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Lisboa, portanto

Cheguei. Cheguei ontem, na verdade, mas é só agora que começo a escrever. Dez horas de viagem na ida, por volta das onze para a volta. Alacant está longe, fica demonstrado. Digo-o como um absoluto, apesar de estar a escrever desta cidade, e repito para ser mais específico: Alacant está longe: de mim.

À parte isso, reparei de novo como eu adoro Lisboa. Normalmente, sempre me entra um sei-lá-o-quê quando leio ou ouço um reintegracionista falar de Lisboa. Tenho um certo medo aos tópicos, a dizer verdade, e Lisboa é dos grandes. Mas estive lá e vivi mais uns dias as ruas velhas, os prédios de inícios de século. Para um espanhol pode ser simplesmente a imagem de um país mais pobre do que o seu. Para mim não pode ser outra coisa que um cidade que conserva a sua história, que a vive. Não a história de grandes monumentos, mas a história do fervilhar de milhares de pessoas em cada um dos cantinhos, edificações, habitáculos. O residencial onde estivemos a dormir a Bàrbara e eu, por exemplo, conservava interfones de deus sabe quanto tempo: uma espécie de trombetinhas coladas à parede com, suponho, canalizações que subiam até cada um dos andares. Lá estava a vida de alguém que falou por eles há tempo para chamar os amigos para ir de excursão à Serra da Estrela ou Sintra; ou a namorada, cheio de nervos, para passear de mãos dadas num entardecer outonal liboeta; ou simplesmente o amigo da criança que queria jogar a bola no largo ao lado com o seu fato de calças curtas.

Os interfones. Reparei neles enquanto nos beijávamos e algo nos impedia encostar-nos à parede. Essa cena tórrida da última noite, em que tudo pede sexo, tão difícil verbalizar o adeus e a despedida. E essa antiguidade da cidade que se me resume agora na palavra cinzento (por não dizer outono, folhas a cair, pôr-do-sol, Lisboa...) deu luz além do corpo à tristeza dos dois corpos, quase dois corpos, um corpo ou apenas partes em fricção. E tudo era unidade, Lisboa e corpos. E algo ficou colado, e trouxe algo de Lisboa aqui no peito (o colar que a Bárbara me deu?) que me permite ainda respirar essa luz baça e sentir-me ainda, mesmo que seja pouquinho, em casa.

13- 10 - 2004, intimidades

1 comentário

Comentário from: José Miguel Agudo García [Visitante]
José Miguel Agudo García

Olá..!
Fico muito contente de saber que gostaste/gostas tanto de Lisboa…
Eu estive cá o ano (curso) todo quase, em julho-agosto fui pà minha terra, Granada.. e agora tou cá de novo pa terminar trámites erasmus, visitar gente, “terminar"(?!) de conhecer ou aproveitar Lisboa.., tentar ir a Coimbra, etc!
Olha, quero enviar cumprimentos a este grande galego, com um blog tão interessante e completo (que inveja! lol..), e com um português tão estupendo..
e uma pergunta: podes me comentar mais alguma coisa de Lisboa, ou algum dado ou ideia concreta..?
Tb tem uma grande parte q é mesmo o centro urbano e não tem esse ambiente especial.. não é?
Acho q a vivência da cidade depende muito de onde vivas e a gente com quem estejas… eu tive experiências muito chatas da “grã cidade".. tipo perguntar por um sítio e nem receber resposta, repetidamente, coisas um bcd tristonhas ou surrealistas…
Tens um sítio de comidas preferido? Algum lugar necessário e pouco conhecido?

Obrigado
Fica bem

06- 09 - 2006 @ 15:14