Bouça Longa, o refúgio castrejo do Exército Guerrilheiro da Galiza em Deixevre

Bouça Longa, o refúgio castrejo do Exército Guerrilheiro da Galiza em Deixevre

23-12-2009

C.C.V./Na paróquia de Sta Mª de Deixevre começa a ?Rota do Grelo?. Assim lhe chama a banda de rock Kastomä ao tramo da estrada N-550 que abrange de Ordes a Deixevre, passando por Guindibô e Santa Cruz de Montaos. Nesses poucos quilómetros as mulheres da zona vendem grelos frescos às pessoas que viajam de carro, numa surpreendente cena de choque entre a modernidade motorizada e a proverbial paciência camponesa, debruçada na periferia da velocidade. É esta atitude a que permitiu durante séculos a decantação e ?acumulação de substância? que desprende esta zona, fértil de histórias e estórias, alheias aos carros e à palavra escrita.

Os primeiros vestígios de assentamentos humanos nesta paróquia de Oroso datam do Megalitismo; prova disso é a mámoa de Vilar de Riba, uma das que menos alterações sofreu na zona. Durante séculos a população local pensou que destes seios térreos poderiam mamar as preciosas jóias dos mouros; não obstante, a mámoa acocha no seu interior de leite dourado um dólmen com o seu correspondente tesouro funerário. Já no final da Idade do Bronze achamos o primeiro vestígio guerreiro da zona, que, como veremos, não será o único. Trata-se da conhecida como ?ponta de lança de Deixevre?, elaborada há uns 2750 anos. Feita de bronze, apresenta grandes dimensões. Este tipo de armas presentes no Bronze Final galego, para o arqueólogo G. Meijide não encontram paralelos na península, mas sim em Irlanda e na Grã Bretanha.

Na vizinha paróquia de Marçoa os mouros ?tão acurralados pola modernidade como as vendedoras de grelos? baixarão a guarda a começos do século XX, quando aparece o Tesouro de Recouso. Na freguesia fica o castro da Santinha e o de Bouça Longa, onde se acharam fragmentos de cerâmica. Este último situa-se na aldeia do mesmo nome. Nela nasce em 1924 António Nouche Costa, conhecido no Exército Guerrilheiro da Galiza como ?O Soldado de Deixevre? ou ?Dourado Janeiro? ?nome que tomará o destacamento da IV Agrupaçom que se movia polo triângulo formado entre Ordes, Cerzeda e a Corunha?, que deserta do exército golpista para unir-se à luita armada anti-franquista, co-fundando com Manuel Ponte Pedreira o ?Destacamento Manuel do Rio Botana?, chamado assim em homenagem ao jovem guerrilheiro de Ordes assassinado em Castrelos, na co-lindante paróquia de Santa Cruz de Montaos. Não tardou a repressália do fascismo, e a sua família, que morava em Bouça Longa, é deportada a Espanha. A gente que o conhecera destaca o seu vigor físico e a sua simpatia, ?era um bom homem?.

Quase dez anos após a fim da Guerra Civil os concelhos de Ordes e Messia estavam declarados zona de guerra. A princípios de 1947 o Governo espanhol ordena como castigo a morte de duas pessoas por zona. Em Bergondo matam a Celsa, mae do guerrilheiro Trelhe, que finara no incêndio da cámara municipal de Oroso, terra de Nouche, polo que suponhemos a sua implicação na sabotagem. O cerco cerrava-se, e em 1948 toca-lhe o turno a ele, também em Bergondo, na matança dos Chintos, onde se forja a lenda da heroína galega Manuela Sanches que deu a vida em defesa do guerrilheiro que fora delatado polo seu homem.

Conta a vizinhança que o castro de Bouça Longa serviu também alguma que outra vez de refúgio dos guerrilheiros, baptizados na comarca como ?os foucelhas? pola popularidade de Benigno Andrade. Quantas ressonâncias de epopeias entranha a cena de imaginar os guerrilheiros a refugiarem-se na noite ancestral e segura do castro!

Deixevre estivo também marcado de sempre polos caminhos. Os católicos celtas, da Bretanha e Irlanda,Image desembarcavam nos portos brigantinos para prosseguir a peregrinagem polo Caminho Inglês, que atravessa Deixevre polas aldeias da Baxóia, Agrelo, a Rua e a Santinha, onde a caminhante pode refrescar-se na fonte do mesmo nome. A atual igreja paroquial, ao pé da estrada, engoliu na sua construção a capela da Santa Margarida, também de construção recente, pois fora erguida entre 1917 e 1919. Mais do que a arquitectura, o interessante é o entorno, uma magnífica carvalheira recurtada paulatinamento polo ?progresso?. Em Vilar de Riba ?junto a mámoa? ainda sobrevive a parada de cavalos fundada no ano 1734, mas que não pudo fazer competência ao também agora agonizante Castromil. Já em Vilar de Baixo podemos ver a blasonada Casa Grande dos Rapelas, do s.XVIII; ou o espigueiro quase centenário da casa de Baleato. Este harmonioso convívio com as vias de comunicação estragou-se a finais dos setenta, quando a extracção colonial das riquezas da Galiza precisou de uma auto-estrada que uniu as cidades galegas com a metrópole espanhola ao custo de exterminar a população rural, isolada destas veias do Leviatão que suga os recurso naturais da país. Em Deixevre, paróquia de forte passado guerreiro, a empresa ?Autopistas del Atlántico S.A.? foi alvo de vários ataques defensivos em 1979, quando várias casetas de material são voadas pola organização independentista L.A.R. (Luita Armada Revolucionária) a escassos metros, precisamente, do castro de Bouça Longa.

Tirado de A Revista nº 15, suplemento do Novas da Galiza: http://novasgz.com/pdf/arevista15.pdf

e: http://www.galizalivre.org/index.php?option=com_content&task=view&id=2265&Itemid=1

Escrito ?s 17:56:48 nas castegorias: MEMÓRIA, HISTÓRIA
por ordes   , 820 palavras, 1143 visualizaçons     Chuza!

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