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Desquiciado

Seguimento:

É definitivo. Não há dúvida. Estou já oficialmente desquiciado. Nos últimos dias estou a plantejar-me seriamente ver um psicanalista. Os meus câmbios de humor têm-me preocupado. Estou hipersensível, e isso que já sempre fui muito sensível, e Bàrbara também não anda muito bem comigo por causa disto. Ontem discutimos por primeira vez na nossa relação. Mais uma vez nos últimos dias, acabei chorando. Deve de ser muito difícil para ela ter que suportar-me nestas circunstâncias. Sem dúvida, também não é fácil para mim. Tenho a impressão que, perante a minha iminente fugida para a Galiza, ela se fez à ideia de não ter-me. Vai um dia sim outro também a ver os seus colegas, a falar as suas coisas, e evidentemente não é lugar para mim. Precisa o seu espaço e evidentemente não quero negar-lho. Mas na mesma eu estou só, sinto-me desamparado, e preciso dela mais do que nunca. Numa situação normal, não haveria nada em seu comportamento que pudesse recriminar-lhe. Mas ontem não aguentei. Realmente não posso recriminar-lhe nada, mas na mesma recriminei, porque estou mal. Esse abismo entre razão e sentimento: um clássico. Deixou-me no Escaparate e foi ver os seus colegas. Tentando sobrepor-me a toda a minha tristeza, falei e tentei fazer-me um espaço. Horas depois chegou ela de novo, e o espaço construído desapareceu de súbito. Como vou negar-lhe que esteja com esses amigos, que são tanto dela como meus? Aferro-me à razão. Não quero ser injusto. E entretanto vou engolindo a merda toda de não ter o meu espaço. Vou enchendo-me de angústia. Vou caindo mais e mais baixo. E quando chego à casa, depois dos meus cinco copos de cerveja a estômago vazio, solto tudo como um estouro. Não estou zangado com ela, ou talvez sim, mas sei que não tenho razão para está-lo. E essa esquizofrenia faz-me chorar de novo, multiplica a mina raiva, que é contra mim, sei que é contra mim, mas estoura em todas as direcções e atinge-a a ela, que se zanga e eu compreendo que se zangue. Sou consciente que fui injusto, e tudo volta outra vez sobre mim próprio. Compreendo demasiado bem o seu ponto de vista. Só parece que não compreendo o meu. Pelo menos, não lhe vejo saída. Bàrbara propôs-me, enquanto eu chorava, que não viria tanto ao Escaparate. Acho injusto. Sempre lhe disse que não queria que renunciasse a nada por mim. Qualquer ano destes ainda vai resultar que vou de verdade para a Galiza, e então quê. E entretanto vou vendo o meu espaço reduzido. Um clássico, já disse. Um clássico, pelo menos para mim.

30-09-2005, intimidades

2 comentários

Comentário de: José Ramom Pichel [Visitante]
José Ramom Pichel

Possível terapia (I)
Surrealista

you are welcome to elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny

04-10-2005 @ 11:29
Comentário de: José Ramom Pichel [Visitante]
José Ramom Pichel

Possível terapia (II)
Julio Kortatar

Equilibrio

Estaba tan borracho
en la barra del bar
Estaba muy colgado
y solo hacias que mirar,
Te acercaste, me invitaste a cenar.
Todo lo que hice fue escucharte y
Vomitar.
Estaba muy jodido y
privaba sin parar
Me diste una hostia.
Te habría querido matar
pero me caí para tras
me desperté en tu cama
y no recuerdo nada mas…
Si resisto, si resisto y sobrevivo
Es por tu luz.
Me llevaste a tu casa
yo enseguida a sobar
tu ya imaginarias que no iba a funcionar
Y ahora en la cabeza que resaca de verdad.
Tu mosqueo de la noche no para de retumbar…

“Deja de beber tanta cerveza y lucha"…

Té pasas todo el día en
la barra del bar
aunque este todo perdido
Siempre queda molestar.
Si resisto, si resisto y sobrevivo
Es por tu luz.

04-10-2005 @ 11:33