Com todo este tema surgido a partir da notíca de Jaureguízar, e apesar de ter chegado bastante tarde ao conflito, estive a manter uma certa intervenção nos comentários do portal. Coloco a seguir a minha última intervenção, em resposta ao Celso (Álvarez Cáccamo), de que fiquei bastante contente. Não passa de uma metáfoa de tudo, mas aí fica.
Seguimento:
Caro Celso,
é verdade que na Galiza, em geral, não se diferencia as personalidades das ideias e projectos (veja-se, senão, o caso PP = Fraga). Não é coisa exclussiva do luso-reitegracionismo, nem de movimento linguístico-cultural galego em sentido muito amplo, mas do país. Nessa situação estamos, e é desta perspectiva que me permito colocar o seguinte exemplo.
Eu tenho um amigo muito isolacionista, mesmo muito ofensivo muitas vezes neste tema. Há dias que no meu grupo de colegas se começa a falar no tema e ele não tem papas na língua: os reintegratas, de paiaços para acima. Depois repara que eu estou no meio e rectifica: bom, estou a falar de uns, mas não de ti, que és um bom galego, etc. etc. Evidentemente eu não trago, mas em lugar de pôr a parir os outros, ou defender os meus, o que faço é falar das virtudes do reintegracionismo. E aí cala. E muitas vezes consigo, por este meio, arrancar-lhe alguma que outra frase a favor da AGAL, de Carvalho Calero e de ti próprio, de quem fala especialmente bem, porque a sua tendência é a não citicar os galeguistas nem os que sabem.
Nessa situação, seria totalmente legítimo por minha parte pôr a parir o meu amigo por pouco dialogante e ofensivo, ou responder com outro ataque, mas a verdade é que isso me situaria, perante o resto do grupo, numa situação pouco propícia para que o luso-reintegracionismo fosse ouvido. Por desgraça, no meu grupo de amigos, como no resto da sociedade galega, o galeguismo é essa coisa de que falam os galeguistas, e criticar os galeguistas reconhecidos situa quem o faz fora do galeguismo, lugar em que me sinto muito a gosto. Evidentemente, isso não quer dizer que eu tenha imensa vontade de reconhecer, por exemplo, Quique Costas pelo seu trabalho a favor do galego, mas se houver admiradores de Quique Costas entre os meus colegas (e há), e quero achegar-me a eles, vou ter que ter um certo respeito por ele, como mínimo de palavra, para poder ser ouvido.
Imaginemos agora esta outra situação. Para além de mim, há outro reintegrata no grupo. É um bom amigo meu, ou nem tanto, mas com quem comparto todas, ou quase, as ideias. Repetindo-se a situação, o meu primeiro amigo começa a pôr a parir o reintegracionismo. Eu respondo como sempre, falando bem do luso-reintegracionismo, mas esta nova incorporação ao grupo começa a pôr a parir Quique Costas, razona muito, muitíssimo, mas aos gritos, e não responde nem um pouquinho às espectativas dos outros sobre " galeguismo". A situação quenta-se e a mim não me é permitido falar, porque toda a gente grita muito, e eu sou uma pessoa calma.
Na primeira situação, o conflito estava entre um preconceituoso (o meu primeiro amigo) e uma pessoa que tenta razonar, eu, que tinha, portanto, possibilidade de fazer chegar a minha mensagem ao resto da turma. Na segunda, o conflito está entre dois exaltados e, à falta de razonamentos (essa seria a impressão do resto da turma), entrariam em jogo algo mais que palavras, quer dizer, coisas como o prestígio social e o reconhecimento público, e aí o luso-reitegracioinismo teria tudo a perder. Aliás, nesta segunda opção eu ficaria num segundo plano e limitando-me a ver como todo o meu trabalho anterior para dar a conhecer o luso-reintegracionismo ficaria, afinal, em nada.
Perante isto, que é que eu vou fazer? É inevitável, nessa situação, que eu tome partido. E só tenho duas opções:
a) pôr-me de lado da pessoa com que compartilho as ideias luso-reintegracionistas. Dessa maneira, todo o meu trabalho anterior por dá-lo a conhecer e, em certa medida, legitimá-lo perante o resto da turma, ver-se-ia mermado, muito deslegitimado, quase ficaria em nada. Mantenho a coerência, sem dúvida, e talvez a minha postura sirva para criar um grupo mais forte de discurso reintegracionista. Mas, por outro lado, teria perdido a oportunidade comunicar-me com o grupo, e justo agora, que até houve algum que me pediu o livro de Barbosa para matar a curiosidade, e outros tinham começado a ir aos actos culturais dos centros sociais, e até começado a imitar certos usos linguísticos reintegracionistas. Aliás, aceitar esta opção significaria reconhecer que todo o meu trabalho anterior não serviu para nada, e dar-lhe de mão beijada ao outro o "status de líder", porque, contrariamente a mim, ele manteve a coerência.
b) Pôr-me de parte do exaltado isolacionista. Isto legitimar-me ia como galeguista dentro do grupo, e permitir-me-ia continuar o trabalho de concientização. Claro que assim eu ficaria bastante sozinho (bom, nem tanto), mas mantenho as possibilidades de fazer-me ouvir, que doutra forma perderia totalmente.
Entre entas duas opções, eu não duvidava em escolher a b). E isso, apesar de que, no estado de coisas, o que antes era um ponto estratégico (não desligitimar certa gente), agora corre o perigo de virar aliança a nível simbólico, por causa da intervenção do amigo luso-reintegracionista, e só por causa disso. A minha opção seria consciente, e em absoluto inocente, mas não deixaria de ser uma opção muito condicionada pela intervenção do meu amigo de discurso luso-reintegrata. Não haveria unidade entre eu e ele, portanto, mas é que para que existisse seria necessário que ele reconhecesse o meu trabalho anterior e não o desfizesse.
Não sei se me explico...