O fado é um tango maricas. Ou ao contrário: o tango é um fado machão.
O fado, o tango, o samba e o blues têm todos, a mesma inequívoca raíz: negra. Alguns historiadores da música têm outra opinião sobre a origem do fado, Ramos Tinhorão põe o seu nascimento entre os portos do Rio de Janeiro e Lisboa. Mas é em Lisboa, certamente, que ele, o fado, finca os seus pés. Os três são músicas de sofrimento, e o sofrimento é humano, nem gay nem machão, somente humano.
Meu caro Óscar, espero que tu (e tantas outras pessoas) não te tenhas incomodado com os ex-abruptos culturais “maricas” e “machão". O que tentava era reflectir de forma explícita sobre a forma de encarar o sofrimento, com efeito, humano. Tentava entender que há diferenças estilísticas entre um género e outro que estão a reflectir, na verdade, realidades de carácter, e quase estou por dizer filosóficas. E claro que a escolha das palavras não é inocente. Mas parece-me que de certa maneira me vem dado pela própria imagem (que é, em definitivo, a essência), destes dois géneros. Não é por acaso que a grande voz do Tango é um homem (Carlos Gardel), enquanto do Fado é uma mulher (a Amália).
Em qualquer caso, cá está a minha desculpa. O que queria dizer, em definitivo, é que não sei como expressá-lo melhor.
Caro Eugénio, nem foi a minha intenção qualquer correcção política. Mas reconheço que sou um bocado iconoclasta e “destruir” imagens, sejam elas de que suporte forem (escrita, iconográfica ou sonora)é um dos meus vícios nem sempre admitidos. É claro que as palavras são vicioasas. Mas também é da sua natureza serem elas, polissémicas. No entanto, às vezes, o “zoon politikon” que existe em mim se irrita e faz com que eu perca o meu senso de humor. Não precisavas te explicar, amigo, entendi perfeitamente. Abração… e continua na tua escrita!