A pirâmide

Vejo através da janela da minha casa e vejo obras por toda a parte. Ao lado do meu piso estão a construir uma escola privada que - sai hoje no jornal ? não tem licença municipal para ser construída, mas querem, mesmo assim, abrir no ano que vem para poder competir com o colégio público que abrirá daqui a dois anos a duas quadras daqui. O turismo, soube há pouco, não traz assim tanto dinheiro a Alacant como se pensa. Há povos, como Torrevella, Santa Pola ou Benidorm, em que directamente os turistas são residentes, quer dizer, compraram a sua casinha e não têm que pagar nada por aluguer de vivenda. Também abriram os seus negócios, com preços do estrangeiro, e a gente que antes vivia nesses locais não pode fazer as compras neles, porque não lhes dá o ordenado. Nem sequer pagam impostos, os turistas, e tem de ser o estado, quer dizer, nós, quem pague as infra-estruturas que eles precisam: estradas, caminhos, chafarizes, bueiros, recolhida de lixo, etc. No meu prédio mais do 70% dos pisos estão vazios durante o ano, e mesmo assim, da minha casa vejo um formigueiro de operários a construir vivendas, não hotéis nem estalagens. Quem vai comprá-los? Para todos esses operários, ou outros da sua classe ou poder aquisitivo, as possibilidades de melhora passam por comprá-los e alugá-los a turistas (caso ?optimista de mim- de terem já habitação própria). Entretanto, é de esperar que os turistas também queiram comprar, contando para isso com seu poder aquisitivo, maior quase sempre que o daqui. Em consequência, muito possivelmente subam os preços, e o operário terá que trabalhar mais para poder pagar e começar a ganhar algo com essa ?riqueza? que se lhe vende e a que chamam turismo. Para isso, terá que continuar a construir mais prédios, que o construtor acabará, por sua parte, por vender também, e a quem?

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Armário

O coração é como um armário. É necessário de quando em quando tirar tudo o que há dentro e só depois voltar a metê-lo, colocando cada coisa em seu lugar. No processo talvez se dêem algumas surpresas, como achar o par de meias sem usar que havia tanto tempo que não víamos ou aquele t-shit que, de tão velho, perdeu a cor, não o desenho.

Optimismo

A garrafa está meio cheia. A saca do lixo meio vazia.

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