E sem pensar...

O pensamento é uma doença da alma. Disse-o Alberto Caeiro, se mal não lembro. O budismo zen, sem tê-lo feito explícito (acho) parte de uma base muito similar: o pensamento como doença seria algo assim como a conciência deslocada do aqui e agora. N'A Esmorga o protagonista falava também do pensamento como uma doença, creio lembrar, ou tinha uma doença a que chamava sabiamente pensamento. É-vos o que há. Levo vários dias sem assomar-me a esta janela para escrever e não é por acaso: não tenho muitos pensamentos. 'Tá um tempo magnífico cá embaixo e eu estou melhor que nunca. Barbaramente, se me alguém me entende. Não deu para pensar, mas passaram coisas, ou precisamente por isso.

Voar

Tomo assento. Coloco os dispositivos de segurança. A máquina começa a mover-se. Por enquanto vamos bem, subindo a um ritmo lento e parece que não se passa nada, se bem que uma sensação de vertigem comece aos poucos a tomar posse de mim, antecipando o que se achega. Estamos no ponto mais alto e de repente tudo muda: o mundo move-se, começa a dar voltas à velocidade do raio, as pernas esticam-se sós com a força centrífuga, e grito e grito e rio e volto a gritar. São apenas uns segundos, mas bem intensos. Ao pouco tempo estou no ponto de partida, saio de Tizona e vou para a Ave Fénix.

Com efeito: ontem fui a Terra Mítica, esse parque de atracações que há em Benidorm, a apenas trinta quilómetros de Alacant. Uma festa. O mais impressionante, à parte as atracções, foi a mensagem de texto que recebi estando lá: "Bloquéate el móvil que me has llamado dos veces y veo que te lo estás pasando en grande." Era uma mensagem de Bárbara, aluna minha, que me tinha telefonado para me convidar a ir a Valência este fim-de-semana. Flipou. Não sei por que me dá que amanhã me vai tocar aguentar uns quantos comentários simpáticos, durante concerto de Lluis Llach, ou na manife de 25 de Abril, ou talvez antes. Enfim... toca... e até vou gostar.

Nono

Procuramo-nos a nós próprios nas palavras dos outros. Ouvimos a música literariamente, ouvindo o que foi escrito, harmonias, ritmos que já conhecíamos. Nono via nisto "uma violência totalmente conservadora". E, reconhecendo o que quer dizer, estando consciente dos mecanismos que assinala, eu vejo apenas liberdade. E entre a sua postura e a minha, assalta-me agora uma dúvida pungente. Qual das duas é que tende para a solidão? Agradeço respostas...

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