Cedo, o primeiro dia de agosto,
pego na minha cunca e dirijo-me à vila.
Nuvens de prata acompanham os meus passos,
uma brisa de ouro acaricia o sino do meu bastão.
Dez mil portas, mil cidades abertas para mim.
Deleito os meus olhos em bosques de bambu e bananeiras.
Mendigo cá e lá, ao leste e ao oeste,
parando também em lojas de saké e peixarias.
Uma olhada honesta pode desarmar uma montanha de espadas;
um passo calmo pode deslizar por cima do lume do inferno.
Esta foi a mensagem do Rei dos Mendigos
ensinada aos seus principais discípulos há por volta de vinte e sete séculos.
E eu ainda me comporto como um descendente de Buda!
Um tipo sábio disse uma vez há tempo:
'Quanto à comida, tudo é igual perante a Lei de Buda'.
Mantém essas palavras na cabeça
passem as eras que passarem.
(Ryôkan)
Hei de ir lá ter hoje.
É amanhã que as ameixeiras
espalham as flores.
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Canta um rouxinol
que me traz de volta ao dia.
A manhã fulgura.
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Tenho um só desejo:
sob a flor da cerejeira
dormir uma noite.
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A aldeia no monte.
E totalmente a engolem
as rãs que coaxam.
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Primeira garoa
do outono. Que deliciosa
montanha sem nome!
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Passou o ladrão
e esqueceu roubar essa
lua da janela
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Agulhas de pino
atrás da porta fechada.
Sinto-me tão só...
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Estão a chamar-me,
voltando de noite a casa,
os gansos selvagens
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É o meu corpo velho
como este bambu enterrado
na neve fria.
(Ryôkan)
Um vento do leste trouxe a chuva necessária
que chorrou toda noite pelo telhado de colmo;
entretanto, a ermida dormitava aprazivelmente
imperturbada pela flutuante agitação do mundo.
Ao amanhecer, as montanhas verdes tomam banho
e os passarinhos da primavera cantam nas suas ramas.
Com pouca determinação, atravesso a porta -
riachos improvisados correm para vilas distantes,
maravilhosas flores decoram as ladeiras.
Descubro um lavrador a dirigir um boi
e um rapaz a levar uma enxada.
Os humanos têm de trabalhar em todas as estações, da noite ao dia.
Eu sou o único que não tem nada a fazer
aferrado com força à minha terra natal.
(Ryôkan)