Distância - 3

Não sei que força ou corrente me impulsa a assomar-me a esta janela agora. Olá, Galiza! Olá! Existe alguém nesse recanto do mundo? Há apenas uma semana que lá estive, e já nem lembro. É assutador como o quotidiano consegue trazer-me a Alacant. Ou foi um carro? Ou fui eu que trouxe Alacant ou o quotidiano? Pouco importa. Estou aqui. Assomado à janela, como sempre. Tenho o corpo no interior do quotidianto, e a cabeça do outro lado, mais uma vez. Eeeeeoooo! Só espero não cair. Seria terrível esmagar a cabeça precisamente com a Terra. Esse é o meu único temor agora: que a Terra me caia sobre a cabeça. Como os gloriosos gauleses. Pedras milenárias e um par de asas por cima das orelhas. Engraçado. Eis-me a mil quilómetros de uma vida perfeita a pensar em gauleses. Antes estava a mil euros mensais da mesma vida. E é que há distâncias e distâncias. E, a verdade, já não sei qual prefiro.

Caminho espiritual

...O meu coração é um sapo que engole as fases da lua...

Apenas um tacho

Estou sem espaço
Estou sem oco.
Estou sem eco.
Estou sem resposta.
Estou sem repercusão.
Estou sem percusão.
Estou sem bateria.
Estou sem covertura.
Estou sem covertores.
Estou sem lençóis.
Estou sem telas.
Estou sem movimentos.
Estou sem terramotos.
- Estou sem movimentos telúricos. -
Porém queria...
Uma erupção volcânica qualquer...
Lume para esquentar um tacho em que me evapore.

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