Manuel Lois Garcia e ?El Soldado Lois? nom som a mesma pessoa. De facto ?El Soldado Lois? nom é umha pessoa, é um mito que criou o fascismo espanhol e que pouco a pouco foi comendo a Manuel Lois, a sua base real. Empregado a nível estatal como exemplo do que deve ser um súbdito espanhol: obediente e disposto a morrer por Espanha; empregado a nível galego como exemplo do que deve ser um galego: um cadáver; e empregado a nível local para ocultar, física e simbolicamente, os recordos de umha época de luita entusiasta pola liberdade no concelho: criaçom de bibliotecas, escolas, mitins, dúzias de organizaçons agrárias, socialismo, galeguismo, manifestaçons, etc.
Assim é que hoje ninguém recorda que praticamente toda a paróquia de Vila Maior estava a luitar polo socialismo nas agras, nas forjas, nas ruas. Ninguém recorda que no concelho havia três agrupaçons galeguistas (só um par de concelhos tinham mais em todo o país) ou que a mocidade estava organizando-se no ?Bloco da Juventude? na que participavam republicanos, socialistas, galeguistas, etc... E, como é óbvio, tampouco se fala de Ordes como o que foi, o berço da resistência galega após o golpe de 1936, tendo um papel chave na criaçom do Exército Guerrilheiro da Galiza os militantes da comarca. Mas do que já ninguém tem o mais mínimo recordo é de Manuel Sousa Hermida, socialista e proprietário da xastreria em que trabalhava Manuel Ponte, e que desde o exilo em México jogou um papel fulcral na Revoluçom Cubana. Nom obstante era a sua xastreria, a ?Barón Dandy?, onde o Che Guevara e os irmaos Castro se reuniam com os exilados galegos e espanhóis para conseguir umha embarcaçom para chegar a Cuba. E isto conseguiu entre outros Sousa Hermida, comprando o mítico ?El Gramma? e treinando aos guerrilheiros junto com o general Bayo desembarcariam na ilha. Experiência militar nom lhe faltava, após luitar na defesa da República em Catalunha. Sobre todo isto só fica a sombra e o silêncio. Falam-nos porém de ?El Soldado Lois?, que os cronistas espanhóis retratam como ?el soldadito gallego?, ?marcado por la tristeza o la miseria? que ?no aprendió a leer ni escribir?.
O jovem de Ordes é instrumentalizado como um herói do franquismo espanhol, quando para ele o Golpe Militar de 1936 foi, antes do que umha ocasiom para o heroismo, umha desgraça que o obriga a abandonar à sua noiva e família, que nom volverá a ver nunca, para ingressar forçosamente na Marinha de Franco. Manuel Lois desapareceu para a sua gente, de facto, tam pronto como deixou Ordes, pois nem sequer poderiam velar o seu corpo, já que até este rito de esconjurar a dor da morte lhes foi negado por um Estado fascista que já o estava a converter num símbolo. ?No me llores madre mía/ si en la lucha he de quedar/ que es deber del español/ ¡por la Patria!/ su sangre derramar?, reza a ?Marcha Heroica? da Infantaria de Marinha que recrutara a Manuel Lois. É este o chamado ?nacionalismo funerário?, que se alimenta como um vampiro da sangue dos seus soldados para irrigar de vida a sua bandeira canalha.
A dia de hoje, quando a transfusom de vida do corpo de Manuel Lois Garcia ao de ?El Soldado Lois? está consumado, o ritual de homenagem franquista que se leva a cabo cada ano no cemitério do Laranjal fica totalmente despido: morto o recordo do rapaz, mortos os seus seres queridos que vivêrom com ele, só fica o exalzamento do Golpe de Estado e o patriotismo espanhol que tanto nos afogou. O acto político já nom pode escudar-se no sentimental.
Quem é Manuel Lois Garcia?
Manuel Lois Garcia nasceu no 22 de Maio de 1912, na aldeia de Vila Verde (paróquia de Ordes). A sua mae era Dolores Lois Vila-Verde; passou enormes dificuldades para sacá-lo adiante, pois o pai biológico desentendera-se totalmente dele. Assim foi que herdou os apelidos do seu avô paterno, José Lois Garcia. Aos treze anos a morre-lhe a mae, e a miséria económica obriga-o a começar a trabalhar de jornaleiro em várias casas labregas. Numha delas, na de Manecho em Cestanhos (Parada), conhece à sua noiva, Consolo Moure Silveira, com quem terá umha filha, Josefina, que fina aos poucos meses de nascer. Quem o conheceu conta que era um rapaz com muita vitalidade e trabalhador, que tivera que deixar a escola pouco antes dos doze anos.
De jovem tivera que suportar burlas injustificadas, como quando nas romarias algumhas moças se negavam a bailar com ele pola sua pobreza e curta estatura. Isto último livrou-no de ter que prestar o serviço militar. Porém, poucas semanas depois da sublevaçom militar dos fascistas contra o governo eleito democraticamente é obrigado polas autoridades golpistas a ingressar no exército de Franco. Tem entom que abandonar à sua noiva, que nunca mais volverá a ver, e deixar o trabalho.
No 14 de Agosto causa alta no Grupo de Infantaria de Marinha de Ferrol, sendo embarcado no cruzeiro acouraçado Baleares o 2 de Novembro de 1937, ocupando o posto de telefonista ao pé do canom nº4. Diante da costa de Argélia dá-se a batalha de Cherchell no que navios da Marinha do regime democrático da República se enfrontam com o acouraçado golpista Baleares. Neste contexto fina Manuel Lois, sacrificando a sua vida para evitar que estoupasse umha caixa de projectis que causaria quantiosos danos e baixas no navio franquista. Nem a sua namorada nem a sua família poderám velar o corpo, que nom será repatriado.
Quem é ?El Soldado Lois??
?El Soldado Lois? é um símbolo do regime franquista criado sob a pessoa de Manuel Lois Garcia. Desde os primeiros momentos da sua morte demonstrou-se que os soldados pertencem ao Estado até quando já nom vivem. Em lugar de devolver o corpo à família, Manuel Lois é convertido em ?El Soldado Lois?, herói e involuntário símbolo do golpistas de 1936, que o arrincaram da sua terra para morrer por umha causa que nom era a sua. O patriotismo de estados totalitários nom entendem de dor humana, e Manuel Lois foi soterrado longe da sua casa, em Cádis, no Panteom de Marinhos Ilustres, até Junho de 1965, quando as autoridades fascistas do Ministério de Marinha, a iniciativa da ?Ayudantía Nacional de los Grupos del Mar de la Falange?, decidem devolver o corpo à sua vila natal de Ordes, aproveitando para levar a cabo o maior acto de patriotismo e fascismo espanhol que se recorda. Desde entom o rapaz de Vila Verde nom pudo volver a ser Manuel Lois engolido pola personagem de ?El Soldado Lois?, que ainda hoje é obrigado a actos de serviço involuntários; com a invasom da vila ordense a cada ano do ?Tercio de Infantería de Marina? do exército espanhol.
Por que se escolheu precisamente a Manuel Lois?
Para entender porque se criou precisamente sobre a pessoa de Manuel Lois este herói franquista à que situar os acontecimentos no seu contexto. Por umha banda, a Marinha foi umha divisom do exército particularmente atravessado para os golpista antidemocratas. Em grande parte dos navios os marinheiros amotinárom-se contra os mandos fascistas, fusilárom-nos e figérom-se com o controlo da embarcaçom permanecendo fiéis ao governo democrata. O cruzeiro Baleares, em troques, era a jóia da Marinha fascista. O próprio Juan de Bourbon, pai do actual rei da coroa de Espanha, solicitara-lhe a Franco numha carta do 7 de Dezembro de 1936 que lhe deixa-se servir nele.
Em Março de 1938 a Marinha de Guerra da República consegue afundir o Baleares. Nele iam 790 soldados e oficiais fascistas. Nesse momento converte-se já num mito da martirologia franquista, e dúzias de ruas, praças e monumentos levarám o seu nome. Lançados numha campanha de propaganda, o governo fascista encarga-lhe à RKO, famosa empresa dos Estados Unidos de América, umha superproduçom cinematográfica sobre o Baleares. O colossal projecto custava 700.000 pesetas da época, dos quais o governo de Franco ?mais preocupado em dar-se publicidade do que em reconstruir uns povos que previamente esmagara? pagou 400.000. O director foi o fascista mexicano Enrique del Campo, que trabalhara como espia e comandante do exército fascista espanhol. Nom se escatimou em gastos: centos de extras, fogo real, assessores militares e políticos, gravaçons no Canarias, o seu navio gémeo, etc. O espectacular estreio anunciara-se para o 12 de Abril de 1941, um cento de cinemas estavam preparados em 40 cidades de Espanha, Galiza, País Basco e Catalunha. O dia antes o filme é censurado e todas as cópias eliminadas. Nunca se soubo o porquê, mas a versom nom oficial di que na visom prévia que realizou o generalato a mistura de umha história sentimental com a histórica bélica-patriótica indignou ao ditador, que aguardava muito mais patriotismo.
Sendo o Baleares a meninha dos olhos de Franco é normal que se escolhesse a Manuel Lois, marinheiro do mesmo, como insígnia da nova orde fascista. Há que ter em conta os anos no que transcorrem os factos, e recordar o que conta o historiador Antonio Míguez Macho:
...a prática genocida é umha terminologia ajeitada para definir um processo de violência de retaguarda como o que se deu na Galiza fundamentalmente nos anos da guerra civil, precedido de umha série de construçons discursivas e seguido de umha elaborada trama narrativa. (O que fixemos en Galicia. Ensaio sobre o concepto de práctica xenocida. Ourense: Difusora, 2009, pág. 173)
O genocídio que estava a executar-se no país necessitava ser acompanhado ?de umha elaborada trama narrativa?, é dizer, reconstruir os factos para que se adequassem ao interesse do novo poder e o legitimasse, re-escrever a história e limpar qualquer rasto da República. Um repasso à imprensa franquista ajuda também a compreender a construçom deste símbolo, ?El Soldado Lois?, e a sua funçom na trama narrativa do franquismo. No ABC ?o jornal favorito do ditador? , pode-se ler umha reveladora passagem:
Manuel Lois García, hijo de Dolores, natural de Órdenes (Galicia), jornalero, soldado de, Infantería de Marina, muerto en la defensa del crucero "Baleares" el día 9 de septiembre de 1937 y condecorado con la Medalla Naval y la Cruz Laureada de San Fernando. La Patria no distingue de clases ni exige limpiezas de sangre a la hora de premiar a quienes le sirven: en el mismo mes de mayo de 1939, un Generalísimo y un soldado, Franco y Lois, hijos ambos de la Galicia sufrida y heroica, recibían el mismo supremo galardón militar de España." (ABC, Madrid, 07-09-1962, pág. 17; sublinhado nosso)
Manuel Lois servia entom como complemento à imagem que se estava a criar de ?El Caudillo?: o general triunfante e o dócil soldado; o dirigente poderoso e o servo obediente, recriando a imagem ideal do seu modelo de Estado, oposto à democracia igualitária. Para isso reenvia-lhe ao futuro servo a imagem que dele se espera: dócil, obediente, abnegado... e até lhe recorda que a sua condiçom de campesinho e galego (nom-espanhol), nom será um problema, já que ?La Patria no distingue de clases ni exige limpiezas de sangre...?. É de destacar a pouca subtileza com a que se leva a cabo este trabalho de reforma simbólica, o citado artigo fala de ?...la pasmosa heroicidad de aquel soldadito gallego?, refire-se a ele como "uno de esos muchos hombres ignotos que Galicia tiene ocultos y guardados para las ocasiones culminantes de España...", e recorda-lhe que o seu sacrifício ?puede reportarle los más rutilantes lauros y ascenderlo súbitamente del anonimato a la gloria nacional que abre las puertas de la Historia...". Estas manobras eram habituais no franquismo, e como explica um historiador compostelano: ?Com o que podemos saber a dia de hoje, os poderes surgidos da institucionalizaçom do regime combinam a promoçom de capas da populaçom jovens, sem experiência política prévia e vontade de promoçom pessoal, com a restauraçom de velhas elites que foram deslocadas? intentando premiar àquelas pessoas que se mantiveram à margem da política durante a República e ?nom buscárom problemas?.
A lenda do ?El Soldado Lois? escreve-se entom para apagar as cinças da efervescência política e associativa da República. Nom em vam, o mausoleio erigido polas autoridades franquistas a ?El Soldado Lois? no cemitério municipal de Ordes, situa-se sem nengum recato sobre a sua parede norte, na que militantes de esquerda fôrom fusilados e enterrados numha fosa comum. É aí onde cada ano, inenterrompidamente desde 1965, o exército fascista espanhol vem a recordar a sua vitória. A figura do ?El Soldado Lois? é escusa para realizar, na combativa comarca de Ordes (berzo do Exército Guerrilheiro da Galiza, que durante muitos anos foi o principal obstáculo da ditadura franquista), umha limpeza simbólica que faga esquecer a luita pola liberdade de todas aqueles que seguem enterrados sob o seu mausoleo.
Também lhes saiu a táctica que ainda pouca gente se atreve a falar hoje em voz alta de, por exemplo, Joám Rios Garcia ?Rada?, labrego de Ordes na casa do qual trabalhara precisamente Manuel Lois. Militante de Esquerda Republicana (Izquierda Republicana) e da Sociedade de Agricultores de Ordes, vereador do concelho municipal de Ordes da Frente Popular, que foi julgado em Compostela por traiçom e condenado a cadeia perpétua. Ou de José Areoso Bieites, labrego do Partido Galeguista e síndico no governo municipal da Frente Popular, condenado também a cadeia perpétua. Ou qualquer das quase 200 pessoas retaliadas directamente (assassinadas, presas, exiladas, deportadas, torturadas, etc.) em toda a comarca de Ordes a conseqüência do golpe fascista.
A isso se refere Antonio Míguez quando diz que:
"a dificuldade moral para explicitar os processos genocidas é um sintoma destes. No nosso caso, extraordinário por diversos motivos, a violência genocida conseguiu (quase) todos os seus objectivos. Estes nom som somente os de extermínio físico e identitário das suas vítimas, mas também, e por isso se produziu a violência, os de consolidar umha nova forma de poder, de relaçons sociais e culturais no seio dumha sociedade". (pp. 14-15).
Como é isto possível em ?democracia??
Como se explica logo, que no ano 2009, o exército espanhol leve a cabo cada ano em Ordes umha cerimónia comemorando o Golpe de Estado de 1936, sobre os cadáveres das vítimas?
Talvez seja porque o do Estado espanhol seja um caso único no mundo, e aqui ainda passam cousas impensáveis noutros lugares que padecêrom o fascismo, como Alemanha ou Itália. Por começar a ordem política na que vivemos hoje em nom é fruto de umha revoluçom contra a ditadura franquista senom umha herdança desta. Vejamos:
1939: remata a Guerra Civil com a vitória do exército golpista, ajudado pola Legiom Cóndor do exército nazi de Alemanha, os camisas negras da Itália de Mussolini e os viriatos de Salazar.
1947: Espanha converte-se em Reino pola ?Lei de Sucessom de 1947? que ainda nos incumbe.
1969: Juan Carlos I de Bourbon é designado por Franco como o seu sucessor.
1975: Fina Francisco Franco na cama de um hospital e o seu sucessor ocupa o posto que lhe deixa.
Por outra banda, o partido de direitas de referência no Estado espanhol, o Partido Popular, nega-se o 13 de Fevereiro de 2001 ?quando exercia o Governo do Estado espanhol? a condenar o golpe de Estado de 18 de Julho de 1936, à vez que condecora a Melitón Manzanas, famoso torturador do franquismo, e outorga através do seu Ministério de Cultura quantiosas subvençons à Fundación Francisco Franco. Poucos dias depois, o 27 de Fevereiro, a Comissom de Defesa do Congresso dos Deputados rejeitou umha proposta, apresentada polos grupos socialista e nacionalista basco, cujo objectivo era reabilitar moral e historicamente aos guerrilheiros anti-franquistas que luitárom contra a ditadura do general Francisco Franco em todo o Estado espanhol. Os dezanove representantes do PP na citada Comissom votárom em contra, embora a Proposiçom nom de lei fora aprovada antes numha dúzia de parlamentos autonómicos. No 16 de Maio de 2001, o Congresso dos Deputados aprova, por unanimidade, umha moçom apresentada polo Grupo Parlamentário de Izquierda Unida na que se solicitava a supressom dos qualificativos malhechores y bandoleros dos expedientes dos guerrilheiros. O voto afirmativo do PP deu-se só trás umha negociaçom na que se suprimiu o carácter militar dos antigos guerrilheiros; é dizer, nega-se-lhe o seu carácter político. Nom eram entom combatentes da República, e nom lhes amaparava entom o direito a solicitar umha pensom justo. Cinco anos depois, em 7 de Fevereiro de 2006, com o PP já na oposiçom, o Congresso dos Deputados aprova umha Proposiçom de Lei, apresentada polo grupo parlamentário IU-ICV, na que se solicitava que o ano 2006 fosse declarado Ano da Memória Histórica, instando ao Governo a que desse pulo a iniciativas tendente a homenagear às vítimas da Guerra Civil e do franquismo. O Partido Popular votou em contra.
E, entre tampo, o ?Valle de los Caídos?, onde estám enterrados José Antonio Primo de Rivera e Francisco Franco, autêntica Meca do fascismo espanhol, construído com a suor e sangue de 12.000 presos políticos, é sustentado por Património do Estado.
A cámara municipal de Ordes segue a colaborar com este status quo, negando-se incluso a dedicar-lhe umha rua a Manuel Ponte Pedreira ?para nom re-abrir feridas?, essas mesmas que pisoteia sem escrúpulos cada ano na homenagem espanholista a ?El Soldado Lois?.
Escrito ?s 18:01:19 nas castegorias: Nom categorizado
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Vosoutros non tedes traballo, vivides de rendas… ¿a que vos adicades? e que isto e perder o tempo de unha forma mui absurda ¿coñecedes a alguen a quen lle importe todo isto? ¿cantos? ¿10? ¿20?
Se falas en Ordes diste soldadiño, a sua historia non a coñece naide porque… a naide lle importa.
¿Donde vos metedes? nunca escuitei en Ordes (o meu pobo, e teño cincuenta anos) a nadie falar nesta extrana lingoa que escribides.
O día que vos vexa falando así pola rua non vos asustedes se vos miro de xeito extrano, será pola rareza.
Penso que o mellor que podedes facer e buscar algún traballo, veredes como se vos quita a parvoeira e deixades de perder o tempo en cousas que non lle importan a naide.