ESPANHA: Umha economia em quebra ou o dilema de Krugman

31-12-2009

  18:10:41, por Corral   , 1516 palavras  
Categorias: Ensaio

ESPANHA: Umha economia em quebra ou o dilema de Krugman

 
Pedro Montes
Rebeliom
 
 
 
Umha economia em quebra
 
Há que partir de caracterizar à economia espanhola como umha economia em quebra. Arrasta um deficit exterior extremamente agudo, que o converteu num dos países com umha dívida exterior neta mais grave do mundo, e tem um nível de desemprego desolador. Com estes dados, pode-se concluir que esta economia nom encontrou seu lugar no puzzle da globalizaçom, e mais concretamente, que nom conseguiu um equilíbrio razoável no marco da uniom monetária europeia.
 
O vaticínio da nom recuperaçom surge da impossibilidade da financiar. Umha economia em expansom daria lugar a umhas necessidades de financiamento exterior que som muito difíceis de cobrir. Em primeiro lugar, polo montante exigido. No 2008, o deficit da balança por conta corrente, o que se requeria financiar, foi um impressionante 10% do PIB. Reduzir-se-á acusadamente neste ano, polo afundamento da demanda e a actividade, mas ainda representará mais de um nada desdenhável 5% do PIB, e um relançamento dispará-lo-ia de novo.
 
Em segundo lugar, polo enorme volume de dívida exterior acumulada, que deve se refinanciar quando a solvência do país anda em tela de julgamento nos mercados financeiros internacionais. Essa dívida tem-se canalizado fundamentalmente polas entidades de crédito e atrapou a todos os sectores económicos, incluído já o sector público, que será incapaz durante bastante tempo de praticar umha política fiscal expansiva. Em terceiro lugar, a crise financeira deixar-se-á sentir durante muito tempo: manterám-se os circuitos do crédito obturados e a desconfiança e a insegurança como clima geral. A falta de crédito e liquidez na economia espanhola, as restriçons financeiras actuais nom se dissiparam, se nom se agravam com a crise latente do sistema creditício espanhol. Nessas condiçons, nom é possível a recuperaçom.
 
As misérias da política
 
Mas o problema do desajuste estrutural que sofre o país é mais complicado. A situaçom insustentável, bloqueada, sem saídas visíveis, puseram-na de manifesto muitos prestigiosos analistas, paradoxalmente mais os estrangeiros que os espanhóis, quiçá por estar menos submetidos às misérias da política e à o conflito de interesses que a crise tem exacerbado. Podem tomar-se as declaraçons do prémio Nobel Krugman como um bom exponente das opçons existentes. Este dixo, no que poderia se denominar como seu dilema: a economia espanhola tem de reequilibrar sua situaçom na economia internacional por médio de umha melhora de sua competitividade, que só pode vir por dous caminhos: umha desvalorizaçom da moeda, cousa impossível polo pertence ao euro, ou um drástico ajuste interno de preços e custos.
 
A magnitude desse ajuste é discutível, mas manejou-se umha cifra entre o 15 e o 20%. Esta saída tem muito sérios inconvenientes e sua aplicaçom é quase impossível. Nom se pode descartar que a crise promova um ajuste interno progressivo, como de facto se está a produzir já. Mas nom cabe esperar que por um acordo social se reduzam os custos, isto é os salários, numha proporçom tom intensa como a situaçom reclama, e muito menos os preços, de por si incontroláveis. Há que ter em conta, ademais, que um ajuste depressivo desta natureza afundaria a economia, o que a partir dos níveis de desemprego existentes cria um panorama tam estremecedor como inquietante.
 
E o problema complica-se porque se chegasse a produzir-se o ajuste e a se remediar o desequilíbrio exterior, a economia espanhola nom poderia se adentrar numha fase de recuperaçom sustentada digna de tal qualificaçom, porque desde o mesmo momento em que isto começasse a suceder reproduzir-se-ia a perda de competitividade e com isso reapareceriam os problemas de financiamento exterior. Por conseguinte, a saída possível que nos marca Krugman é um afundamento imediato da economia, com mais milhons de parados, e a condenaçom a permanecer no fundo estancada, pois as aventuras de recuperaçom som pouco menos que impossíveis. Esta é polo demais a que se considera a opçom realista, a única, pois se conseguiu um pensamento comum generalizado entre os políticos e economistas de que o pertence ao euro é algo irreversível.
Caberia começar rebatendo esta opiniom, pois nom há na política nada irreversível. Despendurar-se do euro é verdade que está fora de todos os projectos para remontar a crise. Entre os políticos é impossível encontrar algum que aposte pola saída do euro. Entre os economistas e analistas a posiçom nom é tom fechada, mas abertamente ninguém pom a questom sobre o tapete. Mas com realismo é necessário reformular-se o pertence à moeda única pois, como se viu, a saída que propom Krugman é se lançar a um precipício, e as sociedades nom som proclives ao suicídio.
 
Umha catástrofe financeira
 
Após mais de umha década de pertence ao euro e os fortes compromissos em dita moeda que tem adquiridos todos os agentes sociais, sair do euro e restabelecer umha moeda própria fortemente desvalorizada conduziria, entre outros males e comoçons, a umha catástrofe financeira, ao se ter que pagar em euros a dívida *descomunal exterior existente. Que o país teria que se declarar em bancarrota é mais que provável, mas, e isto é o que dá dramatismo à situaçom da economia espanhola, é que possivelmente nom há outra alternativa. Esta implicaria fazer tabela *rasa do passado e ter que começar de novo a construir umha economia com umha moeda bem mais débil, com umha relaçom de intercâmbio mais conforme com os fundamentos económicos, mais protegida e menos aberta ao exterior, mas ao mesmo tempo com mais possibilidades internas de ser dirigida e controlada. De novo dispor-se-ia de umha moeda para equilibrar os fluxos económicos com o exterior e ganhar-se-ia um instrumento essencial para intervir na economia como é a política monetária própria, à que se renunciou com o euro.
 
Enfim, o que se apresentou como o dilema de Krugman é realmente umha aporia, isto é, como di o dicionário: dificuldade lógica insuperável de um problema especulativo. Nengumha das duas alternativas é razoável, as duas encerram problemas *gravíssimos de aplicaçom e as duas implicam conseqüências pavorosas. Daí a opiniom de que a saída da crise nom resolver-se-á em finques económicas senom como resultado dos conflitos sociais e políticos que promoverá umha situaçom económica insustentável. E daí a dizer que a luta de classes será a que determine o futuro da economia só fica um passo lógico, conquanto abrirá um processo social longo e muito complexo, onde polo momento nada está escrito conquanto constituirá um palco propício para o aparecimento de demagogos.
 
Parece claro que o futuro da economia e da sociedade espanhola será convulso, está cheio de interrogantes e em modo algum se encontra despejado, como querem fazer crer os que divulgam que a recuperaçom está à volta da esquina ou a fixam já como cortina de fundo para o porvir imediato. Há que ter em conta, no entanto, que as duas alternativas existentes comentadas, que contradizem essa perspectiva, determinam palcos muito diferentes, com envolvimentos que vam bem mais lá do problema complexo da saída da crise económica.
 
A opçom do ajuste interno supom em definitiva um ajuste permanente da economia no marco conceptualmente ultra neoliberal da Europa de Maastricht, que terá que ser muito duro num primeiro momento e sustentado depois. Cria as condiçons para um contínuo acosso às condiçons de vida da maioria da populaçom, em seus salários, nas pensons, nos serviços sociais básicos, nos direitos trabalhistas, na fiscalidade. É a continuaçom endurecida do que ocorreu desde que se aprovou o tratado de Maastricht para criar a moeda única, sem as vantagens já de umha expansom económica e os fogos artificiais do bem-estar. É o pior palco que cabe imaginar para os trabalhadores, capas sociais modestas e sectores amplos da pequena e média burguesia, pois estarám submetidos a umha ofensiva perene contra suas condiçons de vida e interesses, pola pressom constante que exercerá o objectivo de nom perder competitividade, contando ademais com que tem umha posiçom de força política débil e em contínuo desgaste.
 
Nom cabe edulcorar as conseqüências da opçom de se sair do euro. Os desbarates e excessos passados amparados polo euro tem que passar factura. Como terám de ficar desautorizados todos aqueles que apostaram polo euro, muitos dos quais creram descobrir na moeda única um maravilhoso taumaturgo para poder cometer impunemente todo tipo de barbaridades e desmandos, chegando inclusive a pensar que com o euro as crises se tinham acabado. A comoçom de umha saída do euro seria terrível, ou com mais precisom, será terrível, porque todo fai pensar que será algo irremediável. Mas falado isto, a sociedade espanhola estará em melhores condiçons para dominar seu futuro ao se fazer com os impulsos básicos para desenhar umha economia diferente que, na medida em que a esquerda imponha seus critérios, será o mesmo que dizer que a economia poderá se pôr ao serviço das pessoas, e nom como sucede agora com o neoliberalismo, em que as forças cegas do mercado se impom e domesticam à sociedade.
 
Por nom esquecer a Krugman: caberia dizer que seu dilema é correcto, mas se equivoca na eleiçom desde o ponto de vista económico e, contando com que é um progressista, desde o ponto de vista político.
 
 
 Pedro Montes é economista.
 

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