Juan Torres López
Sistema Digital
Quando se está a falar tanto da necessidade, da iminência ou da possibilidade dum ?resgate? da economia espanhola convém reflexionar e pôr algumhas cousas em claro.
Dizê-se que um grupo de países ou instituiçons, como poderiam ser a Uniom Europeia ou o Fundo Monetário Internacional, ?resgatam? um país quando lhe concedem um crédito a pagar num determinado prazo que lhe permite cobrir os ?buracos? que por diversas razons (geralmente por acumulaçom de deficit e dívidas) tenham podido produzir sua insolvência. Mas há que ter em conta que esses buracos podem ser de natureza muito variada. Assim, muitas ditaduras e governos militares dos anos setenta e oitenta endividárom a seus países, com a conivência dos grandes bancos internacionais, com empréstimos que em ocasions nem sequer chegaram a eles senom que se utilizaram fora do país para negócios corruptos. Outras vezes utilizaram-nos em obras completamente inúteis ou directamente para enriquecer aos grandes empresários e banqueiros.
No recente caso de Irlanda, a necessidade peremptória de ?ajuda? deve-se a que há que cobrir as perdas multimilionárias do sector bancário. E umha parte importante da dívida pública grega que foi ?resgatada? recentemente originou-se para comprar armamento a França ou Alemanha.
Quando a acumulaçom de dívida à que nom se pode fazer frente é muito grande, os credores som os primeiros interessados em que se produza o ?resgate? do país pois dessa maneira asseguram-se sua reintegro. E costumam ser eles os que o promovem. O dinheiro que chega com o "resgate" dedica-se a saldar suas dívidas e a nova que se origina com as instituiçons que resgatam a pagam os cidadaos em seu conjunto ao longo do tempo. Os ?resgates? consistem, pois, em converter dívida privada, que polo geral geraram e desfrutado os sectores mais ricos, em dívida pública que pagárom principalmente as classes de rendas mais baixas. Mas a cousa nom fica aí. O ?resgate? nom se produz nunca como umha dádiva senom a condiçom de que o país ?resgatado? cumpra umha série de condiçons. A primeira, que esta nova dívida tenha sempre carácter preferente e, ademais, que se tomem as medidas de política económica e mudança estrutural que convenham a quem ?resgata?.
Graças a esse procedimento, a dívida externa que se originou em muitos países ao longo dos anos setenta e oitenta foi a antessala da aplicaçom das políticas neoliberais que promovem o Fundo Monetário Internacional e os grupos mais poderosos do mundo que, para fechar o círculo, som ademais os que se beneficiam do saldo da dívida.