso com o movimento operário, e isto implicará umha nova detençom no barco militar ?Centeno? e a sua deportaçom nos inícios de 1919 para a Argentina.
Novamente na Argentina instala-se em Rio Gallegos, onde volta a ser preso pola sua actividade subversiva. Desta feita é enviado à prisom situada na latitude mais austral do planeta, em Ushuaia.
A aventura americana do Nécoras acabará nos inícios de 1920, quando o governo argentino decide aplicar-lhe a famosa ?Lei de Residência? (umha lei promulgada com o único objectivo de purgar da Argentina os activistas da esquerda operária de origem estrangeira) e isto acabará por fazê-lo voltar à sua cidade natal.
De volta em casa
O retorno à sua localidade natal nom vai acalmar a rebeldia de Eduardo Ponte. Quem o conhece nesta época lembra-o como: ?Anti-clerical incorrigível e ovelha negra dumha família acomodada de padeiros estabelecidos no campo das Hortas. Um dia decidiu que nom era a sua missom neste mundo continuar a profissom dos parentes e preferiu montar um local mais acorde com o seu gosto, um bar, a que pujo de nome O Inferno. Eduardo casara com umha menina da Corunha de alta posiçom que, ao pouco, o abandonou por incompatibilidade pessoal? .
Parece ser que o seu profundo anticlericalismo tem muito a ver com umha mulher da sua família que fora amante dum coengo da catedral e que morreu em consecuência dumha hemorragia provocada por um aborto após ficar grávida do dito clérigo.
A sua fobia anti-religiosa manifestou-se em inúmeros episódios escandalosos por vezes cómicos, tais como a sua persistência em boicotar as procissons que passavam pola rua do Vilar ou a sua incontrolável paixom pola blasfémia diante de qualquer padre que passasse por ele.
Também continuará ligado ao movimento operário, e como prova a sua participaçom como assessor do Sindicato de Padeiros ?La Espiga?, filiado à CNT local, durante a greve de 1921.
Mas a sua heterodóxia nom casará bem com enquadramentos ideológicos excessivamente estreitos,e isto provocará um ou outro enfrentamento com a CNT. Exemplo disto é o anúncio público da sua intençom de se apresentar como candidato às eleiçons de 1923.
Nas décadas de 20 e 30 do século XX a figura de Eduardo Ponte torna-se um referente público das esquerdas compostelanas, sendo habitual a sua participaçom em comícios públicos como aquele celebrado na Alameda em que rechaça os aplausos que lhe dedica um público entregado dizendo: ?deviam todos os cidadaos galegos concentrar no coraçom e no cérebro essa força espontánea que fai que batam palmas. Que essas maos sejam utilizadas para enforcar os traidores.? E acaba dizendo: ?Umha Galiza soviética, se for preciso?.
Prisom e martírio
A releváncia pública que atingiu converteu-no numha vítima fácil da repressom. Já em 1934, a raiz da revoluçom de Astúrias, foi detido de forma preventiva.
Em 1936 o fascismo atrapa-o e converte-o num dos primeiros ocupantes da Falcona, os calabouços do Paço de Rajoi, que na altura também serám conhecidos por Camilo Dias, Ángelo Casal, Joám Jesus e tantos outros.
De Compostela é levado de comboio para Leom, ocasiom que aproveita para fugir. Lamentavelmente nom consegue um refúgio seguro e é apanhado de novo e assassinado.
Som várias as versons que circulam sobre como aconteceu a sua última detençom e morte. Há quem diga que foi apanhado à porta da sua própria casa; outras pessoas afirmam que foi na casa dumha família amiga e mesmo há quem assegure que o apanhárom na Ponte da Rocha.
Seja como for, nom se lhe deu umha segunda oportunidade e, depois de ser assassinado, o seu cadáver coberto de sangue foi deitado na traseira dumha carrinha e passeado por Compostela como um trofeio polos falangistas, que cantavam o ?Cara al sol? orgulhosos do que tinham caçado.
Morria assim Ernesto Ponte Carrazedo, O Nécoras, um rebelde no sentido mais completo da palavra cuja vida era, em si mesma, um insulto intolerável para os fascistas.
Para saber mais:
Bayer, Osvaldo; La Patagonia Rebelde, Editorial Planeta,
Escrito em 29-10-2012,
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