Quarto de lótus III

na ausência de dores
respirar foi apenas ignorar-me inteiro

contei respirações
cumpri esses ciclos
e depois balancei-me levemente
procurando um centro

no movimento oscilante embalou-se o ego
e levantou-me de mim antes do tempo

Quarto de lótus II

da dor surda ao formigueiro
passa o lume que arrasa toda a vida
e me mantém fixado no momento

passam respirações
ficam as dores

o vento aviva o fogo posto
no calcanhar que treme

o fole intensifica em força a pedra
que me transforma em vento

e ardendo o coração lateja

Quarto de lótus

Uma agulha pequenina
espetada no tornozelo
fia este corpo no ar
como um bloco de concreto

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