Resistir.info
por Iván Márquez
Dom Varito Corleone é a realização do grande sonho do capo das drogas Pablo Escobar Gaviria de tomar nas suas mãos o governo e as rédeas do poder na Colômbia. E Varito ? abreviatura de Alvarito ?, mais exactamente "Doutor Varito", era o nome carinhoso, carregado de amor, com que o grande capo da mafia se referia ao doutor Álvaro Uribe Vélez, actual Presidente da República da Colômbia.
É impressionante e causa calafrios a revelação de Virginia Vallejo no seu bestseller, Amando a Pablo, odiando a Escobar, sobre o espantoso procedimento delitivo com que o actual Presidente da Colômbia, nessa altura director da Aeronáutica Civil, entregou, uma a uma, centenas de licenças à máfia para operar pistas clandestinas na selva, a partir de onde decolavam, rumo aos Estados Unidos, centenas de aviões repletos de cocaína. É possível que a sua estreita relação e fraternidade com o seu conselheiro José Obdulio, primo de Pablo, venha dessa época da dança dos dólares e do império dos laboratórios cocaineiros da Tranquilândia.
Neste contexto, o qualificativo de "Casa de Narquiño" que o colunista atribui ao Palácio de Nariño, sede do governo da Colômbia, não soa nem despropositado nem absurdo, pois dali despacha não só Varito Corleone.
O vice-presidente Francisco Santos, inspirados de um bloco paramilitar que ensanguentou Bogotá, no passado utilizou a embaixada da Colômbia em Espanha, encabeçada pelo filho do empresário Carlos Ardila Lulle, para realizar intenso contactos com a máfia paramilitar. Ali recebeu de Rosember Pabón a notícia da formação de um novo Bloco narco-paramilitar no departamento do Valle.
Se o governo de Álvaro Uribe Vélez, ou Varito Corleone, mantem-se contra a ética e o decoro, é graças ao apoio militar e político do governo dos Estados Unidos, do Rei e do governo do Estado Espanhol, ao apoio dos donos da [TV] RCN, da [rádio] Caracol e do diário El Tiempo que o encobrem o protegem, através da imagem, da voz e da pluma da manipulação. Guardam silêncio perante a grande quantidade de ligações do "doutor Varito" com a máfia e a narco-para-política. Só atacam os seus peões e um ou outro dos seus bispos, ao passo que a ele preservam-no num nicho forrado pelo veludo da infâmia.
Graças a estes últimos já não se recorda que Álvaro Uribe Vélez foi que ofereceu no Hotel Tequendama uma homenagem de desagravo e exaltação ao general Rito Alejo del Rio, o pavoroso carniceiro do povo de Urabá, o mesmo que embarcou em dois aviões, no aeroporto Los Cedros de Apartadó, o contingente militar que dias depois perpetrou o massacre de Mapiripán.
O padrinho daquela máfia, o patriarca do crime da extraordinária novela de Mário Puzo, matava sem compaixão, com diplomacia ou sem ela, para assegurar o segredo e eliminar os seus adversários. Na Colômbia será preciso averiguar quem está por trás das mortes violentas do amigo e a seguir inimigo de dom Varito Corleone, Pedro Juan Moreno, num helicóptero do narco paramilitar "dom Guillo", e do assassinato de César Villegas, personagem do processo 8.000 e testa-de-ferro de Uribe na Aeronáutica Civil, ambos, mortos no cenário preferido das vendettas de gangsters.
Cada vez que dom Varito Corleone sai em passeio internacional escolhe o melhor disfarce de democracia do seu guarda-roupa na Casa de Narquiño. E é recebido pelo Bourbon na sua ressaca, também pelo perverso Solana, e pelo presidente espanhol que deveriam antes reconhecer a auto-determinação ao país vasco ao invés de endossar semvergonhices... Bush sabe-se quem é, mas essas visitas do "doutor Varito" não são registadas nas manchetes da imprensa mundial. O truque consiste em levar no avião presidencial a Caracol e a RCN para fazer crer aos colombianos que se trata da notícia internacional do momento. Esfreguemos os olhos não é tempo de enganos. A cadeira presidencial de Uribe deve ser convertida em banco dos acusados.