Volto a casa depois de um magnífico concerto de Lluis Llach - depois, também, de mais um desconcerto com Bàrbara que já nem vale a pena narrar - pensando, pensando, voltado para dentro, nalgum lugar dos intestinos mais grossos, feito uma merda para que se entenda. Já o Congro me tinha dito há tempos, já me tinha advertido que ela era demasiado jovem, que me faria dano quisesse ela ou não, que já lhe tinha passado a ele, que fosse com cuidado. E eu a pensar daquela que nem tudo o que acontece a um tem que acontecer a outro, que voltar-se na vida sentimental de outrem com as experiências de um próprio não passa de uma analogia, e não uma lei, mas a pensar agora que as analogias acabam por dar certo, que se calhar foi por isso que dei em ser poeta. E Bàrbara a telefonar-me no meio do concerto porque eu lhe tinha dito que tinha de falar com ela, eu a dizer-lhe ao telefone que não podia continuar assim, a deixar entrever que pedia uma temporada de distanciamento, e então Lluis Llach a cantar Que tinguem sort, e as palavras que já não podem sair da minha gorja, e as analogias que voltam a dar certo, e as palavras de um autor que não conheço num blogue que sim conheço, a dar certo também, as palavras que imagino perfeitamente na pena de Fernando Pessoa imediatamente depois de Ofélia de Queiroz com calcinhas cor-de-rosa, as palavras a retumbar no interior do meu cérebro: o amor não me salvará, o amor não me salvará, o amor não me salvará. O amor não me salvará - a poesia é o meu único abrigo.
Mas onde está? Porque a deixei esquecida entre vírgulas e conjunções copulativas?
A última entrada do blogue, como foi dito em comentários, foi inspirada por um texto de Joan Fuster do seu Dicionari Per a Ociosos. Estive ontem a fazer a tradução do texto em questão, e disponibilizo-o agora em formato .pdf para fazer a descarga. É só clicar aqui.
Os sentimentos, quanto que universais, são amorfos, mas quanto que individuais (e portanto reais), são culturais, como demonstra o facto de existir uma aparendizagem emocional. A cultura, é claro, é um cojunto de formas, e as formas psicológicas, também é claro, distribuem-se socialmente segundo as regras do mercado, mas ao contrário. E isto é o que há, por mais que exista espaço para manobras.