...e de repente as coisas deram em acontecer à velocidade da luz. Como por acaso sentei-me perante o computador e comecei a escrever um poema que se revelou naquilo a que aspirava desde tempo e tempo. Subitamente descobri o Mediterrâneo numa noite fugaz em que o céu e o mar calmo se confundiam com uma única parede negra -uma parede que escoava espumas na base - e fiquei maravilhado. Repentinamente reparei que havia alguém do outro lado do fio, que não estou só em sentido estrito, que o meu gato é a projecção astral de um espírito amável. E de repente, também, vi-me transportado aqui, comecei o trabalho e percebi de novo que desfrutar da vida neste fim-de-semana tinha sido o começo de uma recriminação injusta por não ter feito o que devia. Mais uma vez, o mundo em contra. Mais uma vez, eu contra o mundo. É uma reacção irracional - eu sei-o. Mas faz sentido! Fez sentido! Faz sentido!
Houve um silêncio.
Tudo se resumiu em frio.
Bateram nas entranhas do planeta
certas ausências,
cálculos decimais,
distâncias.
Partiu-se o gelo de tão frio
e houve
súbito um hesitar da consistência.
Vacilações cutâneas de mar em calma
abalaram o invólucro do ser.
A perfeição desfez-se.
E nada pode já recuperá-la.
Sossego.
Ser
sugado
sem
salamandras
sentido
sapos
seródios.
Só
ser
selvagem
sob
siso:
Solidão,
soldado
subterrâneo.