Penar a Língua
por José Alberte Corral Iglesias
Os ideólogos e os políticos ao serviço do capitalismo financeiro, sabem que é preciso que os valores e a concepçom do mundo por parte dos povos e trabalhadores seja o induzido polas sinarquias. Se isto nom acontece, a derrota e o domínio sobre o conjunto das classes trabalhadoras e dos povos nom está assegurada. O engano -alienaçom- é o sustem fulcral do sistema, a força -repressom- é a derradeira medida a tomar pola burguesia para manter o seu poder. A forteza do domínio das oligarquias apousa na ideologia, esta fai que os trabalhadores, em tanto que indivíduos, classe, e povo, assumam como própria a cosmovisom dos seus nemigos de classe.
Por isso estamos mergulhados numha guerra ideológica permanente; e a língua é fulcral neste enfrentamento, pois é sabido que ao perderem os povos a sua língua e cultura própria deixam de ser um colectivo em si e para si para se converter num agregado mais ao ideário e à economia regida polos grandes grupos capitalistas que hoje dominam o planeta. Quando os povos indígenas da América lhes foi ingerido um novo imaginário e perdêrom a sua língua, a sua cultura, desaparecêrom como naçons para se converter em peons do colonizador. Só com o terrorismo económico -precaridade laboral, despido livre, etc...-; e com a dominaçom política, sejam os regimes pseudo-democráticos eleitorais ou os regimes tirânicos, nom é possível garantir a sustentaçom do sistema capitalista. É preciso a identificaçom dos submetidos com a razons económicas, e ideológicas dos grandes patrons. Isto implica que os oprimidos nom percebam nem categorizem os seus próprios interesses de classe.
O submetimento lingüístico e cultural é um dos mecanismos para subordinar aos povos e suas as classes populares aos ditados do grande capital; impossibilita a desenvolver a consciência colectiva dos humildes com os seus próprios interesses, de vez que implementa a aceitaçom do domínio económico e social das oligarquias. A questom lingüística é fulcral para compor as políticas emancipadoras de classe e naçom. É impossível a emancipaçom económica e social sem a emancipaçom cultural, e o eixo articulador no caso galego é a língua galega. É bem significativo a promulgaçom no DOG do 25 de Maio do 2010 das directrizes de ensino de matérias
Artigo 6º.3.- Educación primaria
Impartirase en galego a materia de Coñecemento do medio natural, social e cultural, e en castelán a materia de Matemática
Artigo 7.3º.- Educación secundaria obrigatoria
Impartiranse en galego as materias de Ciencias sociais, xeografía e historia, Ciencias da natureza e Bioloxía e xeoloxía, e en castelán as materias de Matemáticas, Tecnoloxías e Física e química.
Nesta estrutura legal de abuso no lingüístico, manifestado na regulaçom das línguas de uso segundo que matérias oferecidas, evidencia a construcçom do imaginário do alunado através da consideraçom de que o serio, as ciências-puras, som dadas em castelam, mentres o galego fica subordinado as outras disciplinas de menor rango no universo do saber. Esta regulaçom tem os seus alicerces na opressom terroristico-lingüística do franquismo, do que o PP é continuidade.
Esta vontade consciente de hierarquizar às línguas revela-se na cimentaçom dum imaginário colectivo de alienaçom dos galegos com respeito à própria língua. Para vencer esta opressom lingüística é preciso quebrar este discurso de dominaçom e reverter a tendência de assentir com a desigualdade como característica de organizaçom do humano. Esta aceitaçom é manifestaçom da interiorizaçom do discurso de marginalizaçom e discriminaçom do galego, dado que de facto o seu uso está postergado ao nom importante, o que nos vem dizer a realidade social na que estamos mergulhados em tanto que povo e naçom.
O desempenho dumha política de contestaçom em todo-los eidos: económicos, ideológicos, sociais... será o sustentáculo para restabelecer a presença da língua galega em todas-las funçons. O uso consciente da língua por parte dos falantes é a práctica que expressará a nossa vontade de nos empoderar como povo e indivíduos livres.
DERROCADA FINANCEIRA
http://resistir.info/
A derrocada financeira acelera-se. Despencam as cotações em bolsa de bancos importantes da Europa e dos EUA. Em 4/Fev a do Credit Suisse caiu ao nível mais baixo dos últimos 24 anos. Desde que a UE desencadeou as regulamentações do bail-in os bancos europeus começaram a implodir. No caso do Deutsche Bank, a sua exposição aos derivativos (ainda a dívida tóxica desencadeada pela crise dos sub-prime de 2008) é 16,4 vezes maior do que todo o PIB da Eurozona ? não há BCE que lhe valha. Do lado de lá do Atlântico, a situação não é melhor. Um quinto da capitalização dos bancos Morgan Stanley, Citigroup e Bank of America já se evaporou.
Mas no telelixo português a desinformação é contínua. Dizem os seus comentaristas económicos que a situação está a melhorar e a saída da crise está ali ao virar da esquina...
O sentido comum
Na construçom do socialismo nom podemos prescindir da realidade concreta na que se desenvolve a actividade de fazer agromar a versom subjacente, a que nega a ideologia dominante cimentada polos mass medias instituidoras do imaginário preponderante, constructo que consolida o poder do bloco de classes dominante. Agora bem, este imaginário unificador e coesivo nom se conforma num todo comum, a homogeneidade é proporcionada polos diferentes níveis de ideologia, vem dada desde a heterogeneidade: a religiom, a educaçom, a filosofia, os costumes, o folclore, o sentido comum... som constructos necessários para que as maiorias sociais tenham como natural a sua submissom, que vem sendo um dos muros ideológicos mais forte das oligarquias e dos seus gestores na defesa dos seus interesses de classe; utilizando diversos factores, entre os que adquirem fulcral relevância: o sistema educativo e o sistema religioso, para assim elaborar a ideologia de aceitar a submissom como um componente conatural da organizaçom social. Velaqui, na super-estrutura, onde se produz a hegemonia político-cultural do bloco social dominante. Para manter o domínio sobre a totalidade social, as oligarquias estám obrigadas a dirigi-la, e para isto precisam o controlo do imaginário colectivo. Hoje a televisom e demais médias cumprem o papel de criar a coesom política e cultural do todo social para garantir ao bloco social que conformam as diversas sinarquias a direcçom e o domínio do conjunto da sociedade. O paradoxo é que hoje os mass médias venhem a cumprir o rol do que Gramsci denominava o Príncipe Moderno de jeito invertido. A sua estratégia ideológico-política de produzir e suster o consenso mantem às classes subalternas na mansedume aos poderes reais (financeiros, eclesiásticos, etc...) bloqueando-lhes a possibilidade de análise da realidade social e aceitar a mesma como natural. Esta estratagema permanente furta ao conjunto das classes trabalhadoras a ferramenta mais idónea para traçar políticas que subvertam a situaçom económico-política na que se acham mergulhadas.
As sociedades complexas, de capitalismo avançado, implicam umha heterogeneidade das classes trabalhadoras, entre as que as profissons liberais que até bem pouco constituíam boa parte dos intelectuais orgânicos do sistema, criadores da construçom do consenso (convém nom identificar com os intelectuais políticos), hoje estám proletarizadas, som assalariadas; a sua sobrevivência, que os contratem ou nom, depende da arbitrariedade dos patrons; o que cria umha mudança radical no tecido que conforma a força de trabalho. O que nom supom que estes novos proletários assumam a sua ubiquaçom nas relaçons sociais de produçom, senom que muitos dos mesmos fornecem os corpos gerenciais do sistema, constituindo o que poderíamos denominar desde umha visom sociológica e politica, as classes intermediarias. Pois sendo assalariadas, a sua funçom nas relaçons sociais de produçom é a intermediaçom entre as sinarquias e os trabalhadores.
A existência dumha ditadura do capital nos Estados complexos e mui estruturados é consubstancial com a hegemonia ideológica, política, do bloco social oligárquico. Poderíamos afirmar que para a existência da democracia, é inerente que a ditadura do capital esteja acochada sob a hegemonia cultural e ideológica da grande burguesia. Para a construçom e imposiçom ideológica através do consenso precisa da aliança de classe com as classes intermediarias, estamentos profissionais e gerenciais do sistema; e da propriedade directa ou indirecta dos média para actuar sobre o imaginário das classes trabalhadoras e homogeneiza-las ideologicamente em torno aos mitos e signos da cultura do espectáculo, da publicidade, e da aparência ou imitaçom.
O imaginário colectivo nunca é umha construcçom espontânea, surgida da nada; é sempre expressom da alienaçom real-concreta. Jamais pode ocorrer que um fenómeno de alienaçom ideológica (real-abstracto) nom venha dado por um feito de alienaçom na estrutura sócio-económica (real-concreto). A educaçom junto com a religiom constituem os constructos fulcrais na conformaçom do imaginário dos estamentos profissionais e gerenciais -hoje no Estado espanhol o ensino nas cidades está dominado pola escola concertada, na sua maior parte, eclesiásticas - que é assumido em parelho polo conjunto da sociedade através da imitaçom e na vacuidade da cultura-espectáculo. Este sistema de dependência (alienaçom na estrutura sócio-económica a carom da alienaçom ideológica) forma o sentido comum, o grande acumulo de fidelidades à organizaçom social económica do capitalismo; constituindo umha das mais grande ferramenta ao serviço das oligarquias e sempre disposta a trair qualquer impulso subversivo.
É preciso agir para derrubar o sentido comum. Subverter esta super-estrutura que assimila a visom da realidade dos subjugados à da oligarquia é fulcral para à vez poder acabar o saqueio da riqueza colectiva criada graças à acçom da força de trabalho, seja esta intelectiva o física. Agora bem, sem poder económico, sem poder mediático, como será possível abater o sistema capitalista? Defronte da mais acabada expressom da barbárie, o capitalismo; as mulheres e homens guímaros estám de novo na presença da velha pergunta, Que fazer?
LISTA DE PRODUTOS A BOICOTAR: -
-FRUTAS: Mangas e melons CARMEL. Abacate ecológico Ecofresh-Carmel.
-TECNOTRON: Foto matom e outras instalações recreativas de rua.
-NANAS: Estropalhos ou buchas saponáceos.
-PATACAS: Variedade Mondial, LZR (Em Mercadona) variedade Vivaldi e Desiree.
-VINHO: Carmel Mizrachi Wines, vinhos de Israel.
-ESHET-EYLON: Classificaçom automática de frutas.
-NETAFIM: Equipas de rego.
-MILONOT: Pensos para o gando, Planta têxtil algodoeira, Central de mecanizaçom do algodom, Matadouro de aves, Envasado de frutas, Processado de frutas e hortaliças ou legumes, Maduraçom e envasado de bananas, Centro de processo de dados...
-DÁTILES CARMEL: Jordan Plains.
-ÁGUA MINERAL EDEN: Garrafas para fontes públicas.
-MENNEN: Sistemas de monitorizaçom de pacientes em cuidados intensivos.
-COSMÉTICOS REVLON: Em quase todas as drogarias e perfumarias.
-AHAVA: Cremas, sais, loçons.
- CALÇONS DE BANHO MAIÔS: GIDEON OBERSON e GOTTEX.
-ROUPA INTERIOR: VITÓRIAS SECRET, WARNACO, THE GAP, NIKE.
-APARELHOS DE AR ACONDICIONADO JOHNSON, WHITE WESTINGHOUSE, AIRWELL e ELECTRA.
-EPILADY: Máquinas de depilar e massagem.
-VEET: Cera de depilaçom.
-INTEL: O maior fabricante de micro processadores do mundo. Foi a primeira empresa estrangeira que abriu uma sucursal em Haifa em 1974.
-EMBLAZE: Esta companhia israelense pola primeira vez estará na prestigiosa pronta de companhias como Nokia e outras que desenvolvem telefones móveis. Emblaze actuará em conjunçom com a israelense Partner Communications, que opera com o nome de assinatura de Orange.
-RAFAEL: Sistemas de segurança para o lar.
-EMPRESAS ESTRANGEIRAS QUE APOIAM A ISRAEL: McDonald's, Timberland, Revlon, Garnier, Hugo Boss, Tommy Hilfiger, Calvin Klein, L'Oreal, Garnier.....
-JOHNSON & JOHNSON: No 50º Aniversário da Independência de Israel, a Johnson No 50º Aniversário da Independência de Israel, a Johnson & Johnson foi-lhe concedido o maior galardom, o Jubilee Award, em reconhecimento a seu apoio à economia israelense.
-TELEFÓNICA: Adquire grande parte de seus produtos em Israel entre eles, os multiplicadores de linhas, componentes para redes e sistemas de facturaçom de telefonemas.
Ucrânia: camisas castanhas e botas pretas Ilegalização do Partido Comunista
Higinio Polo
http://www.odiario.info/?p=3909
Quando as camisas castanhas dos fascistas, as botas pretas dos gangs paramilitares assolam as cidades ucranianas, e o Partido Comunista é proibido e forçado a passar à clandestinidade começam a faltar na Europa vozes que clamem por liberdade
Com o triunfo do golpe de Estado na Ucrânia, em Fevereiro de 2014, os sinais da extrema-direita no país foram detectados desde o início: a incorporação dos membros do Governo do partido fascista Svoboda, a presença ativa do nazis Pravy Sektor na polícia, na Guarda Nacional criada pelo governo golpista, nas unidades do exército que foram enviadas para esmagar os protestos contra o golpe de Estado, e o controle das ruas das principais de cidades ucranianas por batalhões paramilitares destes grupos fascistas foram o sinal de por onde iriam as coisas nessa "nova Ucrânia democrática", nascida com o golpe, graças ao apoio ocidental, com a sua diplomacia, dinheiro, armas e grupos de choque paramilitares.
Na Polónia foram treinados os grupos de provocadores que atuaram nos dias de Maidan e, com a boa vontade da União Europeia, os serviços secretos norte-americanos e polacos desencadearam os mecanismos que levaram ao buraco negro em que a Ucrânia se encontra hoje.
Os protestos foram esmagados sem piedade: lembremos o horror das cenas dantescas do incêndio do edifício dos sindicatos de Odessa, onde os nazis queimaram vivas muitas pessoas que protestavam contra o golpe e onde o massacre nunca foi investigado pelas autoridades, como não mostraram nenhum interesse em investigar a origem dos franco-atiradores misteriosos que causaram a matança de Maidan anterior ao golpe. Só na Crimeia e no leste do país, os opositores conseguiram resistir com sucesso ao golpe, ainda que no Donbass se viram envolvidos na guerra civil.
Desde então, o governo Poroshenko e Yatseniuk dedicou-se a acabar com a resistência em Donetsk e Lugansk, numa "operação antiterrorista", como eles a chamaram, que já causou quase dez mil mortos, dezenas de milhares de feridos e a destruição de grande parte da infraestrutura e bairros nas aldeias e cidades. As camisas castanhas e botas pretas dos paramilitares fascistas devastaram o país, e eles não têm descansado desde então. São comuns na Ucrânia desfiles fascistas nas cidades, e nos estádios de futebol mostram-se os símbolos nazis sem rebuço. A tortura é uma prática comum nos quartéis e esquadras de polícia, e até mesmo em centros de detenção que a extrema-direita controla.
Contam-se por dezenas os comunistas mortos sem que as autoridades judiciais ou policiais investiguem os crimes.
Um dos objetivos do governo golpista, com o apoio dos EUA, foi a destruição da esquerda ucraniana: os ataques às sedes do Partido Comunista, os incêndios de casas particulares e locais comunistas, os espancamentos e assassinatos cometidos em total impunidade, a caça e militantes de esquerda, foram moeda comum desde o primeiro dia. Deputados comunistas foram agredidos na própria Rada, o parlamento, como o próprio secretário-geral Simonenko, e o governo tentou desde o primeiro dia ilegalizar o Partido Comunista. O processo conduzido por Poroshenko e Yakseniuk atingiu extremos delirantes: o juiz viu seus escritórios invadidos por homens suspeitos armados; registos e documentação roubados, numa atmosfera de ameaças a juízes independentes que não podiam ser denunciados porque hoje todos sabem que na Ucrânia os fascistas matam. O juiz foi forçado a deixar o caso, e feitas muitas pressões e ameaças a jornalistas e críticos honestos que poderiam informar a população, o governo golpista conseguiu que no final de dezembro de 2015 esse tribunal declarasse ilegal o Partido Comunista da Ucrânia, para que não pudesse agir e concorrer a eleições, nem organizar-se livremente: foi forçado a passar à clandestinidade.
As sensibilidades democráticas da União Europeia e os Estados-Membros não demonstraram nenhuma preocupação com a proibição do Partido Comunista, nem com o regresso do fascismo sanguinário à Ucrânia. Mas que os centros do poder do capitalismo, Bruxelas e Washington, não tenham feito a menor objeção está dentro da ?normalidade? hipócrita a que nos têm acostumado; no entanto, é muito preocupante e revelador que boa parte da esquerda europeia, começando pela social-democracia, não tenha esboçado o menor protesto por tal ultraje.
Maus tempos para a liberdade. O próprio Presidente Poroshenko enriqueceu graças à corrupção e negócios sujos, enquanto o seu governo impunha novos sacrifícios à população, aceitando as imposições do Fundo Monetário Internacional e abria as fronteiras á entrada das unidades da OTAN. Enquanto a guerra civil continua no leste do país e os cidadãos ucranianos suportam uma vida cada vez mais difícil; enquanto o país se está afogando numa corrupção delirante e os principais responsáveis do governo roubam às mãos cheias e se apoderam dos recursos da Ucrânia; quando as camisas castanhas dos fascistas, as botas pretas dos gangs paramilitares assolam as cidades ucranianas, e o Partido Comunista é proibido e forçado a passar à clandestinidade começam a faltar na Europa vozes que clamem por liberdade.
* Professor universitário
Este texto foi publicado em: http://www.elviejotopo.com/topoexpress/ucrania-camisas-pardas-y-botas-negras/
Karl Marx tinha razão (II)
Por Chris Hedges (1)/ Tradução: Jorge Vasconcelos
?Information Clearing House? (1-06-2015), publicado em ?TruthDig?
http://www.odiario.info/
A fase final do capitalismo, escreveu Marx, seria marcada por desenvolvimentos que, para a maior parte de nós, são hoje familiares. Incapaz de se expandir e gerar lucros ao nível do passado, o sistema capitalista começaria a consumir as estruturas que o têm sustentado.
Um editorial do ?The New York Time? do 22 de maio permite-nos verificar o que Marx disse que iria caracterizar as últimas fases do capitalismo:
?Durante esta semana, a Citicorp, o JPMorgan Chase, o Barclays e o Royal Bank of Scotland foram declarados culpados pelas acusações de crime de conspiração para falsificação do valor das cotações mundiais. De acordo com o Departamento de Justiça, a prolongada e lucrativa conspiração permitiu aos bancos aumentar os lucros sem contemplação pela decência, pela lei e pelo bem público?.
Continua o ?The Times?:Os bancos vão pagar multas no total de 9 mil milhões de dólares, estabelecidas pelo Departamento de Justiça, assim como por reguladores estatais, federais e estrangeiros. Parece um bom negócio para um golpe que durou pelo menos cinco anos, desde o fim de 2007 até ao início de 2013 e durante o qual os benefícios provenientes do câmbio estrangeiro foi cerca de 85 mil milhões.
As fases finais daquilo a que chamamos capitalismo, conforme Marx percebeu, não têm nada a ver com capitalismo. As super-empresas devoram as despesas estatais, que são essencialmente o dinheiro dos contribuintes, como porcos numa pocilga. A indústria de armamento, com a sua conta oficialmente autorizada para a defesa no valor de 612 mil milhões de dólares (que não inclui muitas outras despesas militares escondidas noutros orçamentos, o que faria a nossa despesa real com a defesa nacional subir acima de 1 bilião de dólares por ano), conseguiu levar este ano o governo ao compromisso de gastar na próxima década 348 mil milhões na modernização das nossas armas nucleares e na construção de 12 novos submarinos nucleares classe Ohio, estimados cada um em 8 mil milhões de dólares. Como exactamente é que estes dois enormes programas de armamento são supostos ser utilizados naquilo que nos dizem ser a maior ameaça do nosso tempo (a guerra ao terrorismo) é um mistério. Ao fim e ao cabo, tanto quanto sei, o ISIS não tem sequer um barco a remos. Gastamos 100 mil milhões em informações (leia-se espionagem) e 70% desse dinheiro vai para empreiteiros privados, como Booz Allen Hamilton, [que] obtém 99% dos seus rendimentos do governo americano. E, ainda por cima, somos o maior exportador mundial de armas.
A indústria de combustíveis fósseis, segundo o Fundo Monétario Internacional (FMI), engole 5,3 biliões de dólares por ano em todo o mundo em custos camuflados para se continuarem a queimar combustíveis fósseis. Nota o FMI que este dinheiro está para além dos 492 mil milhões de subsídios directos oferecidos por governos em todo o mundo através de amortizações, adendas e subterfúgios diversos. Num mundo são, esses subsídios seriam gastos para nos libertar dos efeitos mortais das emissões de carbono causadas pelos combustíveis fósseis, mas não vivemos num mundo são.
Bloomberg News informava no artigo de 2013 ?Porque devem os contribuintes dar aos bancos 83 mil milhões de dólares por ano? que a redução de custos dos grandes bancos por via dos subsídios governamentais tinha sido estimada pelos economistas em 0,8%.
?Multiplicada pelas responsabilidades totais dos 10 maiores bancos americanos por activos?, dizia o relatório, ?tal representa um subsídio dos contribuintes no valor de 83 mil milhões de dólares por ano.?
?Os cinco maiores bancos ? JPMorgan, Bank of America Corp., Citigroup Inc., Wells Fargo & Co. e Goldman Sachs Group Inc. ? representam,? continuava o relatório, ?64 mil milhões do subsídio total, uma quantia aproximadamente igual ao seu lucro anual típico. Por outras palavras, os bancos que estão no posto de comando da indústria financeira dos EUA, com quase 9 biliões de activos que representam mais de metade da dimensão da economia americana, ficariam quase no zero na falta de assistência às superempresas. Em grande parte, os lucros que apresentam são essencialmente transferências dos contribuintes para os seus accionistas.?
A despesa do governo representa 41% do PIB. Os capitalistas das grandes corporações querem apanhar todo esse dinheiro e daí a privatização de sectores militares inteiros, a pressão para a privatização da Segurança Social, a adjudicação a empresas de 70% do serviço de informações de 16 das nossas agências, tal como a privatização de prisões, de escolas e do nosso desastroso serviço de saúde orientado para o lucro. Nenhuma destas apropriações de serviços básicos os torna mais eficientes ou reduz os seus custos. Não é isso que interessa. O que interessa é sugar a carcaça do Estado. Ora, isso irá ditar a desintegração das estruturas que sustêm o próprio capitalismo. Tudo isso foi percebido por Marx.
(1) Chris Hedges, esteve cerca de duas décadas como correspondente estrangeiro na América Central, no Médio-Oriente, em África e nos Balcãs. Enviou trabalhos para mais de 50 países e colaborou para o The Christian Science Monitor, a National Public Radio, o The Dallas Morning News e o The New York Times, no qual foi corresponde estrangeiro durante 15 anos.
Karl Marx tinha razão (I)
Por Chris Hedges (1)/ Tradução: Jorge Vasconcelos
?Information Clearing House? (1-06-2015), publicado em ?TruthDig?
http://www.odiario.info/
A fase final do capitalismo, escreveu Marx, seria marcada por desenvolvimentos que, para a maior parte de nós, são hoje familiares. Incapaz de se expandir e gerar lucros ao nível do passado, o sistema capitalista começaria a consumir as estruturas que o têm sustentado.
Chris Hedges juntou-se aos professores Richard Woff e Gail Dines no Left Forum na cidade de Nova Iorque para discutirem porquê Karl Marx é fundamental numa época em que o capitalismo global está em colapso. Junta-se o comentário feito por Hedges na abertura da discussão.
Karl Marx expôs a dinâmica própria do capitalismo, ou do que chamou ?modo de produção burguês?. Percebeu que o capitalismo tinha gerado dentro de si as sementes da sua própria destruição. Sabia que as ideologias dominantes ? pensemos no neoliberalismo ? foram criadas para servirem o interesse das elites e, em particular, as elites económicas, uma vez que ?a classe que detém os meios da produção material à sua disposição tem ao mesmo tempo o controle sobre os meios da produção mental? e que ?as ideias dominantes não são mais que a expressão idealista das relações materiais dominantes? relações que fazem de determinada classe a classe dominante.? Viu que chegaria um dia em que o capitalismo iria esgotar o seu potencial e entrar em colapso. Não sabia quando viria esse dia. Conforme Meghnad Desai escreveu, Marx era ?um astrónomo da história e não um astrólogo.? Marx estava plenamente ciente da capacidade do capitalismo inovar e adaptar-se. Mas, sabia também que a expansão capitalista não era eternamente sustentável. E, conforme testemunhamos com o desenvolvimento do capitalismo e a desintegração do globalismo, é justificado ver Karl Marx como o mais presciente e importante crítico do capitalismo.
Num prefácio à ?Contribuição para a Crítica da Economia Política?, escreveu Marx:
?Nenhuma ordem social alguma vez desapareceu antes de todas as forças produtivas para as quais nela haja lugar se terem desenvolvido e as novas relações de produção superiores jamais aparecem antes de as condições materiais para a sua existência terem amadurecido no ventre da própria antiga sociedade?.
Portanto, a humanidade estabelece sempre a si própria apenas aquelas tarefas que pode resolver, uma vez que, olhando para a questão mais de perto, encontramos invariavelmente que a própria tarefa só surge quando as condições materiais necessárias para a sua solução já existem, ou pelo menos estão em processo de formação.
O socialismo, por outras palavras, não seria possível até o capitalismo ter esgotado o seu potencial de maior desenvolvimento. Que o fim está próximo é agora difícil rejeitar, embora fossemos loucos querer prever quando. Somos chamados a estudar Marx para estarmos preparados.
As fases finais do capitalismo, escreveu Marx, seriam marcadas por desenvolvimentos que são familiares à maior parte de nós. Incapaz de se expandir e gerar lucros ao nível do passado, o sistema capitalista começaria a consumir as estruturas que o têm sustido. Tomaria como presa a classe operária e os pobres, em nome da austeridade, levando-os cada vez mais fundo para a dívida e a pobreza e diminuindo a capacidade do Estado para servir as necessidades dos cidadãos comuns. Deslocaria, como desloca, cada vez mais os empregos, incluindo tanto os postos fabris como profissionais para países com reservas de trabalhadores baratos. As indústrias iriam mecanizar os locais de trabalho. Isto desencadearia um assalto económico não apenas sobre a classe trabalhadora, mas também sobre a classe média ? baluarte do sistema capitalista ? o qual seria mascarado pela imposição de dívida pessoal em grande escala, uma vez que o rendimento diminuiria ou estagnava. A política ficaria nas últimas fases do capitalismo subordinada à economia, tendo como resultado partidos políticos esvaziados de conteúdo político concreto e abjectamente subservientes dos diktats e do dinheiro do capitalismo global. No entanto, conforme Marx preveniu, há um limite para uma economia assente na expansão da dívida. Chega uma altura, como Marx sabia, na qual deixaria de haver novos mercados disponíveis e novas reservas de pessoas para contraírem mais dívida. Foi o que aconteceu com a crise das hipotecas ?subprime?. Uma vez que os bancos já não conseguem conceder mais empréstimos desse tipo, o esquema desmorona-se e o sistema rebenta.
Os oligarcas capitalistas, entretanto, juntam enormes somas de dinheiro ? 18 biliões de dólares depositados em paraísos fiscais ? o qual é extraído como tributo a quem dominam, endividam e empobrecem. O capitalismo poderia finalmente, segundo Marx disse, virar-se para o assim chamado mercado livre, junto com os valores e tradições que reclama defender. Daria início na sua fase final à pilhagem dos sistemas e estruturas que tornaram o capitalismo possível. Ao provocar mais largo sofrimento, recorreria a formas de repressão mais brutais. Tentaria, em posição frenética final, manter os seus lucros saqueando e pilhando as instituições estatais e contradizendo a sua declarada natureza.
Marx preveniu que nas últimas fases do capitalismo as grandes empresas exerceriam monopólio sobre os mercados globais. ?A necessidade de constante expansão do mercado para os seus produtos persegue a burguesia por toda a face da Terra,? escreveu ele. ?Tem que se aninhar por todo o lado, fixar-se por todo o lado, estabelecer contactos por todo o lado.? Estas grandes empresas, quer do sector bancário, das indústrias agrícolas e da alimentação, das indústrias de armamento ou das indústrias das comunicações, utilizariam o seu poder, tomando normalmente controle sobre os mecanismos do Estado para evitarem qualquer ameaça ao seu monopólio. Fixariam preços para maximizarem os lucros. Desenvolveriam [como têm feito] acordos de comércio como o TPP e o CAFTA (TPP -Trans-Pacific Partnership ou Parceria Trans-Pacífico e CAFTA - Central America Free Trade Agreement ou Acordo de Comércio Livre da América Central ? N.T.) para enfraquecerem mais a capacidade dos Estados-nação de impedirem a exploração através de regulamentações ambientais ou a monitorização das condições de trabalho. E no final, estes monopólios empresariais fariam desaparecer a competição do livre mercado.
(1) Chris Hedges, esteve cerca de duas décadas como correspondente estrangeiro na América Central, no Médio-Oriente, em África e nos Balcãs. Enviou trabalhos para mais de 50 países e colaborou para o The Christian Science Monitor, a National Public Radio, o The Dallas Morning News e o The New York Times, no qual foi corresponde estrangeiro durante 15 anos.
A situação na Grécia e o papel anti-povo do SYRIZA
? As responsabilidades dos que o aplaudem
por Giorgos Marinos [*]
http://resistir.info/grecia/marinos_29jul15.html
Introdução
Na segunda-feira 13 de Julho, o governo SYRIZA-ANEL com o apoio de todos os partidos políticos burgueses acordaram na Cimeira da Eurozona com um pacote muito duro de medidas anti-povo, o terceiro memorando, o qual destruirá todos os direitos dos trabalhadores e do povo que ainda restam.
Na quarta-feira 15 de Julho, o "primeiro governo de esquerda" aprovou, com os votos dos partidos burgueses ND-PASOK-POTAMI, o acordo da Cimeira e o primeiro pacote de medidas a serem implementadas para a concretização do 3º memorando incluindo novas medidas selvagens de tributação e a abolição de direitos à pensão. O KKE votou contra isto e pediu uma votação nominal, durante a qual 32 quadros do SYRIZA votaram NÃO, 6 votaram "presente" [NR] e 1 absteve-se. Estes membros do SYRIZA disseram que "votamos contra o novo memorando, mas ... apoiamos de todo o coração o governo que está a por isto sobre a mesa".
A experiência dos cinco meses de governação SYRIZA demonstra que ele não quer nem foi capaz de preparar o povo para uma confrontação contra o memorando e os monopólios, tanto gregos como europeus, precisamente porque não tinha orientação para a resistência e o conflito. Ao contrário, enganou o povo [dizendo] que podia abrir o caminho a mudanças favoráveis ao povo mantendo-se no interior da aliança predatória da UE.
Estes desenvolvimentos são uma expressão muito clara do fracasso da chamada "esquerda renovada" ou "esquerda governamental", da teoria de que a UE pode mudar seu carácter monopolista e anti-povo.
A linha de luta do KKE e sua posição vigorosa e firme, que rejeitou a participação em tais governos "de esquerda" que na verdade são governos de gestão burguesa, foi confirmada.
Na base desta experiência específica e da ultrapassagem da ofensiva dos mass media burgueses, os trabalhadores da Europa e de todo o mundo devem tentar descobrir a verdade e utilizar os acontecimentos na Grécia de modo a retirar conclusões úteis.
Eles deveriam examinar e estudar a linha de luta do KKE, romper a muralha da desinformação das forças burguesas e oportunistas que se preocupam com a gestão da barbárie capitalista e trabalham sistematicamente a fim de manipular os trabalhadores.
QUAL É A SITUAÇÃO REAL NA GRÉCIA? QUAL É O PAPEL REAL DO SYRIZA? QUAIS SÃO AS RESPONSABILIDADES DOS QUE O APLAUDEM?
Primeiramente, durante a crise capitalista, com as consequências penosas que a linha política anti-povo do partido liberal ND e do partido social-democrata PASOK trouxeram à classe trabalhadora e aos estratos populares, começou uma reforma extensa do sistema político burguês.
Os partidos burgueses tradicionais estavam enfraquecidos e exaustos, e o SYRIZA e a organização criminosa nazi "Aurora Dourada" foram fortalecidos.
O SYRIZA, que era um pequeno partido oportunista, rapidamente aumentou sua votação nas eleições de Junho de 2012 e venceu as eleições de Janeiro de 2015, constituindo um governo com o partido da direita nacionalista ANEL.
Ao longo deste período o SYRIZA encurralou os trabalhadores no falso esquema "memorando ? anti-memorando", ocultando o facto de que o memorando faz parte da estratégia mais geral do capital. Ele explorou o agravamento dos problemas do povo e fez promessas falsas de que aliviaria a situação dos trabalhadores e satisfaria suas reivindicações.
Neste quadro, o SYRIZA prometeu que aumentaria de imediato o salário mínimo, restauraria os acordos de negociação colectiva, aboliria o imposto sobre a propriedade, aumentaria o patamar de isenção fiscal, poria fim às privatizações, etc.
Apesar dos slogans que utilizou, na prática o SYRIZA construiu uma estratégia social-democrata e deixou claro desde o princípio que administraria o capitalismo e serviria a competitividade e lucratividade dos grupos monopolistas, implementando a estratégia da UE, à qual chamava de "nosso lar europeu comum".
Segundo. Após as eleições de 2015, o governo SYRIZA-ANEL continuou a linha política anti-povo dos governos anteriores. No dia 20 de Fevereiro assinou um acordo com a UE-BCE-FMI (Troika) e assumiu compromissos quanto ao reconhecimento e reembolso da dívida que não foi criada pelo povo, a "rejeição de acções unilaterais", a não implementação das suas promessas eleitorais e a promoção de "reestruturações capitalistas".
O governo SYRIZA-ANEL, durante as negociações que se seguiram em Bruxelas, apresentou uma série de propostas com duras medidas anti-povo, incluindo:
A manutenção do memorando e de todas as leis de aplicação do ND e do PASOK, a imposição de tributação adicional, a demolição de direitos de pensão, privatizações e outras medidas no valor de 8 mil milhões de euros a expensas do povo. Esta proposta era semelhante àquela da Troika, a qual continha medidas anti-povo no valor de 8,5 mil milhões de euros.
As confrontações nas negociações e a retirada do governo SYRIZA-ANEL numa certa fase não estão relacionadas com resistência para a defesa dos interesses do povo, como alguns no estrangeiro afirmaram sem qualquer base.
Eram os interesses dos monopólios que estavam na mesa das negociações e, sobre esta base, manifestavam-se contradições mais gerais relativas à fórmula para a gestão do capitalismo, o rumo da Eurozona e a posição da Grécia nela (incluindo a possibilidade de um Grexit), as contradições sobre hegemonia na Europa entre a Alemanha e a França, entre os EUA e a Eurozona e em particular a Alemanha.
Terceiro. Nestas condições, no sábado 27 de Junho o governo apresentou ao Parlamento uma proposta para um referendo, tentando armar uma cilada para o povo com um SIM ou NÃO ao pacote de medidas anti-povo da Troika, recusando-se a apresentar a sua própria proposta anti-povo a fim de ser julgada pelo povo.
O KKE (no parlamento) pediu que no referendo fosse colocado o seguinte:
A) A proposta da Troika.
A proposta do governo
C) A proposta do KKE para "DESLIGAMENTO DA UE, ABOLIÇÃO DO MEMORANDO E DE TODAS AS LEIS DE APLICAÇÃO ANTI-POVO".
O governo arbitrariamente recusou-se a colocar a proposta do KKE em votação. Seu objectivo era chantagear o povo e explorar a votação popular como aprovação à sua própria proposta que constituía um novo memorando.
O KKE resistiu, denunciou a chantagem e apresentou o seu próprio boletim de voto ao julgamento do povo:
"NÃO À PROPOSTA UE-BCE-FMI.
NÃO À PROPOSTA DO GOVERNO.
DESLIGAMENTO DA UE COM O POVO NO PODER".
Este boletim de voto foi distribuído nos lugares de trabalho, nos bairros populares, junto aos centros de votação no dia do referendo, e ao mesmo tempo o KKE conclamava o povo a resistir de todas as maneiras e exprimir sua oposição ao novo memorando.
Nas condições deste falso dilema e desta chantagem, o KKE explicou ao povo que tanto o SIM como o NÃO seriam utilizados para impor novas medidas anti-povo.
Esta decisão é uma grande herança deixada ao nosso povo para que possa continuar sua luta com base nos seus próprios interesses.
Uma secção significativa do nosso povo resistiu. Lançou na urna o boletim de voto do KKE, outros votaram em branco ou anularam o boletim de voto (mais de 350 mil, 6%). Uma secção do povo trabalhador seguiu o caminho da abstenção.
O KKE não estabeleceu um objectivo numérico para este referendo, sua postura foi uma posição de princípio, enviar uma mensagem política ao povo para não se submeter a toda chantagem, a dilemas, quer tivessem origem na troika ou no governo ou nos outros partidos políticos burgueses.
Quarto. Em 6 de Julho, um dia após o referendo, os desenvolvimentos confirmaram do modo mais característico as posições e a linha de luta do KKE e comprometeram os partidos no estrangeiro que celebraram em conjunto com o SYRIZA ou enviaram mensagens de apoio ao primeiro-ministro grego.
No dia seguinte ao referendo houve uma reunião dos líderes políticos por iniciativa do primeiro-ministro, Tsipras, com a participação do Presidente da República. Esta reunião tornou a situação ainda mais clara.
O SYRIZA, ANEL, ND, PASOK, POTAMI, isto é todo os partidos burgueses, assinaram uma declaração conjunta que entre outras coisas mencionava: "O veredicto recente do povo grego não inclui um mandato de ruptura, mas um mandato para continuar e fortalecer o esforço de alcançar um acordo socialmente justo e economicamente sustentável", confirmando que os partidos burgueses como um todo estavam prontos para assinar um acordo/novo memorando com a Troika contra o povo.
O secretário-geral do CC do KKE, cda. Dimitris Koutsoumpas discordou, tornou clara a sua posição diferente. Após a reunião dos líderes políticos declarou dentre outras coisas: "De nossa parte exprimimos claramente, mais uma vez, os pontos de vista do KKE quanto à avaliação do resultado do referendo e principalmente quanto aos enormes problemas que estão a ser experimentados pelo povo grego dentro da aliança predatória da UE, a qual tem uma linha política que agrava continuamente os impasses para o povo, o rendimento do povo, o curso do país e o curso do nosso povo como um todo.
Foi demonstrado, mais uma vez, que não pode haver negociações favoráveis ao povo e aos trabalhadores dentro dos muros da UE, dentro do caminho capitalista de desenvolvimento... Ninguém autorizou qualquer organismo a assinar novos memorandos, novas medidas para o nosso povo".
Quinto. Após o referendo o governo SYRIZA-ANEL enviou ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) um pedido para um programa de empréstimo por três anos no valor de cerca de 50 mil milhões de euros, com um novo acordo de empréstimo e um novo memorando.
Na sexta-feira 10 de Julho, o governo propôs à Troika (UE, BCE, FMI) um pacote provocador de duras medidas anti-povo com um 3º memorando no valor de mais de 12 mil milhões de euros! Isto quer dizer 4 a 5 mil milhões de euros a mais do que a proposta que estava a ser discutida antes do referendo.
No mesmo dia, na discussão no Parlamento, o governo pediu e recebeu o apoio e a autorização dos partidos burgueses, ND-PASOK-POTAMI, a fim de assinar o acordo anti-povo, o 3º memorando.
Enquanto isso, na madrugada de segunda-feira 13 de Julho, o primeiro-ministro Tsipras acordou na Cimeira da Eurozona um novo empréstimo no valor de 85 mil milhões de euros e um muito perigoso memorando anti-povo, o qual realmente esmagará qualquer coisa que tenha restado dos direitos do povo.
Aqui estão alguns exemplos característicos:
Manutenção do ENFIA, o imposto sobre a propriedade e outras duras medidas fiscais da ND e do PASOK que levaram milhões de famílias das camadas populares ao desespero e um aumento adicional das taxas de IVA, transferindo alimentos empacotados e outros ítens de consumo popular em massa para a taxa mais alta de 23%, abolição de isenções fiscais para agricultores, um aumento significativo do IVA para as ilhas, etc.
A propaganda do governo diz que aumentar impostos sobre grandes negócios e proprietários de navios não tem fundamento, que é uma gota no oceano. As isenções fiscais para os proprietários de navios e o grande capital como um todo estão a ser mantidas em vigor.
Manutenção das medidas anti-segurança social na sua totalidade, as quais reduzem pensões, aumentam a idade de reforma, isentam o patronato de contribuições para a segurança social e também a introdução de novas medidas que anulam o restante das reformas antecipadas estabelecendo uma única idade de reforma de 67 anos, abolindo os benefícios para pensionistas com pensões muitos baixas, aumentando as contribuições dos trabalhadores para a segurança social, fundindo fundos da segurança social com uma corrida para baixo em termos de direitos. Estão a ser examinadas duras medidas adicionais em nome da sustentabilidade do sistema de segurança social.
Manutenção das relações de trabalho "medievais" que prevalecem nos lugares de trabalho, congelamento de acordos colectivos, manutenção de salários reduzidos e também novas medidas adicionais anti-trabalhador em nome da adaptação às directivas da UE para a expansão de contratos individuais entre trabalhadores e patrões, reforço do trabalho em tempo parcial e temporário, relações de trabalho flexíveis.
Implementação da caixa de ferramentas da organização imperialista OCDE (a qual o governo considera ser um parceiro estratégico) que prevê a liberalização das profissões, a abolição dos feriados de domingo, etc.
Manutenção das privatizações que se efectuaram e a promoção de novas, nos portos, em 14 aeroportos regionais, nas ferrovias, na companhia que administra o gás natural, etc.
Criação de um mecanismo para hipotecar e vender a propriedade pública a fim de obter 50 mil milhões de Euros para reembolsar os empréstimos, etc.
Criação de excedentes primários de 1% em 2015, 2% em 2016, 3% em 2017, 3,5% em 2018 e a implementação de um mecanismo para automaticamente cortar salários, pensões, gastos sociais se houver divergência em relação aos objectivos orçamentais.
O governo SYRIZA-ANEL utilizou a chantagem e o dilema que a ND e o PASOK haviam utilizado a fim de convencer o povo a aceitar as medidas: um novo memorando mais duro ou a bancarrota do estado através de um grexit?
Ele repete o mesmo dilema que foi apresentado por ocasião do primeiro e segundo memorandos e todas as vezes em que uma prestação estava a ser desembolsada. Toda a vez que o povo tem de escolher o mal "menor", no fim este acaba por levar ao mal maior.
Mesmo agora, quando a linha política anti-povo do SYRIZA está completamente evidente, Tsipras ainda tenta promover falsas expectativas, afirmando que o acordo inclui um ajustamento da dívida (a qual aumentou devido ao novo empréstimo) e aos chamados "pacotes de desenvolvimento". Apesar do facto de ser bem sabido que em qualquer caso o povo pagará pela dívida e que os pacotes serão mais uma vez destinados a grandes grupos monopolistas, os quais colherão grandes lucros.
Sexto. A linha política anti-povo do SYRIZXA não se restringe apenas a estas questões mas exprime-se também na sua política externa.
O governo grego em cinco meses proporcionou apoio significativo à NATO, aos EUA, o eixo Euro-Atlântico.
Ele não só manteve como também assumiu compromissos para fortalecer as bases EUA-NATO em Suda, o centro de comando para intervenções e guerra imperialistas, Aktio (centro de radar) e também assumiu compromissos para fortalecer os centros de comando em Salónica, Larissa, etc.
O governo anunciou que em consulta com os EUA instalará uma nova base da NATO no Mar Egeu, na ilha de Carpatos.
O governo assumiu oficialmente um compromisso de disponibilizar suas forças armadas e bases militares para novas guerras imperialistas na região, a fim de enfrentar os jihadistas e "proteger as populações cristãs".
Ele participa em exercícios militares juntamente com os EUA e Israel e fortalece suas relações militares, políticas e económicas com o estado israelense que continua a ocupação e os tormentos do povo palestino.
A chamada "política multi-dimensional" com a Rússia e a China, com os BRICS, está a ser executada do ponto de vista do avanço dos interesses dos grupos monopolistas a fim de fortalecer suas posições no campo da energia, no quadro geral da competição imperialista, enredando nosso povo em novos perigos.
CONCLUSÕES IRREFUTÁVEIS
Os trabalhadores da Europa e de todo o mundo podem retirar importantes conclusões deste curso dos acontecimentos na Grécia a fim de denunciar as forças políticas que defendem o caminho de desenvolvimento capitalista e a União Europeia, a união imperialista inter-estatal.
Os homens e mulheres comunistas, os trabalhadores, devem examinar os desenvolvimentos na base dos dados reais.
Eles deveriam apreciar a posição de dúzias de Partidos Comunistas que tentam analisar os desenvolvimentos na Grécia com base em critérios de classe, mantiveram o princípio do internacionalismo proletário, contribuíram para apoiar luta do KKE, publicaram seus boletins de informação e entrevistas, escreveram seus próprios artigos e combateram contra a confusão semeada pelo SYRIZA e pelo Partido de Esquerda Europeu (PEE).
O KKE agradece às dúzias de partidos comunistas e organizações de juventude comunista de todo o mundo que exprimiram sua solidariedade de muitos modos diferentes e permaneceram ao lado da luta do nosso partido e da KNE (Juventude Comunista Grega).
Agradecemos aos trabalhadores e trabalhadoras, sindicalistas e outras organizações do movimento popular do estrangeiro que apoiam a luta do movimento com orientação de classe na Grécia.
Nosso partido continuará a travar lutas árduas e a honrar a vossa confiança.
Nas condições da forte pressão exercida pelo aparelho ideológico burguês e pela intervenção das forças oportunistas, a expressão em massa de solidariedade internacionalista é um elemento muito importante. Ela contribui para a nossa luta comum. Trata-se de uma experiência valiosa que frutificará no período seguinte.
Ao mesmo tempo, os comunistas e trabalhadores devem examinar cuidadosamente e denunciar as forças oportunistas e outras que durante todo este período ocultaram as posições do KKE e alinharam-se com o SYRIZA, embelezando a essência de classe anti-povo da sua linha política, seu carácter social-democrata.
O PEE desempenha um papel particularmente perigoso na manipulação dos trabalhadores. O Partido de Esquerda Europeu reconheceu a sua própria mutação estratégica rumo à gestão burguesa nas posições sociais-democratas do SYRIZA, as suas próprias posições favoráveis à assimilação dentro da UE.
Isto era expectável.
Este grave problema refere-se a certos PCs que reproduziram as posições do SYRIZA, apresentaram-no como força de resistência contra a UE, ocultando o facto de que este partido é um defensor da aliança predatória da UE e da NATO, um administrador da barbárie do sistema capitalista.
Estas forças saudaram o "NÃO" do referendo mas ocultaram o facto de que por trás disto estava o SIM do SYRIZA a um novo memorando, novas medidas que continuarão a sangrar o nosso povo.
Elas desinformaram ? intencionalmente ou não intencionalmente ? os trabalhadores nos seus países. Estas forças ligaram a posição do governo grego à defesa da "soberania popular", mas a realidade demonstra que o povo não pode ser soberano quando está sitiado pela chantagem das forças do capital, quando está faminto, desempregado, vítima do capitalismo e dos capitalistas que mantêm o poder e possuem os meios de produção e roubam a riqueza produzida pelos trabalhadores.
A postura destes partidos objectivamente foi contra a luta do KKE e a expensas do interesse da classe trabalhadora, das camadas populares na Grécia, em todo país, porque apoiar a nova social-democracia significa fortalecer o adversário dos trabalhadores, promove ilusões e confusão.
Não há desculpa. Eles arcam com sérias responsabilidades. Os partidos que ocultaram as posições do KKE, organizaram eventos para apoiar o SYRIZA e saudaram a social-democracia foram revelados.
Na realidade, as manifestações, como em Paris, Roma, Bruxelas, Nicósia, Lisboa e outras cidades, pouco importando quem as organizou e os slogans usados, foram utilizadas pelo SYRIZA como um álibi "de esquerda" para fortalecer a sua posição, para apresentar-se como um "salvador" e impor novas duras medidas anti-povo sobre os trabalhadores gregos.
Esta não é a primeira vez que falamos acerca destas questões. As consequências da influência oportunista nas fileiras do movimento comunista, consequências da contra-revolução, continuam a ser penosas.
Nosso partido, como é bem sabido, tem exprimido firmemente (durante muitos anos) sua solidariedade internacionalista com PCs que hoje se alinham com os seus oponentes políticos. O KKE segue uma posição de princípio e continuaremos a assim actuar.
Contudo, deve começar uma discussão no Movimento Comunista Europeu e Internacional acerca das escolhas de PCs que tomam o lado da social-democracia e dela devem ser retiradas conclusões.
Quem quer que perca a bússola revolucionária de classe será levado a administrar o capitalismo, mesmo que o nome comunista seja mantido, mesmo que haja referências formais ao socialismo.
A experiência histórica revela isto e este é o problema para certos partidos que usam a calúnia do "sectarismo" a fim de incriminar a luta revolucionária, esconder o seu próprio recuo dos princípios do marxismo-leninismo e a sua opção por administrar o sistema burguês.
Os desenvolvimentos recentes trouxeram à tona questões sérias que devem ser discutidas ainda mais.
Os partidos sociais-democratas da variedade SYRIZA e Podemos trabalham para manipular a classe trabalhadora, salvaguardar a gestão capitalista com falsos slogans de esquerda.
Na prática, o exemplo do SYRIZA demonstra mais uma vez que os chamados "governos de esquerda" são uma forma de gestão e reprodução da exploração capitalista, que eles cultivam ilusões, desarmam as forças populares e levam ao fortalecimento de forças conservadoras, para o retorno de governos de direita. Os exemplos de "governos de esquerda" em França, Itália, Chipre, Dinamarca e países da América Latina confirmam esta avaliação.
A posição que apresenta a substituição do Euro por uma divisa nacional, a exemplo do dracma na Grécia, como um desenvolvimento a favor do povo, uma posição apoiada por vários grupos de ultra-esquerda e quadros do SYRIZA que no parlamento votaram contra o 3º memorando, obscurece a situação real para os trabalhadores. A [mudança de] divisa não pode por si própria resolver favoravelmente qualquer dos problemas do povo. A exploração capitalista continuará a dominar, bem como o factor que determina o curso dos desenvolvimentos, isto é, qual classe social tem o poder e os meios de produção nas suas mãos.
A tentativa de interpretar os desenvolvimentos com posições que apresentam a Grécia como sendo uma "colónia" não tem uma base objectiva. Ela omite os objectivos e interesses da burguesia, não toma em conta o desenvolvimento capitalista desigual (uneven) e as relações desiguais (unequal) entre estados capitalistas.
A continuada participação na NATO e na UE é a posição dominante na classe burguesa e as concessões de direitos soberanos são uma escolha consciente que objectiva reforçar o capitalismo e servir os interesses dos monopólios no interior de alianças imperialistas.
Centrar toda a atenção sobre a postura da Alemanha, a tentativa de interpretar os desenvolvimentos através do prisma do "golpe de Schauble" oculta a essência da competição inter-imperialista, dos interesses que estão envolvidos no conflito.
A escolha de aliados do governo SYRIZA-ANEL, exemplo: os EUA e a França, nada tem a ver com os interesses do povo mas sim com os interesses dos grupos monopolistas, enredando nosso povo ainda mais na teia da competição imperialista.
As recentes declarações de um quadro do SYRIZA e vice-presidente do governo são características. Ele fez a seguinte referência: "Tenho de agradecer publicamente ao governo dos EUA e ao Sr. (Presidente Barack) Obama pois sem a sua ajuda e persistência em que o acordo tem de incluir a questão da dívida e o horizonte de desenvolvimento poderíamos não ter tido êxito".
A LUTA DO KKE
O KKE avançou em frente, tendo enriquecido sua estratégia na base das exigências contemporâneas da luta de classe, ultrapassando a teoria respeitante a "etapas intermediárias" na gestão do sistema explorador e as diferentes formas para a manutenção da democracia burguesa, defendendo as lei da revolução e construção socialista.
Nosso partido utilizou a linha de luta anti-capitalista ? anti-monopolista, a linha para a concentração e preparação da classe trabalhadora e forças populares para o derrube do capitalismo, para o poder dos trabalhadores e do povo, o socialismo, rejeitando a cooperação com o partido social-democrata SYRIZA e qualquer participação em governos de gestão burguesa.
Ele deu uma resposta decisiva nas eleições de 2012, continuando em condições difíceis sua luta político-ideológica e de massa independentes, com as necessidades das famílias da classe trabalhadora e estratos populares como seu critério.
Ele travou a batalha das eleições em 2015, aumentou suas forças e utiliza seu grupo parlamentar de 15 membros para destacar os problemas do povo, apresentando importantes projectos e propostas de lei, como o projecto de lei para a abolição do memorando e das leis de aplicação as quais o governo desde há cinco meses tem-se recusado a discutir no Parlamento.
Ele utiliza o seu grupo parlamentar na UE ao lado dos trabalhadores, alcançando um novo nível nas suas intervenções políticas significativas após a sua retirada do GUE/NGL, o qual foi transformado num apêndice do PEE.
A orgulhosa posição do KKE no referendo recente é uma continuação desta luta política. Esta posição revelou a linha política anti-povo do governo SYRIZA-ANEL, da Troika e dos partidos políticos burgueses que apoiam a permanência na UE "a qualquer custo", apresentando sua própria proposta ao povo.
Nosso partido intervém decisivamente nos desenvolvimentos políticos, combate contra dificuldades e deficiências e trabalha incansavelmente nos lugares de trabalho, no interior do movimento trabalhista e popular, desempenha o papel principal nas lutas da classe trabalhadora, dos agricultores, dos estratos intermediários, da juventude. Ele continua sua actividade internacionalista, fortalece suas relações com dúzias de PCs de todo o mundo e tenta discutir sua experiência com os comunistas e as principais forças da classe trabalhadora no exterior.
Estes deveres são muito sérios. O KKE centra-se em organizar a resistência dos trabalhadores contra o acordo anti-povo do governo SYRIZA-ANEL, de modo a que o nível das exigências populares seja elevado e de que se desenvolva um movimento militante para exigir de um modo maciço a recuperação das perdas e a satisfação das necessidades contemporâneas.
O movimento com orientação de classe, PAME, e os demais agrupamentos militantes estão a escalar as mobilizações de massa, estão a fazer esforços para organizar um movimento de solidariedade para apoiar aqueles que estão a sofrer devido ao desemprego e à pobreza, para apoiar os pensionistas, os trabalhadores que estão de pé nas filas junto aos bancos para receberem uma pequena parte da sua pensão ou salário devido às restrições sobre transacções bancárias.
Através de comités de luta nos lugares de trabalho, fábricas, hospitais, supermercados, serviços, através da mobilização dos "comités populares" nos bairros.
Estas são ferramentas valiosas para o fortalecimento da luta popular.
Continuaremos neste caminho e apelamos à classe trabalhadora, aos estratos populares, a adoptarem em massa e de modo decisivo a proposta política do KKE para a melhor organização possível dos trabalhadores, para o reagrupamento do movimento trabalhista, para o fortalecimento da aliança popular da classe trabalhadora com os agricultores, os outros estratos populares a fim de intensificar a luta por mudanças radicais profundas. Para a socialização dos monopólios, com planeamento científico central da economia, desligamento da UE-NATO e o desenvolvimento de relações mutuamente benéficas com outros estados e povos, com o cancelamento unilateral da dívida, com a classe trabalhadora e o povo segurando as rédeas do poder.
[*] Membro da Comissão Política do Comité Central do KKE
[NR] A figura do voto "presente" é uma especificidade do Parlamento grego. O voto "não" significa uma oposição frontal e total. O voto "presente" significa que em princípio se está contra uma proposta (um projecto de lei, por exemplo) mas que se reconhece algumas ideias úteis na mesma. De certo modo o voto "presente" é quase o equivalente à abstenção, mas não exactamente a mesma coisa.
A versão em inglês encontra-se em inter.kke.gr/en/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
31/Jul/15
ESTAMOS NUMA DEPRESSÃO GLOBAL, NÃO NUMA RECESSÃO
http://resistir.info/
A vendas mundiais da Caterpillar estão há 31 meses em declínio consecutivo. Esta transnacional das máquinas pesadas está presente em todos os continentes e as suas vendas constituem um bom indicador do estado da economia mundial. Por ocasião do colapso de 2008 a Caterpillar experimentou um declínio consecutivo de "apenas" 18 meses. Se agora já vai nos 31 meses, será que ainda se pode falar em "recessão conjuntural"? Esta notícia na verdade mostra uma depressão na plena acepção da palavra, longa e prolongada. Contudo, o jornalismo económico português não publica notícias ou análises como esta ? só aquelas que promovam a "confiança dos mercados". Chama-se a isto desinformação por omissão.
As simulaçons ideológicas do papa Francisco
Maciek Wisniewski*
http://www.jornada.unam.mx/2014/11/07/opinion/030a2pol
Aposto que nem os spin-doctors do Vaticano imaginavam-se que o seu re-branding ia ser tam bem sucedido. Que em pouco tempo converteriam a Jorge Mário Bergondo, conservador próximo dos sectores mais reaccionários da Igreja argentina durante a dictadura, que punha paus na roda do progressismo kirchnerista, num líder mundial de esquerda.
Mas iam de vento em popa. Qualquer conservador sensível "como Bergoglio", em comparaçom com os ultraconservadores-trogloditas que dominam na Igreja post wojtyliana, parece um progressista.
Num mundo onde o centro da política moveu-se (muito) à direita, qualquer que diga algo sobre a pobreza e a injustiça já é marxista e/ou comunista (o mesmo passa com as desigualdades e o seu combate: vende-se-nos como umha demanda revolucionária; em realidade é muito conservadora).
Num mundo onde a crítica escasseia, qualquer que critique ao capitalismo tem hipótese de parecer messias de esquerda.
O truque da operaçom Francisco é que em muita parte o trabalho fazia-se só.
Isso nom quer dizer que Bergoglio nom pusesse a sua parte: despregou e manejou (quase) à perfeiçom todo o arsenal de gestos e mensagens "adrede" ambígüos; coqueteou e seduziu a círculos progressistas dentro e fora da Igreja.
Mas, se um punha atençom, em cada escintileo das suas simulaçons ideológicas viam-se, como umha sombra, o seu passado e presente conservador, e igualmente conservadores princípios reitores do seu papado:
a) Disciplina,
b) Hegemonia,
c) Cooptaçom
d) Neutralizaçom.
Velaquí alguns dos momentos "e assuntos" mais sintomáticos:
" Francisco rejeita as acusaçons da direita estadunidense de ser um marxista trás a sua crítica ligeira ao capitalismo em Evangelli Gaudium (os mesmos círculos que dizem que o debate sobre as desigualdades é comunista, enquanto é... procapitalista): A ideologia marxista está equivocada, mas conhecim a muitos marxistas boas pessoas e nom me ofendo (Página/12, 16/12/13).
Nom? Ok. Entom deveriam se ofender os marxistas.
Mas o mais problemático desta chiscadela à esquerda "fora da sua opiniom que o marxismo está equivocado (nom será um retrocesso a respeito de Joám Paulo II, que em Laborem execens dizia que este é perigoso, mas contém grao de verdade")" é a ligeireza com que Bergoglio joga "hoje" com este termo.
E ?ontem" Estivo perto das hierarquias que temiam que se fracassava a ditadura vinha o marxismo (sic). Castigava aos curas ?villeros? que o punham em prática. Aos cregos Yorio e Jalics tachou-nos de esquerdistas, entregando aos militares (digam digam-no hoje os embelecedores da sua biografia). Seguro nom se ofendêrom, mas quase perdêrom a vida.
Horacio Verbitsky: ?Hoje estes som assuntos teóricos opináveis, como o debate sobre marxismo ou a teologia da libertaçom que Bergoglio reavivou. Mas naqueles anos era questom de vida ou morte? (Página/12, 16/3/14).
" O tema da reabilitaçom da teologia da libertaçom por Francisco merece análise aparte; aqui, só dous pontos:
" Se há umha pedra de toque do sucesso das suas simulaçons é a existência de quem hoje acham que ele sempre estivo influenciado por ela, só se escondia; por outra parte, se por influência percebe-se que se lhe opunha ferozmente (vinde: o seu ?preito? com Pedro Arrupe), pois sim, estivo muito influenciado.
1. " Segue actual a análise histórica de Michael Löwy que o localizava nas antípodas desta corrente (Lê Monde, 30/3/13); os últimos meses confirmárom-no: contrariamente à teologia da libertaçom, ele opta nom polo empoderamiento dos pobres, senom o seu tutelagem ignora os seus predicamentos mais radicais, coopta o seu potencial e neutraliza o mais subversivo.
" O Papa contesta a quem o acusam de ser um Papa comunista e/ou falar como Lenine (sic!): Eu só digo que os comunistas nos roubárom a bandeira da pobreza (A Jornada, 30/6/14).
É algo que diria um colega em armas, ou um rival político de esquerda que luta pola hegemonia entre os pobres" nom será este a cerna do bonapartismo neofranciscano"
1. " O Papa durante o encontro com os movimentos populares (Vaticano, 27-29/10/14), parafraseando a Hélder Câmara: Se pedo ajudar aos pobres, dizem que som comunista (Telesur, 28/10/14).
Löwy também lembrava aquela passagem canónico (Se dou pam a um pobre, dim-me que som um santo; quando pergunto por que a gente é pobre, chamam-me comunista), mas para salientar que Bergoglio ajuda e nom fai perguntas incómodas (até a sua paráfrasis ficou curta...).
No seu enfoque nom há classe oprimida e classe opressora (algo que sim identifica a teologia da libertaçom); para ele, isso nom importa: só há que trabalhar juntos polo bem de todos.
Neste sentido é excessivo o entusiasmo de Ignacio Ramonet, que trás o encontro "ao que assistiu Evo Morais como líder cocalero" aplaudia o grande valor do Papa e o seu novo rol histórico como embandeirado solidário das luitas dos pobres do mundo (Rebelión, 30/10/14).
E mais se lembramos a análise de Rubem Dri, ex-cura terceiro-mundista: Para Bergoglio o verdadeiro rival som os governos progressistas. Mas ele sabe que nom pode chocar frontalmente com eles. Tem que actuar de maneira inteligente, desde abaixo, entre os movimentos populares (Krytyka Polityczna, 1/2/14).
Assim, aquele encontro concreta-se mais bem como a mais grande, até agora, simulaçom de Francisco. O seu acostumam é cooptar, nom cooperar; neutralizar, nom impulsar; disciplinar e meter os movimentos e governos progressistas ao seu curro.
Estes nom devem ignorar as mudanças no Vaticano, mas também nom querer subir ao papa-móvil.
Nem deixar-lhe a Bergoglio a tam almejada bandeira da pobreza (e se alguém sente confusom, que lembre a sua história).
Quando estalou a crise, Reinhard Marx, bispo de... Tréveris, aproveitando o apelido tirou um livro intitulado, claro, Das Kapital (2008) "ao que parece Piketty nom foi primeiro...", com um vago chamado a reformas.
Foi um sucesso mediático. nom de casualidade, continuando a simulaçom, o Papa incorporou-o ao seu grupo de cardeais e conselho de economia.
Confundir a Francisco com a esquerda é como confundir a Reinhard com Karl Marx.
* Jornalista polonês