Eihei Kôroku 5
Eihei Kôroku 5

Em tempos antigos, um homem que estava no topo de uma torre viu passar dois monges precedidos de dois deuses varrendo e semeando de flores o caminho por onde iam a passar.

Depois, quando os monges voltaram, havia dois demónios a gritar e cuspir, apagando as suas pisadas.

O homem desceu da torre e perguntou aos monges porque é que acontecia isso.

Os monges disseram: "Quando fomos, discutíamos sobre os princípios ensinados pelo Buda; quando voltámos falávamos de coisas triviais. Essa deve de ser a razão do fenómeno".

Os dois monges foram iluminados por este facto, arrependeram-se e foram-se embora.

Ainda que isto é uma objetivação grosseira, quando a examinas com cuidado reparas que é um assunto da maior importância para as pessoas que estudam a Via. Porquê? Simplesmente porque lá fora os objectos aparecem quando surgem pensamentos emotivos. Se os pensamentos não se formarem, não são objectos apreensíveis.

No caso desta velha estória, os deuses encontraram um caminho sobre o que deitar flores, e os demónios acharam um caminho que espezinhar: por isso as coisas aconteceram dessa maneira. Mas que acontece quando os deuses não acham um caminho sobre o que deitar flores e os demónios não acham um caminho que espiar?

Querem perceber? Estou para dizer agora o que ainda não tinha sido dito pelas gerações anteriores.

Os Budas não aparecem no mundo em virtude de experiências meditativas, poderes, ou conhecimentos ocultos. Simples pessoas ordinárias, mas com sabedoria, também realizam estas meditações, ainda que não se apercebam da sua pureza sem contaminação. Se o iluminado lhes explicasse, eles também realizariam a não-contaminação.

Tradução do inglês a partir do trabalho de Thomas Cleary. Rational Zen - The Mind of Dôgen Zenji, Shambala Dragon Editions, 1992, USA..

(Dôgen Zenji)

Eihei Kôroku 4
Eihei Kôroku 4

A iluminação suprema não é para um próprio nem para os demais, nem para ganhar fama nem dinheiro. Procurar apesar disso a iluminação incomparável, com todo o coração e a mente, perseverando e sem dar passos atrás é chamado 'despertar a mente para a iluminação'.

Uma vez que consegues que apareça esta mente, nem sequer por amor à iluminação é que procuras a iluminação. Esta é a verdadeira mente do despertar. Sem esta mente, como poderás praticar o verdadeiro caminho à iluminação?

Aqueles que procuram a iluminação com decisão não devem cansar-se nesta busca; não devem abandonar. Aqueles que não conseguiram a mente do despertar têm de rezar aos Budas passados, e dedicar as suas boas ações à procura da mente do despertar.

Alguém perguntou uma vez a um grande mestre Zen: 'Todas as coisas voltam ao Um. Para onde volta o um?'.

Então o mestre Zen disse: 'Quando eu vivia em tal e qual lugar, fiz uma camisa que pesava três Quilos'.

Assim é que falavam os antigos iluminados. Se alguém me perguntasse 'Todas as coisas voltam ao Um. Para onde volta o um?' eu diria que à transcendência.

Se me perguntassem porque digo isso, diria que eu estou dentro, fazendo oferendas a biliões de Budas.

Tradução do inglês a partir do trabalho de Thomas Cleary. Rational Zen - The Mind of Dôgen Zenji, Shambala Dragon Editions, 1992, USA. Fotografia de National Geografic.

(Dôgen Zenji)

Eihei Kôroku 3
Eihei Kôroku 3

Um praticante perguntou ao mestre zen: 'Em que estás a pensar tão intensamente?'

O mestre respondeu: 'Penso naquilo que não pode ser pensado'.

O praticante perguntou: 'Como podes pensar no que não pode ser pensado?'.

O mestre respondeu: 'Não o penso'.

Quando a mente já se foi
dizer 'sem mente' não consegue descrevê-lo.
Nesta vida
a pureza sempre vai por diante.

Tradução do inglês a partir do trabalho de Thomas Cleary. Rational Zen - The Mind of Dôgen Zenji, Shambala Dragon Editions, 1992, USA. Ilustração de John Daido Loori Roshi.

(Dôgen Zenji)

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