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Tanto por dizer...

Tanto por dizer. Difícil começar a escrever. Nada serve para expressar. Nada. Nem saberia por onde começar. Por dar alguma nova, que fico mais um ano em Alacant. Havia possibilidades, pensávamos, para que este ano voltasse para a Galiza. Mas não. Por dar alguma nova, mas nem saberia dizer se isso é realmente o que me pesa no peito. Demasiadas coisas.

Seguimento:

Num primeiro momento, perante a notícia de que fico, senti um grande alívio. Acabava a angústia da dúvida. Acabou. Todas as caras de todas as pessoas que me rodeiam nesta cidade, com uma certa pena ou desconcerto porque me ia, Bàrbara diante de todos, e saber que também para eles acaba. A alegria medida das pessoas a dizer que gostam de que fique. A sua olhada extranha, sem saber o que pensar dalguém que quer abandoná-los. Ou isso penso. A distância que me separa do mundo. A minha primeira alegria por tudo isso, mas a minha surpresa hoje, acordado à noite por mim próprio só para poder chorar em solidão. Fui à cozinha. Não sabia que acontecia. De verdade não sabia. Se estava feliz por ficar, a que vinha essa tristeza. Literalmente: a que vinha? E chegou o momento da psicanálise. As coisas que saem nos filmes: "tenho raiva contra o mundo porque...". E comecei a pensar entre lágrimas.

Lembrei o Rubém dizendo, "afinal ficas, alegro-me". E Bàrbara dizendo a brincar "como na Galiza não o querem, fica por cá". A brincar ou nem tanto, talvez seja isso mesmo que sinto, sem ser o que penso em absoluto.

Há pessoas que me querem por cá, mas acho que não há pessoas que me queiram ouvir quando choro. Por isso acordo à noite e vou para a cozinha. A conversa com Bàrbara sobre a sua amiga Luísa: "É muito importante para mim, porque, agora mesmo, se tivesse um problema contigo, sei que posso falar com ela". Bonita forma de deixar cair que taqlvez tenha um problema comigo. E eu a constatar, ainda por cima, que não tenho nada parecido. Aqui não. Lá. Lá falaria com qualquer extranho e sentir-me-ia compreendido. Talvez até esteja a fazê-lo agora mesmo. Ou a tentar. Que não poderia falar com os amigos de verdade, que tenho e quero.

Mas não tenho nada parecido aqui. Lá. Lá há quem entenda o meu sentido do humor. Aqui tento e tento, mas tenho de contar anedotas para ouvir as risas. Tenho a impressão que as pessoas só interagem com pensamentos prefrabricados. Mesmo as mais inteligentes e interessantes. Uma ironia. Pego no "Atalaya", órgão de expressão das Testemunhas de Jeová, e digo que é interessante, apenas por dar uma risada analisando os conteúdos. Mas a minha cara não é de anedota (serei eu?), porque tento ser realmente irónico. Sempre me perderam as pausas dramáticas, que me saem sós (realmente, serei eu?). E antes de continuar a falar, para acabar a piada, tenho um aluvião de razonamentos contrários à ideia que tinha libertado como isca. Já não posso falar, porque não me deixam. Quando o interlocutor se cansa, eu também estou cansado. Balbucio que já sabia tudo o que me disse, mas tenho já tão pouco interesse em concordar com ele que o digo quase sem vontade, e fico com a impressão que, afinal, ele pensa que eu falava a sério.

Que ridículo: eu testemunha de jeová. Sinto-me antes como um personagem qualquer de Dostoiewsky. Um qualquer dos seus protagonistas, com essa sensação de incomprensão pelos pequenos detalhes. Essa angústia absurda de razonar as minudências e converti-las em mundos ou distância. A distância. Grandíssima puta.

25-09-2005, intimidades

4 comentários

Comentário de: Valentim [Visitante]
Valentim

Eu sou uma das pessoas que na Galiza acalentava a ideia de o Eugénio voltar. E fui também quem durate todo o Verão o convenceu de que tava feito… mas afinal não foi e fiquei mesmo triste. Entendo as pessoas que em Alacante gostam de ele ficar aí mas… como o posso dizer, é como
ter um pardal encerrado. A priori podemos voar em qualquer parte do mundo mas o certo é que as maioria das pessoas alcançamos maiores alturas em um ou noutro lugar. O espaço não é indiferente. E os espaço do Eugénio é a Galiza.

26-09-2005 @ 12:46
Comentário de: eugeniote [Membro]  

Caro Valentão, é mesmo assim. A Galiza é o meu lugar, o meu espaço, a minha casa. Tudo isso e mais. Porque aí há gente como tu, como o Pichel, como o Miguel Penas, como o Vítor, como tantos e tantas. Ora, ficaria muito mais triste se pensasse que também ficas tu triste. Agradeço-te imenso a preocupação, como agradeço muitíssimo a preocupação de todo o verão por ver se voltava ou não. Mas fica bem, que eu também não fico mal. Tive a minha crise, como já tive em anos anteriores, e talvez volte a ter alguma, mas entre crise e crise também posso tentar ser feliz por aqui, e aproveitar a estadia. Darei notícia desse aproveitamento. Saúde.

28-09-2005 @ 13:41
Comentário de: José Ramom Pichel [Visitante]
José Ramom Pichel

Foi um auténtico descobrimento o texto teu, que bem escreves cabrão!, e que cousas tão lindas em formato grágea para padales, uma boa comida. O teu lugar é com certeça cá, mas o lugar no fundo são faces, e dornas, um pindo, um pingo, uma careta, um copo, um texto, uma carragem cartafoleira, e cá aguardam por uma nova tentativa. Sem présas. um beijinho enorme.

04-10-2005 @ 11:25
Comentário de: Vítor [Visitante]
Vítor

Sorri amigo Eugénio, embora chorar não faz mal.

Um abração do tamanho do mundo.

29-10-2005 @ 01:03