As eleições

Passo a tarde a ler e reler as mesmas notícias nos meios galegos com presença em internet, à procura de novas que me falem da jornada eleitoral. Não falam. Repitem dados de participação que não fazem mais que preocupar-me. Denúncias de carretagem aos de sempre, denúncias a um apoderado do BNG por gravar o presidente da câmara de Vilamartim de Vale de Orras carretando votantes. 25% do censo eleitoral votou na província de Ourense já ao meio dia. Baltar ou Quintana? Que pergunta idiota. Espero mordendo as unhas mais novidades. Às 19:30 combinei para ver a actuação de Rubém, que disque vai fazer referência à eleições galegas. O café largo, a oferta, um bocado rasca, de café teatro do seu bar. Depois eu e o Gus teremos liberdade para fazer o que quisermos no bar, com televisão e dvd para ir vendo os resultados e projectar HQB, tentando dar uma perspectiva de que aconece e porque ou apesar de que. Mordo as unhas e os dedos, porque já não restam unhas. Pode ser a mudança definitiva. Pode ser o insucesso definitivo. Repito-lhe a Bàrbara que se o PP volta a ganhar as eleições com maioria absoluta será a prova de que o único que nos resta é a metralheta. Desvario e eu bem sei, mas são os nervos. Bàrbara olha-me com cara de não perceber nada. Tenta animar-me falando noutras coisas, mas sou incapaz de falar do que quer que seja. À parte as eleições, é claro. A ela pouco lhe importa o que aconteça. Preocupa-se por mim, e agradeço, mas não consegue. Clico no atalho do Firefox para vir aos blogues agal-gz, a ver se alguém escreveu alguma coisa. O coração lateja ao ritmo da "Absenta" de Liorna, quer dizer, muito rápido. Não há novidades também nos blogues. Só faltava que me desse a mim o enfarte em lugar de a Fraga, como estive a dizer estes dias. Começo a escrever esta entrada: primeiro a minha procura na internet, depois o que vou fazer, depois o que faço agora, Bàrbara e acabo. Sorrio para o ecrã. Saúde.

uma improvisação

e de súbito perceber que estava lá
mesmo ao pé da palavra certa
onde as melodias do tempo se estancaram
e nunca um sábio chegou para dizer Eureka

descobri-lo de súbito e de novo
no canto escondido da esperança e a surpresa
gritando a mares para ser ouvido
e virar píxel ou dado
facto não anunciado carne e osso lume
estalo súbido da madeira à noite
porque chegou o dia antes do dia agora
e eu volto ao lar para escrever de novo

Distância - 6

Um dia o emigrado volta à terra e descobre assombrado que tudo continuou sem ele. É uma constatação um tanto absurda, como sacar a mão pela janela para sentir o contacto da chuva que se vê cair. Mas neste caso o contacto húmido da gota contra a palma faz acordar a vontade de ser um próprio água, virar chuva, voltar a ser parte do meio. Uma simples questão de perspectiva, porque o lugar sempre será o lugar, apesar do nosso sentido de pertença, e apesar de não podermos imaginá-lo sem nós, pela simples razão de que nunca o vimos assim. O observador que condiciona o objecto observado. O velho enigma da árvore que cai no meio do nada, sem que ninguém o veja ou ouça, mas cai, claro que cai. E nós que a vimos crescer, que talvez a regamos e adubamos, que pusemos nela a esperança de um dia ter a sua sombra, perguntamo-nos então como pôde ter caído sem nós. Sabemos mas perguntamo-nos só quando o vemos. Como sendo informados sobre a morte de alguém, sabemos -claro que sabemos -, mas a sombra da morte só nos cai em cima quando vemos o seu corpo inânime de olhos fechados. O retorno do emigrante é isso. Só que é a nossa própria vida a que jaze no caixão e são os nossos olhos os que estiveram fechados. É difícil ficar indiferente, muito mais fácil negar a realidade, culpar a terra. Num país de emigrados e retornados como o nosso devíamos sabê-lo. Seguramente saibamos. E porém, eis-me mais uma vez perante a evidência, surpreendido em flagrante. Pampo.

<< 1 ... 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 ... 47 >>