CROW'S UNDERSONG
She cannot come all the way
She comes as far as water no further
She comes with the birth push
Into eyelashes into nipples the fingertips
She comes as far as blood and to the tips of hair
She comes to the fringe of voice
She stays
Even after life even among the bones
She comes singing she cannot manage an instrument
She comes too cold afraid of clothes
And too slow with eyes wincing frightened
When she looks into the wheels
She comes sluttish she cannot keep house
She can just keep clean
She cannot count she cannot last
She comes dumb she cannot manage words
She brings petals in their nectar fruits in their plush
She brings a cloak of feathers an animal rainbow
She brings her fabourite furs and these are her speeches
She has come amorous it is all she has come for
If there had been no hope she would not have come
And there would have been no crying in the city
(There would be no city)
Ted Hughes, Crow.
Seguimento:
A MÚSICA DE ACOMPANHAMENTO DO CORVO
(A minha tradução ao galego)
Não pode chegar ao fim
Vem até à borda da água não mais além
Vem com o impulso do parto
Às pestanas aos mamilos as pontas dos dedos
Vem até onde chega o sangue e às pontas do cabelo
Vem até o limite da voz
Fica
Incluso depois da vida incluso sobre os ossos
Vem cantando não sabe tocar nenhum instrumento
Vem demasiado fria com medo das roupas
E demasiado devagar com olhos a tremer aterrorizados
Quando olha para as rodas
Vem nua não pode guardar casa
Só pode manter-se limpa
Não sabe contar não saber durar
Vem muda não pode usar palavras
Traz pétalas no seu néctar frutas no seu sumo
Traz um vestido de penas um arco-da-velha animal
Traz as suas melhores peles que são as suas falas
Ela veio para o amor é tudo para o que veio
Se não tivesse havido esperança não teria vindo
E não teria havido pranto na cidade
(Não teria havido cidade)
Retomo leituras de um sempre recente e traduzo. Um parto. A inocência do recém-nascido. A companhia. O amor. A cidade. Esta cidade? Hughes passeou-se por Alacant (e Benidorm), na lua de mel do seu matriomónio com Silvia Plath. Está tudo nas suas Cartas de aniversário. You hated Spain, desse mesmo livro, foi publicado também em Corvo em 1970, e nele Hughes expressa o horror que produziu em Silvia a visão de uma tourada. Tanta crueldade. Ele, porém, gostou imenso. O que fazia o toreador era também uma expressão da pulsão animal, da natureza em estado puro que tão bem transparece em Corvo, precisamente. E buscando ligações para esta entrada, encontro uma tradução de um outro poema de Silvia Plath: Corvo Negro em Clima Chuvoso. Vale a pena comparar os animais.