A linhagem dos Budas enraíza nos seus condicionantes, o ensinamento dos Budas surge de iniciar o caminho. Uma vez que encontre boas condições, não deve deixá-las, e deve cultivar a prática. Na prática encontrará aceitação e rejeição.
Estando aqui, não deve tropeçar com o passado, deve encontrar o Caminho. Na busca do Caminho há prática, há esforço; se um dia atravessar o Caminho, todas as coisas serão completas, mas enquanto não o atravessar, todas as coisas estarão erradas.
Uma vez houve certo monge na sangha de um dos mestres clássicos, que estava a servir como superintendente no mosteiro.
Um dia o mestre perguntou-lhe: "Há quanto tempo estás aqui?"
O monge respondeu "Até agora três anos". O Mestre Zen perguntou de volta "És novo. Porque é que nunca fazes perguntas sobre os Ensinamentos?". O monge respondeu: "Não me atreveria a enganar-te: já consegui entender quando estive a servir outro mestre zen".
O Mestre Zen disse então "Por meio de que palavras o conseguiste?". O monge disse "Uma vez perguntei ao mestre 'Qual é a verdadeira natureza de quem estuda?'. O mestre disse-me 'O deus do lume vem procurando lume'".
Ao ouvir esta história, o Mestre Zen notou: "Essa é uma boa frase, mas receio que você não entendeu".
O monge disse: "O deus do lume é a natureza do lume; procurar lume com lume é como procurar o vazio com o vazio".
O Mestre Zen retorquiu: "Realmente você não entendeu. Se o Buda-dharma fosse dessa maneira, nunca teria chegado ao presente".
O monge foi-se embora cheio de raiva, mas enquanto saía pensou: "Este mestre tem mais de quinhentos discípulos. Deve de ter algo de razão na sua advertência de eu estar errado".
Assim, foi de volta para o Mestre Zen e desculpou-se. O mestre recomendou-lhe: "Faz-me a pergunta", e o monge perguntou: "Qual é a verdadeira natureza de quem estuda?". O mestre disse: "O deus do lume vem procurando lume!". Perante isto, o monge obteve uma grande iluminação.
Antes tinha sido "O deus do lume procurando lume" e depois também foi "O deus do lume procurando lume". Porquê a primeira vez caiu na compreensão inteletual, em lugar de ser iluminado? Porquê foi grandemente iluminado depois, abandonando o seu ninho de clichés?
Querem entender?
[Silêncio]
(Dôgen Zenji)
Quando eu era um rapaz
borboleteava pela cidade como uma lâmina alegre,
vestia a suavidade do entardecer como uma capa
e montava um esplêndido cavalo zaino.
Durante o dia, galopava à cidade.
À noite, embebedava-me sobre as pétalas de pessegueiro ao pé do rio.
Nunca me preocupou voltar a casa, e muitas vezes
acabei com um grande sorriso no pavilhão do prazer.
(Ryôkan)
É pena um homem nobre a compor poemas em seu retiro refinado.
Modela o seu trabalho segundo os versos clássicos da China,
e os seus poemas são elegantes, cheios de frases preciosas.
Mas se não escrever de coisas do fundo do seu próprio coração,
de que serve atirar para fora tantas palavras?
(Ryôkan)