Quando os pensamentos estão exaustos...
Quando os pensamentos estão exaustos...

Quando todos os pensamentos
estão exaustos,
adentro-me no bosque
e colho
um monte de prémios de pastor.

Como o pequeno riacho
faz o seu caminho
entre as fendas musgosas
também eu, em silêncio,
me torno claro e transparente.

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Orquídea

No fundo do vale, esconde-se uma beleza:
serena, sem igual, incomparavelmente doce.
Na sombra calma da moita de bambu,
parece que suspira pelo amante.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA. O título é meu.

(Ryôkan)

Montanha Fria
Montanha Fria

À noite, no fundo das montanhas,
sento-me em zazen.
Os assuntos dos homens nunca chegam aqui:
tudo é tranquilo e vazio,
e o incenso já foi engolido pela noite sem fim.
O meu kesa tornou-se uma tela de orvalho.
Incapaz de dormir, saio a caminhar entre as árvores -
subitamente, por cima do pico mais alto, aparece a lua cheia.

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Na minha hermita, um volume dos Poemas da Montanha Fria -
é melhor do que qualquer sutra.
Copio os seus versos e penduro-os á volta
saboreando cada um, uma e outra vez.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA. O título é meu.

(Ryôkan)

Dois poemas para o meu amigo Bôsai
Dois poemas para o meu amigo Bôsai

Pois é, sou realmente um asno
que mora entre árvores e plantas.
Não me perguntem sobre as ilusões e a iluminação -
este velhote só gosta de sorrir para si próprio.
Vagueio pelos riachos com as minhas pernas ossudas,
e levo comigo uma sacola no bom tempo da primavera.
Essa é a minha vida,
e o mundo nada me deve.

A beleza chiante deste mundo nada me diz -
os meus amigos mais próximos são as montanhas e o rios,
as nuvens engolem a minha sombra segundo vou passando.
Quando me sento nos penhascos, os pássaros pairam sobre a cabeça.
Calçando chinelos de palha para a neve, visito aldeias frias.
Vai tão fundo quanto puderes na vida,
e poderás esquecer-te até das flores.

* * * * * *

Um trilho solitário entre dez mil árvores,
um vale nevoento entre mil cimeiras.
Ainda não é outono, mas as folhas já estão a cair.
Por enquanto não chove, mas na mesma as rochas escurecem-se.
Com o meu cesto, procuro cogumelos;
com o meu balde, vou procurar água pura da nascente.
Se não te perderes de propósito,
nunca vais chegar tão longe.

Subo ao Corredor da Grande Compaixão
e olho para as nuvens e o nevoeiro.
Árvores antigas estiram-se para o céu,
e a brisa fresca fala de dez mil gerações.
Por baixo, a Nascente do Rei Dragão -
tão pura que podes ver o seu princípio.
Às pessoas que passam, grito
'Venham! Venham ver-se refletidos na água!'.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA. Ilustração de Kameda Bôsai no livro de pintura literária Kyochusai - (Montanhas do Coração)

(Ryôkan)

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